Capítulo 4

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Como é sexta feira, nosso turno de trabalho é à noite. O marido da Sra. Facchin está na sala. Os dois estão brigando, através de palavras, claro.

Minha mãe e eu estamos nos fundos da casa. Estou lavando as roupas e minha mãe, estendendo-as. Contei para ela sobre minha ida à praia, mas não mencionei a sereia.

- Estamos passando por uma expansão industrial. Muitas fazendas estão perdendo lugares para grandes fábricas, e o governo não tem nenhum antídoto eficaz para cobras. Pobre homem... já deve estar morto.

Foi tudo o que ela comentou. Mas não havia mais nada para comentar. Só eu que ando todos os dias na floresta, sei como é esquisito a ausência dos pássaros e anormal inquietude do mar. É verão, então não há motivos para os pássaros terem migrado. E não estava ventando tanto hoje, então não dá para explicar aquelas ondas mortais. Os animais geralmente não atacam, o que explica eu estar viva até hoje. Não há motivo para todos esses acontecimentos.

O marido da Sra. Facchin saiu de casa. Só pode ser por isso que as gritarias e desaforos cessaram. A porta se escancara e uma Sra. Facchin com rosto inchado aparece nos fundos da casa. Ela senta-se nos bancos. Fomos orientadas a não falar com ninguém da família dela nas horas de trabalho, de modo que temos que não podemos fazer nada quando ela senta em dos bancos do quintal e começa a chorar.

- Acho que vocês são as pessoas que chegam mais próximas de serem minhas amigas.- Ela falou de repente após enxugar as lágrimas.

Ela levanta-se e chama minha mãe e eu para um abraço coletivo. Nos abraçamos e ela chorou em meu ombro. Minha mãe termina o abraço, mas Sra. Facchin continua grudada a mim chorando.

- Pode continuar o trabalho?- Minha mãe diz para mim enquanto afasta Sra. Facchin de mim e a leva ao banco. Minha mãe ficou conversando com ela e eu continuei o serviço.

☆☆☆

Voltamos tarde para casa. Se uma coisa sabemos, é que à noite é melhor você sair sem pertence algum nas ruas, ainda mais se estiver a pé. Minha mãe e eu estávamos conversando sobre nossas despesas e economias, o que faltava em casa, e o que sobraria para manutenção dela.

Minha mãe subitamente parou de andar e assumiu uma expressão de horror. Ela estava olhando fixo para algum ponto entre duas casa enormes.

- Mãe? O que aconteceu?- Ela continuou parada, olhando para algum lugar que ainda não localizei. - Mãe?

Estou praticamente balançando-a. O que a fez ficar assim? Ela me puxou para frente dela, ainda horrorizada, e apontou para o mesmo lugar que estava olhando. Um grito feminino familiar me assustou, mas me fez procurar a fonte da gritaria e finalmente achar para onde minha mãe estava olhando.

Pelo pequeno espaço entre as duas grandes casas, havia uma certa visibilidade para a outra rua. A rua em que moramos. E o que minha mãe estava olhando era a nossa casa. A porta estava caída ao chão.

O grito com certeza vinha de Cristina. Puxei a mão de minha mãe e comecei começamos a correr em direção à nossa rua. O som dos gritos aumentava mais e mais, o que anunciava que estávamos cada vez mais próximas de quem estava desesperada.

Minha mãe e eu hesitamos ao entrar, mas por fim entramos. A casa estava toda escura, iluminada apenas pela luz da lua que passava por entre as cortinas rasgadas. Os rasgos não estavam ali. Meu coração dispara. Minha mãe e eu nos dividimos na casa, à procura de minha irmã. A casa está aparentemente vazia. Os gritos pararam, e o som dos passos de minha mãe também.

Um silêncio assustador reina na casa e me desespero. Meu coração acelerado e o medo estão me fazendo tremer.

- Mãe? - Estou praticamente gritando. Será que os vizinhos não escutaram o desespero de minha irmã? - Mãe! Onde você está?

Subo as escadas. O único cômodo lá em cima é um pequeno sótão. Não há ninguém. Desço novamente. Como posso ter perdido duas pessoas em uma casa tão pequena? Retorno à sala, e as encontro, mas tem outras duas pessoas acompanhando-as. Duas grandes mulheres estão ao lado delas. Ambas bastante bronzeadas e com cabelos molhados, rostos finos e pequenas espadas douradas nas mãos, mostrando maior parte do corpo, seus vestidos não servem para nada. Minha mãe e Cristina estão entre os dois, de joelhos, uma ao lado da outra, abraçadas e encolhidas de medo.

- Essa é Elizabeth? - Perguntou a mais alta, não se dirigindo a ninguém em especial na sala.
Por que será que meu nome tem se tornado uma coisa tão especial hoje?

Entre Sereias - O Medalhão De Ares  [Livro I]Onde histórias criam vida. Descubra agora