Capítulo 21

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Sophia (...) 

Acordei de madrugada, e quando cheguei na cozinha pude sentir aquele cheiro horrível, quando vi ele preparando para inalar aquela coisa, senti todo meu corpo se quebrar, não era só o coração que se quebrou, foi tudo. Eu apostei tudo nele, eu confiei novamente. Eu estava desconfiada, porque o comportamento dele não estava normal, estava alterado demais, nervoso demais, só queria ficar sozinho. As brigas aumentaram o que estava me preocupando, mas ver com meus próprios olhos, uma onda muito grande de tristeza me inundou, apesar de saber que recaídas acontecem, eu não estava preparada pra ver com meus próprios olhos. Fui pro quarto decidida a ir embora, a fazer aquela viajem e sumir da vida dele, mas ouvir ele pedir pra não desistir dele, me arrebentou por dentro. Eu não posso desistir, mas como vou lidar com uma situação dessas? Meu Deus, eu não tenho forças. Pela manhã, acordei cedo, deixei um café pronto para ele, e saí com o Henri. Deixei ele na creche e fui pra casa dos pais do Vitor, toquei a campainha e logo o Beto me atendeu e abriu o portão

- O que aconteceu? Você por aqui essas horas

- Preciso de ajuda – Falei, e as lágrimas brotaram

- O que o Vitor fez? – Beto perguntou preocupado

- Recaiu

Beto e Lara simplesmente se jogaram no sofá, decepcionados, preocupados. Conversamos, e decidimos junto tentar ajudar o Vitor, mesmo não sabendo como fazer, como agir. Saí de lá e fui pra casa, deitei na minha cama, e chorei. Chorei de medo, chorei de raiva, chorei de tristeza e decepção. O que eu vou fazer? Sinceramente, não faço ideia.

Levantei da cama, e fui atrás de uma clínica especializada em dependentes químicos, consegui um encaixe com uma psicóloga, sentei na sala de espera. Logo ela me chamou

- Ele é o que seu? – Ela perguntou

- Namorado

- Você vai educar a si própria sobre como colocar limites nessa ação é uma das coisas mais importantes que você pode fazer.

- Que tipo de limite? Eu não sei

- Um exemplo de limite a ser obedecido é dizer ao seu namorado que você prefere não estar por perto quando ele estiver alto ou alcoolizado. Essa é uma mensagem específica, que deve ficar clara. Colocar um limite como esse é difícil, quando não se quer ferir os sentimentos do outro. Mas é a maneira de evitar que você fique doente, se preocupando mais com os sentimentos da outra pessoa do que o seu próprio bem-estar. Esse limite mostra que o bem estar pessoal vem primeiro e é um exemplo de como viver, demonstrando ao outro que você está no controle da sua própria vida, valorizando a sua sanidade, ao invés de se envolver nos problemas de alguém que luta contra a dependência. É uma distância crucial que você precisa aprender quando pretende ajudar na recuperação de um viciado em drogas.

- Entendi – Passei as mãos no rosto, cansada

- Vou te dar algumas dicas, pra você ajudar ele, não faça coisas que eles podem fazer por si próprios, não corra para salvá-los das consequências naturais dos seus atos, não encubra seus erros ou situações embaraçosas, não socorra em uma crise financeira, não tente "consertá-los", abandone toda culpa que você possa ter a respeito.

- Obrigada doutora Renata, qualquer coisa eu volto

- Volta, e tirarei todas as suas dúvidas

Passei na recepção e paguei a consulta, uma nova fase estava começando na minha vida, fase que eu jamais pensei que iria passar. Não desistir, eu que falei que iria largar ele aqui caso acontecesse. Complicado, porque mesmo que a decepção esteja muito forte dentro de mim, o amor que sinto é muito maior. E eu preciso ajudar. Fui pra casa, e fiquei no computador vendo dicas e mais dicas para ajudar ele. No final da tarde, pedi pra minha mãe buscar o Henri e fui até o trabalho do Vitor,

- O que ta fazendo aqui? – Ele perguntou surpreso

- Vim te buscar, quero tomar um sorvete, aceita?

- Eu pensei que ... que iria embora

- Eu não vou desistir

Entramos no carro dele, e fomos para uma sorveteria, sentamos e pedimos nossos sorvetes

- Porque está aqui? Eu te magoei, quebrei uma promessa

- Eu já falei, eu não vou desistir se nem três anos longe me fizeram parar de te amar, não é agora que eu vou jogar tudo pro ar

-Eu não mereço, não sou um bom exemplo pro Henri

- Quando você estiver muito ruim, você não vai nos ver. Eu e o Henri, seus pais, nós vamos te ajudar Vitor – segurei em sua mão, e minha vontade era de chorar

- Eu não consigo parar, o vício voltou com muito mais força

- Você consegue sim

Tomamos o sorvete, e depois fomos andar um pouco pela cidade, conversamos sobre muitos assuntos, coisa que não tínhamos conversado mais depois que ele se afastou. Jantamos em um restaurante, e depois ele me levou pra casa, ele levou suas mãos em minha cintura e puxou meu corpo pra perto do dele

- Eu te amo Sophia

Ele sussurrou perto da minha boca, e eu não tive tempo de responder, pois ele selou nossos lábios e iniciamos um beijo lento, calmo. Suas mãos acariciavam minhas costas enquanto as minhas mãos eu subi até seus cabelos, logo fomos parando e entramos em casa. O Henri correu em meu colo me dar um beijo e logo pulou pros braços do Vitor, entramos em casa e ele e o Henri ficaram jogando vídeo game enquanto eu arrumava as coisas da escolinha. Assim que o Henri dormiu, o Vitor decidiu ir embora

- Promete pra mim que vai tentar Vitor, tenta ficar sem por hoje

- Vou tentar meu amor, eu vou tentar

Ele me deu um beijo em minha cabeça e foi embora. Fui pro banheiro, liguei o chuveiro e assim que entrei deixei as lágrimas caírem. Assim que terminei meu banho, fui pra cama e não consegui pensar em mais nada, simplesmente apaguei.


Um Grande AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora