O tempo passou e nós continuamos ali, juntos. Também, estando com ele nada mais era necessário pra mim. Quando mal percebi já era a hora do almoço e minha mãe chamava. Levantamos assustados, e rimos depois de ver que aquilo era desnecessário.
-Bom dia outra vez, amor. - falava Caio rindo. Ouvir amor da boca dele fora uma das melhores coisas que eu já tinha ouvido na vida. Minha mãe bateu outra vez na porta chamando pro almoço, então nos apressamos.
Como meu quarto era uma suíte, lavamos o rosto e fomos para a cozinha. Na mesa, meu pai e minha mãe estavam sentados apenas nos esperando. Ao ver meus pais, Caio ficou roxo de vergonha e disse apenas um bom dia. Minha mãe, assustada pela raridade de o filho dela receber alguém em casa além de Amábile, tratou de abrir um largo sorriso. Meu pai o cumprimentou com um aperto de mãos e nos sentamos à mesa.
Tudo quanto é tipo de assunto passou por nossa roda de conversa naquele tempo em que ficamos a mesa. Meu pai, parecendo que já conhecia Caio desde a infância, fez aquela típica pergunta que nossos parentes costumam fazer quando nos reunimos.
-E as namoradas, Caio? - perguntou ele, deixando meu menino ainda mais vermelho. Caio estava tipo uma pimenta, não sabendo onde enfiar a cara.
-Para pai. - cortei meu pai antes que Caio tivesse um infarto ou algo do tipo, de tanta vergonha que estava sentindo. - Não é legal constranger as visitas assim. - continuei, enrugando a testa torcendo para que meu pai entendesse o recado.
-Ah filhão, só quero saber se ele é encalhado que nem você que não pega nada. - disse, em tom de ironia e com um palavreado fora do comum enquanto minha mãe ria discretamente. Caio não aguentou e riu junto com minha mãe, ambos se olharam e riram da sinceridade do meu pai. Nem parecia mais que a pergunta era direcionada a ele ou que ele sentia vergonha. Fiz uma cara feia e passei a ignorar tanto meu pai, quanto minha mãe e Caio. A essa hora quem sentia vergonha era eu.
Depois do almoço, Caio fez questão de ajudar minha mãe a tirar a mesa e até a louça pra ela. Enquanto isso meu pai foi dormir, afinal havia acordado cedo. Eu fiquei na sala vendo tv, dando espaço para que Caio pudesse conversar com minha mãe e quem sabe ter um pouco mais de proximidade com ela, já que o planejado era pra ela ser a sogra dele. Não demorou muito e pude ouvir um agradecimento vindo da minha mãe, seguido dos dois vindos da cozinha. Minha mãe foi para o quarto e Caio veio se sentar ao meu lado no sofá. Nesse exato instante um sentimento de falta inexplicável da Amábile tomou conta de mim, uma ponta de vergonha também. Eu a havia deixado de lado depois que começara a me relacionar com Caio, e isso não era coisa pra se fazer com a melhor amiga. Aquela menina já havia passado por tantas comigo, e foi em meio a um desses devaneios que Caio me pegou sorrindo meio abobado.
-No que estava pensando? - questionou-me.
-Na Amábile, e em como eu a abandonei. - respondi sem hesitar. Caio não tinha culpa de eu ter abandonado minha melhor amiga, mas por estar comigo tinha o dever de me ajudar a reparar o erro que eu havia cometido.
-Vamos na casa dela uai. - ele respondeu, já entendendo tudo. Uma das coisas que sempre gostei em Caio foi sua capacidade de me entender antes mesmo de uma frase estar completa. Ele se levantou, me estendeu a mão me apoiando para levantar e disse. - Vamos?! - apenas assenti com a cabeça e busquei as chaves de casa no meu quarto. A casa dela não ficava longe, então em poucos minutos chegamos lá. Ao chegar no portão preferi ligar pra ela pelo celular, evitando toda a barulheira causada pelo interfone.
-Apareceu, né? - disse ela atentendo o celular depois do segundo toque. Apenas sorri e ela continuou. - Tudo bem?
-Sim, e estou com saudades de você. Abre o portão, quero te ver. - ela ficou visivelmente assustada, e meio descabelada veio até o portão.
-Eu não acredito! - disse abrindo aquele sorriso do qual eu tanto tinha saudade. Logo pude ver o portão se abrindo e entrei. Tratei de dar aquele abraço capaz de tirar o atraso em minha amiga, enquanto Caio assistia a cena sorrindo logo atrás. Quando me afastei, senti uma lágrima correndo tanto em mim quanto nela. Eu sabia que minha atitude não havia sido a certa, e queria me desculpar com ela. -Venham, entrem. Meus pais não estão. - disse ela enquanto nos puxava para dentro da casa. Até aquele momento estava dignamente rodado, pois Amábile ainda não o havia cumprimentado. - Podem se sentar no sofá meninos, já volto. - disse ela correndo para o banheiro, provavelmente indo pentear o cabelo.
-Eu posso contar de nós dois pra ela? - perguntei enquanto encarava Caio de maneira séria. Já havíamos conversado sobre Amábile e ele sabia o quão importante ela era pra mim, e em como poderíamos confiar nela.
-Pode, Guga. Todos nós precisamos de amigos e eu sei o quanto ela representa pra você. - ele começou. Outro ponto forte dele era a compreensão em certos assuntos chave. - Eu só tenho medo dela não nos entender. - de cabeça baixa ele terminava. Não nego que aquilo também era um medo meu, mas sabendo do que eu sabia em relação a Amábile, fiquei mais tranquilo.
-Pronto, voltei. - disse ela vindo até nós e sentando-se ao meu lado. Estávamos eu e ela sentados em um sofá de três lugares, e Caio estava sentado em outro a nossa frente. Depois de conversarmos sobre saudades, novidades e fofocas da escola, pude perceber que pedir desculpas a ela era desnecessário. Mutuamente, sabíamos que precisávamos um do outro e nos entendíamos bem. Amábile era compreensiva, me conhecia desde criança.
Durante a conversa toda eu pude perceber que Caio parecia incomodado. Talvez fosse pelo fato de estar meio deslocado, ou pela apreensão da espera pelo momento em que contaríamos a ela a verdade sobre nós.
-Amábile, você é minha melhor amiga. - eu começava a falar, preparando o terreno para revelar o nosso segredo. - e sabe o quanto é importante pra mim. -eu terminava a frase, depois de um suspiro. - e tenho uma coisa pra te contar - ela apenas sorriu e disparou.
-O quê? De vocês dois? - ela apontava enquanto sorria, como se dissesse "eu já sabia". Quando me atentei ao olhar de Amábile, vi que ela olhava para Caio com um olhar de ternura, que demonstrava aceitação pelo nosso relacionamento.
-Como? - Caio cortou o encanto e disse sua primeira frase desde que chegou. Pude sentir uma pontada de temor na voz dele.
-É só olhar pra vocês - exclamou a nossa amiga. - Existe um olhar, uma coisa que eu não sei descrever entre vocês. - os olhos de Caio brilhavam. Parecia que todo o medo que ele tinha havia desaparecido. - Vocês parecem se entender bem, e eu vejo que o Gustavo tá feliz Caio, e é isso que vale. - ela terminou, agora olhando pra Caio.
-Nossa Amábile, muito obrigado por nos entender. Muito Obrigado mesmo! - Caio levantou e a abraçou. Agora eu sentia um alívio, uma coisa indescritível. Meu menino e minha amiga ficaram abraçados por minutos, até que ele continou. - Você não sabe o quanto isso é importante pra mim.
-Eu sei sim Caio, e justo por saber disso e por ver a felicidade do Guga é que eu dei tempo e espaço pra vocês, assim poderiam se conhecer melhor e curtir mais. - eu agora entendia. Eu não tinha mais procurado Amábile, mas ela também não tinha vindo atrás.
-Você é mesmo a minha melhor amiga! - disse olhando pra ela. A emoção de ter o apoio de Amábile e Caio ao meu lado me fizeram chorar naquele dia, algo que faço muito pouco sem estar triste. Ela apenas sorriu e demos um abraço triplo.
Agora com os três participando da conversa e entre muitas risadas, conversamos por mais uma hora e ao final nos despedimos de Amábile. Eu e Caio andamos juntos por algumas quadras até chegarmos a esquina onde ele teria que seguir por um rumo diferente, e assim fizemos. Ao nos despedirmos, olhamos para todos os lados e ao ver que não vinha ninguém, Caio me abraçou e disse:
-Vai com Deus amor. Se cuida.
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Entre Nós - [Romance Gay]
Teen FictionVocê acredita no Amor? Acompanhe Gustavo na descoberta do amor, e na difícil tarefa de lidar com um relacionamento gay. Descubra que todas as formas de amor são válidas e que independente da condição natural de cada um, todos podem ser felizes.