#05 - Relaxa..

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Passado o susto inicial, minha primeira atitude foi abaixar e ver o que havia acontecido com ele. Tinha sangue na boca e parecia ter apanhado. 

- Cara, que que aconteceu ? – eu perguntava, já agachado ao seu lado. 

- Me tira daqui, por favor. – ele falou, com a voz um pouco embargada de choro, que demonstrava uma mistura de medo e vergonha. Ajudei-o a levantar e passei minha mão por suas costas ajudando-o a andar. Não dava pra ver ao certo onde ele tinha apanhado, mas percebia-se que ele sentia dor, pois quando eu o tocava ele falava coisas do Tipo “Ai, tá doendo”. Andei mais do que apressado com ele e não hesitei de levá-lo para minha casa, que não era distante dali. 

Agora já em casa, abri a porta com certa dificuldade e o pus pra dentro. O levei para o meu quarto, afinal a área não era um bom lugar pra se ficar a essa hora da noite, ainda mais com alguém no estado dele. A sala também era dispensável porque caso minha mãe viesse até ela faria um desespero descomunal pelo estado dele. 

- Caio, que que aconteceu? – Eu perguntava, fechando a porta do quarto e me sentando na cama, em frente a cadeira dele. Ele estava sentado na cadeira do computador, agora um pouco mais calmo.

- Eu saí da festa da Carol,e fui vir por aquela rua. – eu o interrompi para um típico ‘uhum’.- Eu tava com o meu iPhone e eu tava tentando ligar pra minha irmã. – outro ‘uhum’ dado por mim- Aí eu vi um cara que eu não gostei da cara e tentei correr, mas ele foi mais rápido que eu e me pegou. Ele me derrubou, me deu uns chutes, dois socos na boca e depois fugiu correndo. Levou meu iPhone, minha carteira e meu relógio. - Senti dó, e uma vontade enorme de abraça-lo e cuidar dele ali mesmo.

- Quer que eu te leve ao hospital ?. – Concordemos, era uma pergunta sem noção a fazer.

- Não precisa, eu já estou bem. Eu só quero um pouco d’água e vou pra casa. – eu o interrompi. Insisti mais um pouco em levá-lo ao hospital, mas ele não aceitou, então cedi a ideia dele ir para casa.

- Ok, você vai pra casa então, mas eu vou te levar. – eu falei, indo em direção à cozinha pegar as chaves do carro da minha mãe. – Vem, vamos, vou te deixar em casa. – Esqueci da água que ele queria, mas o levei pra casa. 

A casa dele também não era tão perto da minha naquela época, ficava a umas 10 quadras de onde eu morava.

- Tua mãe não encrenca contigo em relação ao carro?. – ele perguntou, puxando algum assunto enquanto colocava o cinto se segurança. 

- Não se eu não demorar muito. – Respondi, dei um sorriso amarelo e olhei pra frente novamente. Depois disso ele se calou completamente até a casa de Marina, sua irmã mais velha. Chegamos e eu toquei o interfone, já que ele não havia levado a chave junto. Ela devia estar dormindo, já que demorou pra atender e eu tive de tocá-lo várias vezes

- Oi  –falou uma voz sonolenta ao atender o interfone.

-Mana, sou eu. – falou Caio, tentando passar a mensagem de “Eu to bem”, sem me deixar falar nada. Marina nada respondeu e veio até o portão para abri-lo. 

- Meu Deus do céu, que que houve contigo guri ? – ela falava espantada ao me ver ao lado de Caio, naquele estado. 

-Eu fui assaltado Mana, só isso. – eu continuava em total silencio, feito poste em frente aquele portão. Marina fez sinal para entrarmos e lá eu expliquei a ela o que havia acontecido, enquanto Caio ia tomar banho. 

-Eu tava voltando pra casa quando eu achei ele no chão, chorando. Ele apanhou bastante pelo que ele me disse, seria bom se você o levasse ao médico, porque eu tentei mas ele não quis. – eu explicava a ela. – Aí eu levei ele lá pra casa e de lá de casa eu o trouxe pra cá. 

- Obrigado Gustavo. –a essa altura já tinha me apresentado à Marina. A irmã mais velha de Caio era gerente de uma empresa grande que se instalara há pouco em Rio Claro. Alta, magra e com cabelos castanhos, Mariana era o tipo de mulher que marcava presença onde quer que passasse. 

- Imagina. Manda ele ter mais juízo e tá tudo certo. – dei um sorriso amarelo depois de dizer aquela besteira. Quando eu ia me levantando pra ir embora, eis que me surge aquele garoto só com uma bermuda ali na sala. Ele estava roxo em toda a região torácica e abdominal, pelo jeito tinha levado uns bons chutes. Mesmo roxo, devo dizer que seu corpo era lindo.

-Bom, eu já vou indo. – eu falava já me levantando, não querendo prolongar aquele momento nem mais um segundo. Quando chegávamos perto da porta, o celular de Marina tocou e ela correu pra atendê-lo. Ficamos apenas eu e Caio na sala.

- A Marina ainda quer falar contigo, mas acho que ela vai demorar. Deve ser o pai ou a mãe perguntando tudo que aconteceu nos mínimos detalhes. - disse ele, fazendo gesto de siga-me indo em direção ao quarto. Naquela altura Marina já havia enviado um sms aos pais deles, pedindo que assim que acordassem ligassem pra ela. 

Andei atrás de Caio até seu quarto, e me espantei. Era tudo muito organizado, e haviam prateleiras cheias de livros de ficção, romance e CD's de música internacional. Havia Alanis, Pink Floyd, P!nk, Avril, 30 seconds to Mars, entre outros. Ele já me fazia o convite para entrar, enquanto encostava a porta. 

- Cara, eu apanhei muito daquele cara. - Mostrava ele virando as costas pra mim. - Não posso negar que meus pensamentos foram de agarra-lo ali mesmo, daquele jeito. Algo estava tomando conta de mim, um desejo, uma vontade que eu nunca havia sentido antes. - Levanta, vem aqui. - falava ele, em pé na minha frente.  - Eu tenho que te agradecer Gustavo, não sei o que seria de mim agora sem você. - eu estava em pé, tremendo na base com cada palavra que aquele garoto falava.  E ele veio e em abraçou, forte e com vontade. 

Era uma sensação descomunal abraçar aquele cara. Seu cheiro  era melhor que muitos perfumes, sua pele era macia e suave, e seu ombro.. ah, seu ombro, era onde eu sempre iria querer ficar. O abraço durou muito. Confesso que viajei muito, e acho que ele também. Não sei ao certo o que aconteceu durante aquele abraço, mas ambos parecíamos mexidos. Por fim, ele me apertou, deu um sorriso e se afastou. Quando o olhei,  lá estava ele com uma lágrima correndo rosto abaixo. Foi uma das cenas mais lindas que já vi.

- Caio, eu... eu.. - eu não sabia o que falar. Não saía nada, minha boca travava e minhas mãos estavam geladas..- ele me olhava com olhar penetrante. Isso me deixava ainda mais aflito. - Eu gosto muito de você. - Me encorajei e disse. Podia ser besteira, mas eu disse e por dentro já esperava uma reação negativa.

- Relaxa.. - falou ele com voz suave, sorrindo pra mim com sorriso lindo como o de um bebê. Antes dele dizer qualquer coisa Marina chamou, e fomos pra sala. De lá andei até o portão, seguido dele e da irmã dele, que me muito me agradeceu por o ter ajudado.

-Velho, sei que já tá repetitivo, mas obrigado. - ele exalava gratidão, e não nego, eu gostava disso. 

Entrei no carro e fui embora, aquilo já era o bastante por uma noite. Cheguei em casa, deitei na minha cama e apaguei. Mas mal sabia eu que as surpresas estavam só por começar.

Entre Nós - [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora