7 - Sua namorada é um arraso

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"É uma verdade universalmente conhecida que tudo pode acontecer num sábado à noite"

(A Poesia dos Desafetos, 133)

Arthur não estava em lugar algum.

A maioria dos artistas da noite eram da MPB ou pagodeiros. Victória e Téo tinham fingido dançar todo tipo de música. Depois da taquara rachada do axé, passaram pela Bossa Nova e pelo sertanejo universitário, embora a letra parecesse ser escrita por alguém do antigo primário. Pularam com um rock e boiaram legal num rap ininteligível. Alguns eram, de fato, muito bons. Outros, nem tanto.

Assim que o rapper desceu do palco, Téo viu Mel subir. A plateia aplaudiu automaticamente, embora Téo duvidasse que mais alguém, além dele, Arthur e os pais dela, a conhecesse.

- É a Mel – Téo disse para Victória – É a minha amiga – Entre uma música e outra, tinham trocado algumas palavras. Ela não era de todo desagradável, tanto que ele quase havia esquecido a proposta indecente. Havia sido bom ter companhia, uma vez que Arthur tinha desaparecido.

Uma Mel tímida apareceu no palco. A hippie defensora das causas ambientais tinha se mesclado ao estilo cantora teen de pop rock romântico. Parecia outra pessoa, mas ainda usava suas inseparáveis pulseiras.

- Humn... Boa noite? – Sua insegurança transformou o cumprimento numa pergunta. A plateia ficou em completo silêncio. Mel respirou fundo – Eu queria... – E foi interrompida pelo ruído da microfonia.

De seu lugar no meio da multidão, mesmo sabendo que Mel não o estava vendo, Téo tentou mandar força para ela silenciosamente. Sentia o braço de Victória colado no dele, os dois apertados. Não era nada especial, só um braço, da mesma forma que estava encostado na mulher à sua direita, praticamente encoxando o cara da frente e sendo encoxado por alguém atrás dele.

- Eu q-queria... – Mais microfonia, Mel ajeitou o microfone. Ela estava com o semblante fechado, tinha chorado? – Gente, isso é difícil.

A plateia continuava quieta, todos os olhos postados na menina insegura. Mel apertava o microfone e não abria a boca, estava travada. Ela era tímida, até aí nenhuma novidade, mas era como se tivesse cinco anos e estivesse encarando o bicho-papão.

- Você consegue, Melissa!

O resultado, num salão em silêncio, não poderia ser outro: Todas as cabeças se voltaram para a dona do grito, incluindo Mel e Téo.

Victória.

Téo olhou incrédulo para ela, que hesitou após ter percebido que tinha realmente gritado. Não dava para voltar atrás.

- Me-li-ssa! Me-lis-sa! Me-lis-sa! - Victória estava sozinha na multidão, cantando alto, batendo palmas no ritmo em que separava as sílabas.

- Mas o nome dela é Melodee! - Alguém sem rosto gritou.

- Me-lis... Oi? - Muitos riram - Não dava para adivinhar, né? - Victória não desistiu - Me-lo-dee! Me-lo-dee! Me-lo-dee!

De repente, lá perto do palco, uma outra voz se juntou ao coro. Me-lo-dee. Me-lo-dee. Me-lo-dee. Era Arthur. Quem mais? Então, Téo entrou na onda também.

Daí outra pessoa se juntou aos três, e mais outra, e outra, e outra. Era uma dúzia de pessoas gritando Me-lo-dee. Como uma corrente de eletricidade, o coro foi passando pelas pessoas como num fio condutor. Não demorou muito até todos estarem bradando o nome da garota atrapalhada e maravilhada no palco, enquanto batiam palmas freneticamente.

Melodee estava boquiaberta. Parecia querer rir e chorar ao mesmo tempo. Se Téo pudesse, teria subido no palco e oferecido um abraço. Apertou a mão de Victória, num gesto impulsivo, agradecendo pela faísca que ela acendeu no meio da multidão. Ele jamais teria feito algo dessa magnitude.

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