Capítulo XIII - Nunca Mais

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Há dois dias.

Definitivamente não era para ele se sentir assim. Deixar Julieta sozinha com Romeo era seguro, mas não o fazia se sentir bem. Ela estava magoada, furiosa e ele era Romeo, não controlava seu charme. Ele queria refazer seus passos, voltar e pedir perdão de joelhos. Mas que tipo de rei faz uma coisa dessas?

Com passos largos e pesados na rua úmida, andou Nutrix com a expressão mais inexpressível possível. Seu coração batia dolorosamente e ele sentia a loucura lhe possuir a cada passo. Ele iria voando para Londres, seria mais rápido, mas estava sem prática e não arriscaria ser visto.

Ao chegar à calçada do Castelo, suas panturrilhas já estavam doloridas, contudo, ele nem ligava. Achava merecer toda dor que suportava.

James foi à direção dele, quando percebeu que o amigo estava sozinho e parecia perdido.

-Cara, você deve estar congelando! Onde está Jub? – ele ficou preocupado ao perceber que Nutrix estava sem camisa, contudo, ele demonstrava estar alheio à pequena briga atrás do estabelecimento, assim como todos em volta.

-Julieta foi para casa. – Nutrix passou direto por James e seguiu na direção do carro estacionado atrás do Castelo.

-Você está bem? – James entrou na frente do carro, impedindo-o de entrar.

-Não, Jay. – ele empurrou o amigo e entrou no carro, mas não fechou a porta – Eu pareço bem?

Por um instante, ele achou que poderia desabafar com o amigo. James sempre o aturava, mas o que estava acontecendo era demais para ele, decidiu, por fim, não incluí-lo no fogo cruzado. Já não basta Romeo e Julieta?

-O que aconteceu? – James se agachou na frente de Nutrix – Eu te vi saindo com a Lú. Você estava irado.

Os olhos azuis de Nutrix suplicaram para James não saber o que ele iria dizer:

-Jully e eu terminamos. – Nutrix girou a chave na ignição e voltou a olhar o amigo.

James estava pálido, estava ficando verde. Nutrix tentou ficar indiferente.

A voz de James saiu tremida ao sibilar:

-Nathan... O que você fez? Não me disseram nada.

Nutrix virou o rosto para o retrovisor e sorriu ao dizer tanto para si próprio quanto para James:

-Foi melhor assim. Ela merece algo melhor que eu.

Ao dizer isso com tanta convicção, James levantou e se afastou do carro, fechando a porta e, ainda pálido demais, se despediu:

-Até logo, Nate.

Nutrix acelerou o motor e acenou para o, agora, ex-amigo. James era o guardião de Julieta na terra dos humanos, Nutrix apareceu depois, era de se esperar que agora as coisas fossem mudar. Afinal, ele nunca mais o veria mesmo. Esse pensamento doeu profundamente. Nutrix praguejou a própria confusão de sentimentos.

O rei dos Alados saiu dali sem olhar para trás. Ao virar a esquina e o Castelo sumir, o sorriso indiferente se esvaiu com toda a convicção. Certeza absoluta que aquilo estava errado, não era o melhor, era tóxico. Estava matando-o por dentro ter que ouvir e lembrar-se das palavras de Julieta, aquelas palavras de ódio. A verdade: Ele nem suportava imaginar reinar sem ela. Achava que seria mais fácil se agisse como um idiota, ela o odiaria, mas fracassou e agora estava tudo acabado.

Ele apertou o volante e quase o arrancou. Devido ao seu alto temperamento, a chuva tórrida começara a cair com violência e os ventos balançavam as vidraças dos prédios e quase arrancava as árvores das calçadas. A natureza mostrava a ele como estava se sentindo.

Livro um - O Reinado De JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora