-Alô? – disse atendendo a ligação enquanto cutucava meus olhos, com aquele movimento típico de quando acordamos.
-Guga, eu tô no hospital – dizia ele com voz manhosa. Levantei e rapidamente acendi a luz antes de continuar.
-O que aconteceu?
-Eu passei mal faz pouco tempo. Tô aqui esperando minha vez de ser atendido. – ele avisava meio como quem quer alguma coisa, mas tem vergonha de pedir. O interrompi e fiz o que qualquer cara gamado faria: me dispus a ir ao hospital fazer companhia. Cara apaixonado é assim, faz o possível e o impossível para ver bem, para apoiar e firmar presença ao lado do amado, mesmo que ele não queira e mesmo que não seja necessário. Dor de cabeça é doença grave, qualquer preocupação é o fim do mundo e merece toda atenção.
-Vou tomar banho e logo chego aí. - Mesmo que fosse a contragosto eu estaria lá e cuidaria dele o quanto fosse preciso. Ele meio que reagiu, mas consegui convencê-lo.
Tomei banho e peguei o carro. Saí em direção ao hospital e ao chegar lá vi Caio aguardando na recepção. Não havia quase ninguém ali, então entrei e sentei ao seu lado, e sério ele disse:
-Quanto tempo.
-Pois é, você até passa mal longe de mim. – brinquei, e ele me olhou com cara feia. Estava estranho. Apenas observei, sem entender o porque. Acho que o pensamento lógico de alguém nessas horas é que fez algo de errado, afinal não é normal virar a cara assim. –Tá tudo bem? – pedi humildemente.
-Sim. – ele me respondeu a seco. Meus olhos quiseram começar a lacrimejar, mas não permiti que ele me visse fraco dessa maneira logo depois do primeiro beijo. Eu continuava sem entender. Como uma pessoa podia mudar tanto, tão rapidamente? – Apenas confirmei com a cabeça, como quem entendeu algum recado.
Ficamos ali esperando por mais de quinze minutos até que ele foi chamado. Como o guarda da porta não estava em seu posto, pude entrar atrás dele até o corredor e lá fiquei esperando. A consulta com o médico não demorou muito e segundo ele era apenas uma virose que começava a atacar. Acho engraçado como tudo sempre é virose quando consultado com alguns médicos. Caio estava a pé já que Marina tinha ido para casa, e em posse da receita dada pelo médico o ofereci carona.
-Vamos, eu te levo. – eu falava já tirando a chave do bolso e saindo pela porta da entrada.
-Obrigado. - ele falava, ainda seco. Mal sabia ele o quanto aquilo me machucava. Pegamos o carro no estacionamento e fomos. No trajeto, em meio as poucas palavras que ele disse, comentou que não gostou da consulta, mas aquele era o único médico de plantão e não havia o que ser feito.
-Você vai lá em casa. – eu disse, já manobrando o Corolla na direção contrária. Minha mãe era médica, e com certeza ela poderia fazer uma consulta informal com um “amigo” meu.
-Não quero, obrigado. – de cara feia, ele negava qualquer tipo de ajuda que eu oferecia. Aquilo já estava me irritando. Mesmo ele não querendo, eu fui em direção a minha casa. Ele estava mal, dava pra perceber nele. Quando chegamos, quase a força ele desceu. Entramos e fui chamar minha mãe no quarto onde ela via televisão.
-Mãe? – eu a chamava, dando duas batidas na porta e entrando. Ela prontamente respondeu, e continuei. – Você pode dar uma olhada em um amigo meu, ele está doente.
- Minha mãe levantou rapidamente. Uma que eu não tinha amigos, outra que não era nada comum eu pedir pra ela examinar alguém, se nem eu quando adoecia pedia. Dito e feito. Depois de cumprimentar Caio, ela conversou com ele e Imediatamente ela ligou pra alguém no hospital e foi conosco pra lá. Por fim, chegamos, entramos e ele foi direto para o soro. Fez exames de sangue e acabou por pegar no sono enquanto deitado. Ele era tão meigo dormindo que parecia um anjo. Um torpor da lembrança noite passada me assolou e uma lágrima correu pelo meu rosto. Acho que aquela era a última prova de que eu precisava para ter certeza de que o amava de verdade. Minha sorte foi que minha mãe estava no guichê das enfermeiras na hora e não percebeu. Limpei o rosto, suspirei e ele continuou ali.
Dona Sônia, minha mãe, foi embora por volta das 23 horas e perguntou se eu não queria ir junto. Disse que não, porque ficaria fazendo companhia ao Caio enquanto ele ficasse lá, e assim foi. Fiquei, e por algum tempo mais ele dormiu. Quando acordou, olhou pra mim e com cara de quem não gostou e perguntou.
-Por que você está aqui ainda Gustavo?
-Porque tô preocupado com você. – eu admitia. Não entendia se ele não me queria perto, ou se ele apenas não gostou que eu estivesse até tarde com ele. Ele apenas levantou os olhos como quem disse “hum” e deitou a cabeça na cama outra vez. O soro estava acabando e logo iríamos embora.
Por volta das 23:30 horas fomos liberados. Peguei o carro – minha mãe havia ido embora com o outro carro - e rumei em direção à casa de Caio. No caminho, todo o tempo ele foi calado.
-Aconteceu alguma coisa Caio? – perguntava receoso da resposta. Eu tinha medo de que ele tivesse se arrependido do que fizera na noite anterior e fosse me tratar mal dali em diante.
-Não, por que? – ele me respondia virando pra mim. Hoje se eu pudesse descrever o clima que estava no carro naquela hora, diria para ouvirem Demons do Imagine Dragons e imaginar a cena.
-Você tá estranho. – afirmei, esperando que ele continuasse.
-Estranho, quem? – respondia ele rispidamente, fazendo uma pausa entre o estranho e o quem. Definitivamente aquele Caio não era o mesmo com o qual eu havia ficado na noite e manhã anteriores. Eu nada mais respondi e ele também se calou. Deixei ele em casa, e antes de descer ele me agradeceu. Dei tchau, e fui respondido com apenas outro tchau.
Quando cheguei em casa, recebi uma mensagem dele perguntando se eu havia chegado. Que coisa fofa! A preocupação demonstrada, mesmo ainda que por pequenos gestos como este, para quem ama, é uma grande coisa e pode ser um diferencial enorme entre relações. O respondi:
“Sim Caio, cheguei. Só estou chateado, mas bem. Obrigado por perguntar.”
Não demorou muito e chegou a resposta.
“Eu sei que sou o culpado disso, me desculpa. Gosto de você”.
Tremi na base. Ao mesmo tendo em que eu estava sentido com ele pelo que disse e como agiu comigo, meu coração batia mais rápido pelo “eu gosto de você”. O que será que tinha acontecido com ele pra que ele agisse daquele jeito?
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Entre Nós - [Romance Gay]
Teen FictionVocê acredita no Amor? Acompanhe Gustavo na descoberta do amor, e na difícil tarefa de lidar com um relacionamento gay. Descubra que todas as formas de amor são válidas e que independente da condição natural de cada um, todos podem ser felizes.