Capítulo 7

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- Parece que fez sua escolha certa dessa vez. Dessa vez você confirmou o nome do pai? - A rainha perguntou mais uma vez.

- Sim - Liliane e a rainha conversam como se eu não estivesse ali. Normalmente, quem assume o meu lugar é Cristina. Nunca toma a frente das situações.

Ainda não entendi essa história de escolha. Se eu sou uma em várias, há a possibilidade de estarem erradas e eu poder voltar para casa.

- Elizabeth, meu nome é Vitória - a rainha se apresentou, e o que mais me impressionou... é como sabe meu nome.

- Muito prazer, majestade. - Falo, com a voz terrivelmente arrastada.

- Deve estar com inúmeras perguntas em mente. Não se preocupe, em breve poderá tirar uma de cada vez.

- Como sabem meu nome? - não consegui segurar minha dúvida. Mesmo que eu seja uma em várias, como sabem que eu estou na lista das Elizabeths? - E como sabem o nome de meu pai?

- Senhoritas, podemos deixar nossa reunião para depois? - A rainha anunciou para o grupo, que eu já havia me esquecido que estavam ali. Elas concordaram e marcaram para "daqui a três luas".

- Não fui colocada nesse trono por linhagem direta, como acontece em sua terra. Aliás, quem gosta de uma mulher governando por lá, não é mesmo? - Vitória começou a falar assim que o grupo saiu. A familiaridade com que ela usa para conversar não me deixa à vontade, da mesma forma. - Aceitaram-me no trono quando souberam que a minha antecessora não obedecia totalmente à leis - com suas pausas alternadas, era inevitável o envolvimento e a atenção.

- Então por que ela estava no trono? - Pergunto para a rainha e vejo Liliane voltar a face rapidamente para Vitória.

- Às vezes experiência e talento não caminham na mesma direção - sua resposta vaga não deixou nada claro para mim, portanto continuou. - Não tinha experiência alguma para o trono, mas tinha contato direto com o deuses. Um dia os deuses a avisaram que nos dias de hoje, sofreríamos ataque humano e estaríamos à beira da extinção. Nossa comunidade não pode ser extinta de maneira nenhuma. Por isso matamos os humanos a quem encontramos. Com certeza a senhorita já ouviu falar de contos com sereias que afundavam navegações inteiras e levavam os navegadores às profundezas do oceano.

Ela esperou que eu concordasse com a cabeça para prosseguir.

- São todas verdade. Mas fazemos isso por um bem maior. Os humanos estão evoluindo demais. E suas tecnologias estão nos ameaçando. Perdi mais de cinquenta sereias em um vazamento industrial. O número de pessoas que você viu nessa cidade hoje, não se compara ao de trezentos anos atrás...

- Ainda não entendi no que me encaixo - interrompi, acidentalmente demonstrando impaciência.

-Calma, falta pouco para você se encaixar em nossa história - ela retomou, ainda calma. - Os deuses pararam de enviar avisos para minha antecessora - A maneira como Vitória pronuncia antecessora me mostra o quanto elas não se davam bem. - Até que há alguns milênios atrás, a deram três nomes. Aí você entra em nossa história. Seu pai foi citado para que seu encontro fosse mais fácil - sua conclusão foi estranhamente rápida.

- Ele estava na praia comigo. Não pode ter avistado sereias sem me chamar - rebati, da forma mais segura possível.

-Acharam o corpo?- A pergunta me pegou de surpresa. Mas ao ver sua expressão, percebi que não é dúvida... Vitória estava retratando da maneira mais insensível possível.

- Então qualquer humano, em que uma sereia entre no seu campo de visão, está fadado à morrer? - Após uma leve concordância de Liliane, percebi o impacto de tudo. - Então não poderei voltar para casa?

Entre Sereias - O Medalhão De Ares  [Livro I]Onde histórias criam vida. Descubra agora