Capítulo 43 - Liliane

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Meu andar já nem fazia mais barulho. Não me lembro exatamente quando comecei a caminhar em direção ao "espelho" feito por Zeus até que um guarda se pôs na minha frente.

O branco predominante do Olimpo contrastava com o que estava se passando dentro do espelho. Sombras do céu noturno ainda não haviam indo embora e mesmo assim, Ayslanne estava lá. Estava na frente de uma grande multidão, a qual não tinham apenas gerundianos.

Uma mulher forte é o que eu vejo no seu caminhar. No segurar no cabo de sua espada e na confiança ao virar sua cabeça para os lados, mas eu conheço Anne mais do que ninguém. E mesmo de longe, tendo a visão de um pássaro sobrevoando a todos, eu vejo o temor em seus olhos e o leve tremor em sua mão, enquanto tenta disfarça-lo ao pegar o cabo da espada e deixando as juntas esbranquiçadas. Ela aprendeu a deixar as inseguranças e incertezas dentro de si. Expiro quando não consigo ver Elizabeth nela. Tem o seu lado ruim, mas o lado bom pesa mais. Eles atravessam o vale e as montanhas, com Ayslanne ficando para trás com o fim de ajudar pessoas mais velhas e crianças a atravessar relevos irregulares demais na cadeia de montanhas. Eles passaram por entre uma caverna que atravessava toda a extensão das montanhas internamente e perdemos contato visual.

- Não vêem que não tem como essa menina lutar em tais condições. - A voz de Ares é inconfundível. Como filho de Zeus, ele fica assentado num trono mais próximo do pai, que é quem o responde:

- Já interferiu mais do que devia. Nós não nos metemos no que acontece entre os mortais. - Zeus disse, com sua voz profunda e grave e seus cabelos brancos se agitado levemente por cima de seus ombros. Seu raio estava repousado ao lado de seu trono, o maior de todos.

- Como pretendem que a profecia se cumpra dessa maneira? - Ares retruca de maneira cautelosa, percebo, pois um passo em falso e seu pai poderá fazê-lo em pedaços.

- Não temos culpa se sopra profecias nos ouvidos mortais sem pensar, meu irmão. - Atenas respondera. 

Às vezes a sua sabedoria me irrita, não posso mentir. Apesar de concordar quando disse que já interferiram demais, estou com Ares... Ele tem total razão: Ayslanne não vai conseguir prosseguir assim.

Já até vejo como será lá dentro do Vale. Ela vai querer ajudar a todos, não terá forças para isso é abrirá mão da própria vida. Terei que confiar nos colegas dela para impedi-la de fazer tal ato.

- Você também viu potencial nela e compartilhou seus poderes. - Ares retruca para a irmã, que por sua vez formula uma resposta, mas é interrompida por Hera.

- Basta! Ninguém mais interferirá no conflito dos mortais. - Ela determinou, apesar de eu ver na face de Poseidon que ele quer que eu aja novamente. Dessa vez seria contra a vontade todos os deuses, como seria possível? - Está me ouvindo, irmão?

- Estou. - Ele desvia o olhar para Hera que por sua vez sabe o que se passava dentro da cabeça dele.

- Tudo o que nos resta é esperar que Perseu chegue a tempo.

Deixo um expiro acidentalmente, e a voz de Hera atravessa a sala, com a sua rotineira troca de tons entre a mãe agressiva e a mãe protetora.

- O que foi, minha querida? - Ela pergunta e me viro para confirmar se é realmente comigo.

- Ayslanne terá um ataque quando descobrir o que a espera em Gestarum. - Digo, tentando não olhar para Atenas.

- Conservei-o vivo para dar a menina uma dose de alegria. - Ela diz, porém ninguém a contraria.

Atenas pedira permissão antes de conserva-lo vivo, e fico feliz por Ayslanne ainda tê-lo, mesmo sem saber. Ainda.

- Você quer ir lá para baixo, não quer? - É Zeus quem me faz a pergunta.

- Eu sei que é impossível. - Respondo, novamente olhando para o espelho.

Eles tinham acabado de sair do outro lado, pertíssimo do Vale. Arrepios correm por minha pele e o sangue parece ser drenado do meu corpo. Ayslanne é a primeira. Ela respira fundo e toca já barreira. Não parece reagir ao toque dela, portanto Anne entra. Um nó prende minha garganta quando não a vejo mais e outras pessoas passam pela barreira.

- Não está pensando nisso... - Hera começa, mas seu marido a interrompe.

- E se eu te disser que é possível? - Ele diz, e não contendo o sorriso.

O movimento faz as lágrimas descerem.

Entre Sereias - O Medalhão De Ares  [Livro I]Onde histórias criam vida. Descubra agora