Capítulo 29

293 30 0
                                    

A rua só não está deserta por conta dos adolescentes que passam de vez em quando - rindo ou chorando alucinadamente por conta do efeito de alguma droga ou bebida.

Começo a correr e pensar no que me tem de valioso na casa... Talvez eu não retorne. Mas o mais importante: para onde vou? Incomodar Clarissa não está na lista, com toda a certeza. Paro em um beco para pensar.

Clarissa tem a vida dela, e não dá para ficar para sempre. Voltar para a Inglaterra já não é mais uma opção, até porque meus sobrinhos tratará-já-perdi-as-contas nem fazem idéia de quem sou...

Não me diga que não avisei.

A voz ressurge em minha cabeça, ou em um lugar próximo. Corro novamente. Meu pulmão de sedentária começa a apertar e minhas pernas a doer. A única chance que tenho de fugir é...

Algo me empurra com força para a esquerda e acabo caindo. Como um flash, fecho os olhos e preparo minhas mãos para proteger meu rosto da água da poça a qual estou prestes a cair acima...

Assim como a bola de luz passou através do espelho como água, eu não senti o asfalto duro ao cair, apenas água. Meus pés estão sem apoio no chão, pois estou flutuando. Abro os olhos... estou no meio de um nada azul e meio nublado. A luz do sol vem de cima, iluminando cada canto. É um rio, com toda a certeza. A água é doce, sinto ao respirar, e a água é corrente, fazendo com que de dois lados, dê para perceber-se um pouco de verde tremendo. Não me transformo em sereia quando estou em água doce, porque não sou sereia de nascimento. Nadar para cima é a única opção que me resta, até porque não há mais bola de luz alguma para seguir. Um movimento brusco na perna faz com que eu sinto um estalo e minha canela comece a doer. Mas não é dor de quebra, e sim de deslocamento.

Ar puro invade meus pulmões, assim como o sol forte do meio-dia. O lugar é uma floresta, chegando a ser visivelmente mais selvagem que a de Nereidum, portanto não estou lá. Outro aspecto relevante para concluir-se isto, é o canto dos pássaros. Aqui está quieto demais. Chego à terra firme, me levanto com dificuldade por conta da dor, e percebo que estou estranhamente seca.

Risadas vêm da minha esquerda, de dentro da mata. Humana, sem dúvidas. Passos pesados e rápidos começam a vir em minha direção. Pegar a Lâmina agora seria tolice, até porque podem não querem me machucar, e mesmo se quisessem, não podem.

- Francamente, pare com isso. - Uma voz masculina familiar fala. Um dos irmãos que vi na biblioteca. - Você é muito infantil.

- Tem certeza que eu que sou infantil? - O outro irmão também está aqui. Estão mais adentro da mata. Mas dá ver algumas silhuetas correndo mais para perto.

Olho em volta mais uma vez, em busca de algum indício de civilização... nada. Algo me atinge no ombro, mas não me machuca. Levei apenas um susto, pois era só terra. Meu casaco agora está cheio de terra.

- Olha só o que você fez de novo. - O irmão mais velho fala por entre os arbustos. Olho na direção da voz, eles estão se aproximando. - Você está bem?

- Estou. Foi só terra. - Respondo.

Ele olha para o mais novo em reprovação, e em resposta o outro revira os olhos.

- Sabem que lugar é esse? - Pergunto, olhando em volta.

- Não. Não sabemos. - O mais velho reponde de novo.

Sem referências, sem bolas de luz estranhas, sem condições de andar e nem para onde andar. Pelo menos tenho minhas chances de defesa. Falando em defesa, não conheço nenhum dos dois... o que ainda estou fazendo aqui?

Entre Sereias - O Medalhão De Ares  [Livro I]Onde histórias criam vida. Descubra agora