#19 - Doce Vingança

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Entre Nós.

        Esse era o lema da amizade que vínhamos fortalecendo eu, Caio e Amábile há duas semanas, tempo que havia se passado desde aquele dia em que estivemos em sua casa. Era simples assim, tudo ficava entre nós. Aliás, Amábile era nossa cúmplice no plano que havíamos armado para desmascarar a Caroline e libertar o meu amor das garras daquela megera. Porém, até que conseguissemos executar aquele plano, Caio era obrigado a cumprir os mandos e desmandos dela para nos proteger. Não que nos assumir fosse problema para mim, mas ele preferia e gostaria de se preservar, e eu o respeitava.

        Caio enrolava Caroline com maestria. Ela queria mais do que apenas carinhos e beijos da parte dele. Ela queria sexo, o que sabia que iria me afetar de uma maneira irreparável. E eu tenho certeza de que se ela conseguisse, viria correndo para me contar, apenas por criancisse ou para me machucar, afinal de contas eu era a "bicha" segundo ela. Ele falava que não estava pronto, que não sabia como fazer, entre outras coisas. A verdade é que se fosse comigo a coisa funcionaria, se é que me entendem.

        Sentados sob uma das árvores do parque da cidade, nós três planejavamos, ríamos, brincavámos. Ali era nosso refúgio, e como na promessa, tudo ficaria Entre Nós. Em meio a uma das inúmeras risadas que demos naquele dia, recomeçavamos o tal plano outra vez.

        -Você tem certeza disso, Amábile? - era Caio quem perguntava, preocupado com as possíveis consequências que aquele plano poderia trazer para nossa amiga. Por mais que soubessemos que a vingança seria doce, tínhamos medo do que poderia acontecer. Ela apenas assentiu com a cabeça, e contínuamos a repassar cada detalhe da trama. Quando finalmente terminamos, rumamos cada um para sua casa, menos Caio que deveria passar na casa da namoradinha, como exigido por ela. Menina Ridícula que só despertava ódio em mim.

Mas ela que espere, minha doce vingança estava por vir. E o melhor: seria no dia seguinte.

        Diferente de todos os outros dias, acordei apressado no dia seguinte e corri para o banho. Até mesmo minha mãe se assutou com, ao seu ver, tamanho entusiasmo para ir à escola. Em questão de 10 minutos eu já estava de banho tomado e uniforme a postos. Peguei minha mochila que estava jogada em um dos cantos do quarto e saí em ritmo acelerado para a escola. Hoje era o dia de executar o plano contra Caroline.

        -Hoje esse projeto mal feito de piriguete aprende com quantos paus se faz uma barraca. - pensava, ao avistar Amábile ao fundo, já dentro do colégio. Seu poder de persuasão era impressionante. Ela havia conseguido convencer até o monitor da escola a lhe entregar a chave do portão. Logo depois Caio chegava também, trazendo em sua mochila um dos itens fundamentais em nosso plano: uma câmera digital. Se tudo desse certo, em poucas horas teríamos nossa paz restaurada.

        -Todos prontos? - perguntava Amábile piscando para nós dois. Meu orgulho em ser o melhor amigo daquela garota que agora tanto nos ajudara crescia mais e mais a cada dia. Em poucos minutos Caroline chegaria e poríamos em prática todo o esquema.

        Passos foram ouvidos em direção ao portão da escola. Era ela. Eu e Caio corremos para nossos esconderijos, e conforme o combinado, Amábile receberia Caroline.

        -O que você tá fazendo aqui? - Caroline já chegava exigindo explicações.

        -Vim te dar bom dia amor! - Amábile estava seguindo o plano, mesmo exalando algum deboche por entre meio seus poros.

        -Quê? - respondia a outra, atônita. Era tudo o que precisavamos. - Tá doida? - continuava.

        -Não. Eu sei que você não queria nos assumir, ainda mais depois do Caio estar ficando com você por medo das suas ameaças, mas eu estava com saudades e não aguentei. - eu estava surpreso com a dissimulação de Amábile. Como ela conseguia ser tão falsa, e ao mesmo tempo tão convincente? Antes mesmo de Caroline conseguir responder, Amábile já estava com as mãos no braço de nossa arque-inimiga, em tom um tanto quanto carinhoso. - Eu sei que você quer apenas nos proteger, mas forçar alguém a fazer algo que não quer apenas por chantagem é muito ruim. O Caio é um menino bom e está com medo de que você espalhe aquela mentira sobre ele caso ele não fique com você.

        -Você tá doida. - Caroline a interrompia, enquanto a olhava com um olhar de nojo. Apenas um pequeno contratempo naquele nosso plano. - Eu não to ameaçando ninguém. - agora ela gritava. A coisa estava começando a ficar um pouco mais tensa.

        -Não, não estou amora. - Amábile a respondia, insinuando um substantivo feminino para amor. - Para de fingir, não tem ninguém olhando.. - nossa aliada se aproximava cada vez mais de nossa rival. Estava tudo dando certo. - Não adianta você ficar o ameaçando com mentiras, deixe-o em paz e vamos viver nosso amor. - Amábile sorria, ainda mais perto de Caroline. Rostos quase colados, narizes a ponto de se encostar.

        -Sai daqui Amábile. - era essa a reação que esperávamos da Caroline. Amábile sem muito hesitar a beijou, para que pudessemos concluir nosso plano: depois de filmar a atuação magistral de ambas as partes, fotografamos o beijo para usar como arma de troca. Eu sei, você está se perguntando se eu seria capaz de pôr o da minha amiga na reta, mas não, eu não seria. Conhecíamos bem a Caroline, e como típica garota riquinha, preservar sua imagem estava acima de tudo. O beijo durou pouco, mas foi o suficiente para que, ao fim, Amábile pudesse bater palmas enquanto mordia seus próprios lábios.

        -Perdeu, mané! - ela gritava debochando de Caroline, que sem entender nada fazia cara de confusão. Eu e Caio nos mantivemos escondidos, afinal de contas já tínhamos assistido a N filmes de espiões, e sabíamos bem que quando tínhamos um trunfo em mãos devíamos proteê-lo bem pois a chance de alguma merda acontecer era enorme.

        Caroline até quis bater em Amábile, mas como já haviam alguns alunos chegando ela se manteve calma. Como eu já disse, preservar a imagem era tudo.

        A aula demorou mais do que o normal a passar naquele dia. Talvez a ansiedade de conversar com meu amor e minha amiga fosse maior do que qualquer outra coisa. Havíamos combinado que assim que saíssemos da aula naquele dia iríamos direto para o parque. Caio tinha um notebook na mochila para conseguirmos baixar o vídeo e as fotos, e como eramos espertos, enviaríamos todos os arquivos por e-mail para os três, afim de mantê-los seguros. Finalmente a aula acabava, e quase correndo nos dirigíamos àquele parque. Chegando lá, fizemos toda a última parte como combinado, e assistimos ao vídeo.

        -Perfeito. - abraçado aos dois, isso era tudo em que eu pensava. - Estamos livres dela. - disse voltado à Caio, em meio a alguns rápidos beijos. Tínhamos muito o que agradecer a nossa fiel escudeira, mas ali não era o momento. Amábile merecia muito mais que aquilo, afinal se arriscou por nós. 

        Agora era tudo questão de esperar. Tínhamos que esperar a Caroline vir até Caio fazer mais alguma das típicas exigências loucas dela, e pronto, pessoalmente eu mesmo iria acabar com toda aquela história.

        A derrota tem um sabor amargo, mas a vingança, ah, a vingança é doce, e pode ser bem pior do que aquilo que te derrubou. - Foi isso que pensei no dia seguinte, logo após voltar da casa de Caroline. Agora sim, eu e Caio podíamos nos amar em paz.

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