31 - Viva-voz

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"Será que tudo tem que acabar? Sabemos que a resposta é sim. Mas não vamos aceitá-la tão facilmente"

(A Poesia dos Desafetos, página 105)

- Você não falou com eles?! Não me diga que desistiu. Vic, você não...

- Ei! Relaxa - Vic segurou a mão de Téo e apertou - Ainda estou aqui e pretendo ficar.

- Foi mal - Téo Suspirou - Ainda não superei o que aconteceu hoje de manhã.

- Tudo para você é traumático.

- Não foi você quem teve que ouvir sertanejo gospel num carro com a Amanda, ok?

Era mesmo difícil superar quase ter perdido Victória por causa de imaturidade, tanto da parte dela quanto da dele. Téo estava mais focado na sua parcela de culpa. Se não tivessem dado o benefício da dúvida mutuamente, teriam perdido a chance de fazer o relacionamento acontecer. Téo foi atrás de Vic para compreendê-la e amá-la, sem saber no que ia dar. Vic desceu daquele ônibus cheia de indecisões. Ela não tinha comentado nada com ele, ainda estavam meio que pisando em ovos, mas ele sabia como era difícil mudar de opinião de uma forma drástica. Às vezes, a vida pedia uma meia volta.

Mas havia vezes que a vida gritava, esperneava e batia forte na cara exigindo um seguir em frente, e Vic não tinha falado com os pais.

- Eu vou falar. Eles nem perceberam que eu saí. Deitei, dormi de novo e acordei... Olhei para os dois, e o mundo parecia o mesmo. Não quis quebrar tudo.

- Mas...

- Mas eu vou - Ela o encarou com seus olhos penetrantes. Pareceu a Téo que ele estava começando a irritar.

- Tá, ok - Cedeu - Mas que agonia você aqui na minha cama quando deveria estar trancada dentro de casa, como você lida com isso?

- É mais fácil do que você imagina, só te falta prática. Te deixarei pronto em três meses.

Téo sorriu, mas de nervoso. Estavam deitados no quarto dele, na cama dele. Foi sua primeira vez.

Quer dizer, foi a primeira vez que uma garota deitou na cama dele. Apenas isso.

Vic tentou falar com os pais, e Téo até conseguia entender como aquele nariz do pai dela era austero e afastava as pessoas. Ela não conseguiu dizer nada e achou que seria uma boa ideia fugir do castigo - Ela era muito boa em fugir, Téo notou - e aparecer na casa dele. Era surreal ter Vic ali. Ao mesmo tempo que era estranho, que parecia instável e frágil e que trazia essa sensação de ir contra os seus instintos, era prazeroso pelos mesmos motivos. Téo se sentia vivo. Diferente.

- Eu te amo.

- Eu também - Vic o olhou nos olhos - Isso é assustador até para mim.

Téo podia sentir que estavam passando pelo mesmo momento, pela mesma confusão de sentimentos. Estavam juntos, resolvidos, mas era tudo tão estranho! Ele, ela. Tic. Tinha certeza de que os outros caras com quem Vic tinha namorado eram diferentes de dele. E diferentes em tudo. Bastava se comparar com Draco Malfoy, a parede de músculos que conheceu no show de Melodee. Victória estava acostumada a namorar caras de outro naipe. A única experiência real de namoro de Téo havia sido com Kelly, uma garota tímida, recatada... E desde então ele havia apenas procurado por garotas desse tipo, como aquele serial killer que vê nas suas vítimas uma mesma pessoa que o feriu no passado. Eram um desafio um para o outro. Pareciam estar vivendo o pós-felizes-para-sempre, que raramente era retratado nos livros e nas comédias românticas.

O celular de Téo tocou em cima da cômoda, e não era raro ele tomar um susto com isso - não era como se muitas pessoas ligassem para ele diariamente - mas não quis atender, embora sentisse que era importante. Não ligariam se não fosse. Não estava pensando em nenhuma coisa brega a respeito de querer mergulhar nos olhos de Vic ou coisa assim - que ridículo -, mas queria ficar onde estava, acariciando o rosto dela, seu cabelo... Era Arthur. A preguiça de Téo desapareceu, não querendo desmerecer Vic, mas Arthur estava ligando pela primeira vez do Canadá. Era uma loucura o que ele havia feito, mas agora ele já estava lá, e Téo só podia torcer para que tudo desse certo.

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