Extra - A Guerra dos Primórdios

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Há milênios atrás. Quando as estações começaram a normalizar.

Agutha foi dada às terras pela lua para governar Manheidum, o território central que tinha os feiticeiros e curandeiros, mantedores da ordem. Moralistas e infinitamente justos com qualquer causa. Sua rainha era o modelo de seu reino, todos assim deviam ser. Pele morena, olhos amarelados e cabelos castanhos. O povo prosperava.

As estrelas dominaram os extremos sul e norte deixando os gêmeos para governar juntos os dois pólos. Tuler foi para o norte, nomeado Zonoorsch, o povo era festeiro e desinibido. O clima era quente, os dias ensolarados e as noites estreladas. O solo era extremamente fértil e os animais exóticos: dragões, fênix e unicórnios. Os seres possuíam asas, olhos azuis, cabelo escuro e pele claríssima e resistente. Não dependiam de fecundidade para se multiplicar, mas o faziam por prazer. O povo era unido, entretanto, desconhecia qualquer ameaça ou violência.

O outro gêmeo, Thadeus, ficou com Verkouden, as montanhas congeladas do sul, no inicio era para governar ao lado de seu irmão, mas sua essência foi corrompida pelo excesso de poder. Era idêntico ao rei de Zonoorsch, mas por uma maldição desconhecida, suas asas foram absorvidas permanentemente e tudo que tinha de alado se esvaiu. Seu povo se tornou escória e violenta graças a sua displicência e tirania. Seu povo era marcado pela pele ressecada, cabelos ralos e sua falta de convivência com os outros, incrivelmente humanos.

A aliança do reino de Agutha com o de Tuler era invejada por Thadeus, que queria possuir mais território.

60 ANOS APÓS A CRIAÇÃO DOS PRIMEIROS REIS.

Todo nascimento de herdeiro retira a imortalidade dos reis. Sem herdeiros, um rei pode reinar até o fim dos tempos. Assim conhecido, Agutha deu a luz a seu primeiro herdeiro, Záphir. Fruto de seu casamento arranjado com Zopan. Como não possuíam pais, seus conselheiros escolhiam os pares. A escolhida de Tuler foi Fasig e com ela teve sua primogênita, Tysoka. Ambos os reis esperavam o dia em que seus filhos ficariam em seus devidos lugares, na cerimônia da coroa, ao vigésimo primeiro aniversário, na vigésima primeira estação.

Era fim de tarde, Agutha havia acabado de sair de uma reunião conturbada, descansava ao lado de seu filho, de apenas oito anos. Ela havia sentado na grama perto do lago norte do castelo da Lua, a sombra da floresta. As árvores densas chacoalhavam graciosamente com as brisas, acalmando-a.

Algo na última reunião com os reis estava a atormentando. O assunto debatido foram as profanações de verlôs. As devidas medidas foram tomadas, limites foram dados e fronteiras foram fechadas. Isso daria equilíbrio à situação, ela esperava, mas era temporário.O povo parecia mais tranqüilo, ela sentia. Foi à escolha certa, ela sabia.

O ar ficou pesado e a tirou de seus devaneios. Rei Tuler se aproximava andando pelo caminho de pedras, não estava feliz, parecia angustiado. Um ataque de pânico totalmente irracional a tomou, com Tuler tudo era irracional. Pensou apenas no filho.

-Záphir, - chamou se levantando – Entre, querido.

A criança usou a porta lateral para entrar, batendo com força para fechar.

Ele a abraçou, não como se não a visse há décadas, como amigos se abraçavam. Pegou-a pelos braços e a envolveu, afogando-se em seu cheiro e deixando todas suas defesas caírem.

Ela o empurrou, queria tocá-lo, contudo, ali não era lugar e nem hora para isso. Lançou um olhar severo, mas ao mesmo tempo compreensivo. A lei assinada proibira a livre transição de alados em suas terras sem a permissão. Não que isso separaria os dois, mas significava que ambos agora manteriam distancia por mais tempo.

Livro um - O Reinado De JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora