Não sei exatamente o que estava acontecendo, mas Caroline não dava as caras na casa de Caio, muito menos na escola já faziam alguns dias. Não sei se a assustamos ou se ela já tinha sacado o que estavamos armando, fato era que estavamos em meio a uma paz muito anormal. Passamos a ir pra escola em trio, Caio, Amábile e eu. A presença deles me fazia sentir mais forte, acho que é isso que a amizade e o amor fazem, não é? Te tornam imbatível fronte as adversidades que nos são apresentadas.
Era quarta feira e as duas primeiras aulas eram tediosas, como a grande maioria naquela época. Não que eu fosse mal aluno, pelo contrário, eu nunca gostei muito da explicação dada pelos meus professores e sempre aprendi muito mais simplesmente lendo ou vendo alguns vídeos no youtube. Já as duas últimas seriam educação física, uma das minhas aulas preferidas, não pela minha disposição em praticar atividades físicas, mas sim pelo fato de poder assistir o Caio jogar futebol. Vê-lo correndo pra lá e pra cá junto de um monte de homens me causava um pouco de ciúme, mas eu sabia que ele era meu, e pelo que já passamos, não seria qualquer um que iria tirar aquele menino de mim.
Passei as duas horas de aula que tínhamos sentado na arquibancada do ginásio o assistindo com Amábile sentada ao meu lado. Ao tocar o sinal que nos dispensava para irmos para casa, Caio rumou em nossa direção e juntos íamos embora até que alguem o chamou pelo nome.
-A diaba resolveu dar as caras? - Amábile começava dando um passo a frente e ficando em posição de nos defender. Era Caroline, escorada em uma das pilastras do muro da escola. Pelo jeito ela estava ali há tempos, apenas nos esperando.
-Cala a boca que eu não vim até aqui pra falar com você. - a megera respondia enquanto andava para um dos lados, tentando olhar pra Caio. Dava pra sentir que Amábile estava ficando nervosa e que meu pequeno estava ficando assustado. - Meu assunto é com o Caio, e é melhor pra vocês três se ele vier comigo. - terminava apontando o dedo pra nós três. O tom de voz dela era sombrio, de raiva. Mas não me deixei abater.
- O Caio não tem nada pra falar com você Caroline. Pega teu rumo e some. - falei com tom de voz sério. Já estava na hora de eu tomar alguma atitude, eu tinha que defender o que era meu e o que eu queria pra mim. E a paixão que eu tinha por Caio, naquela altura do campeonato, era tudo o que eu mais queria viver. Ela me olhou estranho, depois retrucou.
-Vocês querem que a escola inteira saiba desse namorico de vocês? - dando um sínico sorriso ela continuou. -Acho que não, né? -piscou, enfurecendo a todos nós ainda mais. - Caio, vem comigo agora. - ela gritou, ressaltando ainda mais o "agora", tratando-o como um cachorrinho. Meu jovem menino estava quieto, pasmo com toda a situação. Amábile não aguentou e fez o que eu estava doido pra fazer. Sem muito alarde, agrarrou Caroline - distraída enquanto discutia comigo e com Caio - e a segurou pelo pescoço com o braço, quase a enforcando.
-Olha aqui menina, eu não tenho paciência pra pessoas como você que ameaçam os meus amigos, então escuta porque eu vou falar só uma vez. - Amábile estava possuída de raiva. Eu nunca tinha a visto assim, mas não nego que achei a situação o máximo. - Se você ameaçar, falar ou sequer olhar pra um dos meus amigos mais uma vez eu acabo com a tua raça. - minha amiga estava cada vez mais nervosa e ofegante. Caio e eu assistíamos a tudo parados, apenas torcendo pra que nossa amiga desse a lição que Caroline realmente merecia. Então ela continuou. - E eu não to falando de te bater não garota, eu to falando do vídeo que eu gravei e da novidade que eu vou espalhar pra escola toda. - pronto, o segredo estava parcialmente revelado e nossa arma secreta disparada. Caroline tentou dizer alguma coisa, mas tudo que conseguia era bater os braços e as mãos de maneira desajeitada. Amábile havia a dominado da maneira certa. - Eu vou falar denovo, ou você sossega ou eu espalho pra escola toda que você é lésbica e que inventou a estória toda do Caio e do Gustavo só pra se vingar deles, porque não quiseram namorar de fachada com você. - tivemos que rir da cara de chocada que Caroline fez. Nosso trunfo naquele momento era tamanho que ela ficou sem reação. Amábile a soltou, vendo que um dos professores se aproximava do portão e via a cena.
-Isso não vai ficar assim. - dizia ela, enquanto andava ladeira abaixo. O professor agora próximo de nós e observava a toda a cena.
-Tchau amiga, foi ótimo conversar com você também linda! - respondia Amábile, sinicamente, apenas para despistar o professor. Nós três soltamos uma boa risada ao ouvirmos aquilo, e o professor nada fez, afinal estavamos fora dos limites da escola e àquela altura já estava tudo resolvido. Eu e Caio abraçamos nossa amiga, pois finalmente teríamos paz. Estavamos aliviados, agradecidos e felizes.
A vingança nunca é o caminho recomendado, mas vez ou outra se faz necessária para que possamos viver em paz. Durante duas semanas Caroline foi a escola, mas sequer olhou pra nós. Nosso plano havia dado certo, estava tudo nos trilhos caminhando conforme deveria. Nossas tardes se resumiam em jogar video game, passearmos no parque e ficarmos juntos, eu, meu amor e nossa melhor amiga. Esta tudo perfeito, os dias passavam-se em paz e meu namoro não tinha como melhorar.
6 meses depois.
-Amor, você pegou tudo? - perguntei a Caio antes de sairmos de casa. Era final de semana, e Amábile havia nos convidado para irmos à fazenda do pai do novo namorado dela. Nós ainda não conhecíamos o rapaz, e como nossa intenção era proteger nossa amiga aceitamos a proposta. O passeio duraria de sexta a tarde até domingo, em uma fazenda localizada 40 km distante da cidade. Íamos no carro dele, e como meus pais estavam viajando naquela semana Caio dormiu comigo naquela noite.
-Pela terceira vez sim meu anjo. - ele respondeu, vindo em minha direção e me dando o selinho que me dava sempre que estavamos sozinhos e nos despedíamos. Mesmo depois de meio ano mantinhamos nossa relação em completo segredo, acho que porque não estavámos prontos para assumir isso para nossos pais e amigos. Apenas sorri e o segui quarto afora. Sentamos na sala e ligamos a TV para esperar por Amábile.
-O que você quer assistir? - perguntei a ele, enquanto passava rapidamente pelo guia da tv.
-Você nú na tv. - respondeu, num tom safado e engraçado ao mesmo tempo.
-Isso você tem ao vivo e quando quiser. - respondi, rindo e indo em sua direção. Ficamos ali, juntos, nos beijando e nos acariciando por mais alguns minutos até que Amábile chegou e buzinou em frente de casa. Estava na hora de irmos pra fazenda.
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Entre Nós - [Romance Gay]
JugendliteraturVocê acredita no Amor? Acompanhe Gustavo na descoberta do amor, e na difícil tarefa de lidar com um relacionamento gay. Descubra que todas as formas de amor são válidas e que independente da condição natural de cada um, todos podem ser felizes.