Capítulo 46

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As paredes foram ficando menores ao meu redor a cada segundo, mas o pensamento de sair do quarto novamente só me dá calafrios. Como não há como fechar as janelas daqui, apenas joguei as cortinas para a frente da visão da floresta.

Não consegui me sentir segura com nada que Leila ou Arthur me disseram. Sobre como estamos seguros, como aquele monstro foi fruto de somente uma pequena falha na segurança das muralhas... Assenti sobre tudo o que disseram e fui andando, permitindo ficar apoiada no braço de Arthur para não ter novamente a sensação de tontura.

Desabei somente quando cheguei no quarto e fechei a porta atrás de mim, antes mesmo de Leila e Arthur falarem algo de novo. Sei que não deixei transparecer minha gratidão por terem chegado antes do pior, mas estava assustada demais.

O leve escurecer se intensificou com o passar das horas e as lágrimas não brotaram mais. Estou certa de que se aproxima da madrugada e apaguei a luz há algum tempo, mas o medo me dominou e a cada vez que a cortina se agitava com o vento, eu penso nele. A Espada de Calíope pesa na bainha de minha cintura e prometi a mim mesma que nunca mais sairei sem ela. Mesmo que a Lâmina não houvesse tido efeito...

Batidas na porta. Me levanto da cadeira, para ver quem é. Se eu mesma atender, posso fechar a porta imediatamente caso seja alguém indesejado. Vitória, por exemplo. Tentará me dar lição de moral sobre a floresta, mas sem moral alguma devido ao que escondeu de mim.

Os olhos de Arthur percorrem minhas bochechas inchada quando abro a porta.

- Por favor, não me peça para sair - imploro com uma fragilidade vergonhosa. Ele desvia o olhar para o chão e depois novamente para mim. Frustrei algum plano de Arthur. 

- Hoje vai acontecer aquela chuva de estrelas que eu te disse -  Arthur explica, evitando olhar para mim, percebo. - E... - Ele põe a mão nos bolsos quando se lembra de algo, e fecha os dedos em torno de um pequeno objeto. Arthur estende-a para mim, que abro a minha mão para receber a pequena flauta.

- Onde conseguiu? - Não escondo o quando aquilo melhorava minha situação.

- Todos do exército têm uma.

- Obrigado, - faço menção de devolver, mas ele recolhe as próprias mãos e se recusa a pegar - mas essa é sua.

- Agora é sua. Não preciso tanto dela. - ele faz uma pausa e olha para além de mim. - A vista daqui não é tão boa, mas dá para assistir daqui, se você quiser.

Aperto os lábios antes de fechar a porta atrás de mim.

- Não deixa eu sair de perto de você. Por favor - peço ao seguir pelo corredor que nos leva para cima.

- Claro que não - ele diz com um sorriso no rosto, pondo minha mão no seu braço e nos levando para a direção contrária.

Fico confusa quando descemos, mas o sigo mesmo assim. Tomamos o caminho que leva-nos ao jardim e prosseguimos pela cidade. Passamos pelo labirinto que são as suas ruas e paramos em uma estreita que dá vista para o lago.

- Já vai começar - Arthur diz olhando para o céu estrelado.

- Obrigado - digo, não me contendo em beijá-lo.

Tambores soam e inclino minha cabeça um pouco para fora da rua para ver o que está acontecendo. Gestarenses se acumulam ao redor do lago.

- Por que não vamos para lá? - Pergunto, pois estavam num lugar mais próximo.

- Só mulheres podem ir para o círculo - ele responde, e volto meu olhar novamente para o lago.

Otávia aparece em no parapeito do terceiro andar de uma casa. Olha para o céu e faz uma reverência antes de tirar a coroa.

Entre Sereias - O Medalhão De Ares  [Livro I]Onde histórias criam vida. Descubra agora