Nunca fui um garoto popular. Eu sempre fui um garoto discreto, quieto no meu canto, que conversava apenas com meus poucos amigos e quase ninguém mais. Sempre fui do tipo de garoto ‘pé no chão’, que acreditava que o amor, ainda mais entre dois meninos, só existia em histórias fantasiosas.
E com esse pensamento eu chegava agora ao meu 2° ano do ensino Médio. Era o meu primeiro dia de aulas, e o meu animo pra isso com certeza não era dos melhores. Havia passado – como sempre - todas as minhas férias com minha melhor amiga Amábile, a menina com quem eu dividia todos os meus segredos, medos e angustias. Éramos amigos desde que nos entendíamos por gente e já havíamos passados por bons e maus bocados juntos. Amábile é uma menina loira, alta e muito bonita. Na época, em seus plenos e ardentes 16 anos de idade, ela era uma das garotas mais cobiçadas do nosso colégio, que era um dos mais tradicionais de Rio Claro. Apesar de ser muito disputada por conta de sua beleza, Amábile tentava se focar em conquistar um garoto que nem olhos pra ela tinha, João Victor, seu ‘sonho de consumo’ desde criança. João namorava outra menina e só tinha olhos pra ela, mas nem isso a fazia perder as esperanças.
Ah, eu até ia esquecendo de me apresentar. Meu nome é Gustavo, mas todos me chamam de Guga. Na época dos acontecimentos que eu irei relatar aqui, eu tinha 16 anos. Nunca fui um garoto que se encaixe em um dos estereótipos de beleza que a sociedade adota hoje em dia. Sempre tive meus cabelos pretos bagunçadinhos, usei óculos e sempre fui absolutamente normal, discreto, calmo e conformado pelo que era e como era. Nunca fui gordo, mas também não fui um exemplo de magreza, muito menos de malhação. Minha mãe sempre brigava comigo dizendo coisas do tipo ‘Deixa de ser desarrumado moleque, ou não vai ter namorada nunca’.
É tendência alunos acordarem com sono e quase mortos no primeiro dia de aula. Fato incontestável, ainda mais quando você acha que o seu ano será mais um daqueles em que nada lhe será diferente. A mesma amiga vizinha que você tem desde criança te acompanha duas quadras, onde vocês encontram outros amigos mortos de sono que vão com vocês até a escola. Tudo igual por mais um ano.
Na escola, depois de toda a pomposidade de primeiro dia de ano letivo, vamos para a sala. A grande maioria eu já conhecia ou já havia estudado junto em anos anteriores. Eu era um veterano naquele colégio, se assim pode ser considerado alguém que ali estuda desde a 1ª série do Fundamental, o que me fazia conhecer, mesmo de que vista, toda aquela escola. Na sala, nada de diferente, nada de anormal, nada que me chamasse a atenção ou que me fizesse cogitar repensar os conceitos que já tinha sobre aquele pessoal todo.
A diretora do nosso colégio, dona Marta, uma mulher de aproximadamente 40 anos de idade, costumava adentrar todas as salas no primeiro dia, para recepcionar os alunos de forma mais ‘pessoal’ como ela mesmo falava e checar se estava todo mundo na sala certa. Mas nesse dia, ela se atrasava mais do que de costume nos outros anos. Eram quase oito e meia da manhã – as aulas começavam às 7 horas - e nada da diretora na sala. Eu e Amábiele conversávamos sobre o que faríamos a tarde quando ouvimos a voz já conhecida da diretora entrando na sala.
- Bom Dia Estudantes! – abria ela um grande sorriso e começava a falar o que todos nós, estudantes, sabemos que uma diretora fala no primeiro dia. Ao ponto onde seus assuntos quase se esgotavam, ninguém prestava atenção, e ela continuava a falar.
O primeiro dia de aulas, que deveria se chamar dia de apresentações, terminava agora, cerca de 11 horas da manhã daquela segunda. Durante a tarde, Amábile e eu ficamos juntos, como fazíamos todos os dias. Nós somos quase irmãos. Dividimos tudo, segredos, aflições e felicidades. Amábile era a única pessoa no mundo que sabia da minha sexualidade, mas sabia também as minhas opiniões sobre o amor.
- O amor é algo frívolo, não existe. Não pra mim. – conversávamos sobre o amor, eu e ela, sentados no sofá da sala. Amábile havia acabado de me falar que sofria vendo João e sua namorada juntos, e eu, realista como sempre, disse a ela que o amor não existia.
- Você só ainda não o descobriu, Guga. Um dia você vai ver como é bom amar alguém, amigo. – Falava ela soltando um sorriso, depois de me dar um tapa no joelho. Nós quando menores, já tínhamos ‘ficado’, beijado, sem nenhuma outra intenção. Éramos crianças, tínhamos apenas 10 anos e eu ainda não sabia o que era o homossexualismo, não tinha noções disso. Hoje, éramos apenas dois grandes amigos, que compartilhavam das emoções tipicamente adolescentes.
Terça feira, seis e vinte e sete da manhã. Alguns poucos raios de sol já entravam no meu quarto me acordando pra escola. Já era o segundo dia de aulas e tudo ia bem. Quer dizer, eu pensava que tudo isso. Devido ao meu jeito quieto, nunca consegui me entrosar com as turmas nas quais estudei, ainda mais se lhes contar do meu estilo largado, que eu adotava até aquela época. Eu era patético, admito. A minha patetice chegava a tanto que até mesmo minha melhor amiga, Amábile, brigava comigo de vez em quando por eu não me vestir adequadamente. Ela era o total contrário de mim, até mesmo pra dormir ela se vestia bem.
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Entre Nós - [Romance Gay]
Teen FictionVocê acredita no Amor? Acompanhe Gustavo na descoberta do amor, e na difícil tarefa de lidar com um relacionamento gay. Descubra que todas as formas de amor são válidas e que independente da condição natural de cada um, todos podem ser felizes.