15 - Batalha dos Reinos (parte 1)

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"Ele temia que tudo aquilo fosse realidade, embora temesse muito mais que não passasse de um sonho. Seria um pesadelo acordar com os pés no chão"

(A Poesia dos Desafetos, página 59)

Era um daqueles dias em que Téo, sem saber como, se encontrava fantasiado de duende enquanto um rei, uma fada da luz e uma dama de ferro riam do tiro na bunda que ele havia acabado de levar. Ok, esses dias podiam não acontecer com tanta frequência, mas eles aconteciam.

- Espera. Eu nem tomei um porre ontem, mas estou me sentindo como se tivesse feito exatamente isso. Me explica de novo.

- É uma LARP – Téo disse, mesmo sabendo que Vic não iria entender - É uma mistura de festa à fantasia com um jogo de RPG. Todos nós assumimos um personagem, nos vestimos como ele e participamos de alguma aventura juntos.

- Você jura que, se eu jogar isso num site de buscas, vou encontrar resultados?

- Vai. Esse tipo de evento não é muito difundido no Brasil, mas existe. E é exatamente num desses que estamos indo – Esperou Victória sair correndo e nunca mais olhar na cara dele, porém isso não aconteceu – Eu sei, é meio louco.

Quando Arthur disse que queria reunir os amigos para comemorar o sucesso de Mel com a Hashtag, Téo deveria ter previsto isso. Quando contou do passeio em grupo para Vic, porque era fundamental que ela o acompanhasse, ela se animou pensando numa balada, num parque de diversões ou num jantar para casais. Mas existiam mais coisas entre o céu e a terra do que Vic poderia imaginar.

Uma dessas coisas era uma Live Action Role Play de Batalhas dos Reinos IV acontecendo debaixo do nariz de todos eles, num bairro vizinho. Era uma festa secreta e Arthur obviamente iria participar.

Cada vez mais Téo agradecia por Victória ser uma namorada postiça e totalmente perfeita. Uma quase perfeita não daria conta do recado. A Garota Certa, nesse momento, estaria em casa escrevendo poesias num blog. Algumas até boas.

O Land Rover preto parou em frente à casa de Victória. O carro tinha o vidro enegrecido e se passava fácil por um carro de sequestrador, mas era só Arthur ostentando sua riqueza involuntariamente. O garoto pseudo oriental saiu de dentro do carro e cumprimentou Téo.

- Victória! – Vic se preparou para dar os casuais beijinhos no rosto, mas foi agarrada e quase erguida do chão pelo abraço de Arthur – Você vai adorar o evento!

- Ô – Téo disse, sem conseguir conter sua frustração.

- Não seja um bode chato hoje, Téo, vai ser ótimo. E, o melhor, vamos finalmente sair juntos – Ele se virou para Vic – Vamos nos dar bem, eu sinto, seremos melhores amigos antes do fim do dia. Bora, galera.

Ele retornou para o carro.

- Gente... Acho que nunca fiquei tão perto de uma pessoa rica - Vic disse para Téo.

Antes de entrarem no carro, Téo viu Sr. Nariz observando do portão de casa.

- Reunião de oração! - Mentiu e acenou.

Uma das principais regras da amizade era mostrar-se interessado nas coisas que eram importantes para os seus amigos. Respeitá-las, pelo menos. E era isso o que Téo estava fazendo indo participar de uma LARP. Veras, o assistente pessoal do pai de Arthur barra guarda-costas, estava dirigindo enquanto os quatro estavam bem acomodados no carro ridículo de tão luxuoso. Melodee não parava de falar sobre o estúdio.

- Eu acho que já assisti seu vídeo umas vinte vezes. Foi muito lindo naquela noite – Vic estava comentando dentro do carro – Você é uma superstar agora.

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