Coisas Brancas

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— Três jovens estão desaparecidos desde sexta feira a noite, segundo algumas pessoas, foram vistos por último próximos a região do antigo Hospital Estadual da cidade. A polícia está fazendo buscas, porém até o momento não trazem nenhuma novidade. — Assim dizia o radialista Marcos Souza em seu programa jornalístico dominical da Rádio 96 FM. Seria uma notícia "normal" para se noticiar em um domingo, pois jovens sempre davam um certo sumiço e depois apareciam fedendo a álcool e com semblante de terem abusado de quantidades imensas de droga. Seria normal para algumas capitais, cidades grandes ou até medianas, mas não para a pequena de Serra Verde, que quase nunca acontecia algo fora do normal nos dias atuais, geralmente se noticiava apenas alguma briga de bar aqui e acolá com alguns bêbados levemente feridos e pequenos furtos isolados. Essa noticia deixara a população assustada, algo estranho e raro estava acontecendo na pequena Serra Verde, porém essa notícia fora mais chocante e assustadora para um habitante, era Seu Júlio, que antes do radialista terminar de falar o caso dos jovens, deixara sua xícara de café se estraçalhar pelo chão, soltando um grito assustador que fora ouvido por quase toda a cidade.

— Nãããããããão! — gritava Seu Júlio desesperadamente. — Isso não pode estar acontecendo, eu pensei que havia acabado. Maldito! 

— O que aconteceu vovô? — Pergunta Daniela, a neta do meio de Seu Júlio que estava mexendo em seu notebook. 

— Esses jovens são muito idiotas, não eram para terem entrado naquele maldito lugar, agora provavelmente estão mortos. Aquela coisa os matou. — Dizia Seu Júlio histericamente, e ignorando a jovem garotinha. 

— Me responda Vovô, eu estou começando a ficar com medo. 

— Olha minha querida Daniela, eu prometi que nunca iria falar mais sobre isso, mas como isso voltou a acontecer, eu infelizmente tenho que te contar.

 — Tá bom Vovô, mas primeiro quero que se acalme. Vou buscar um copo de água com açúcar para o senhor. Daniela fora para a cozinha preparar a água para o velho, mal sabia ela que estava prestes a descobrir uma história bem macabra.

A jovem chega com o copo e da para o velho, que a bebera com uma rapidez absurda, parecia alguém que havia ficado dias sem tomar uma gota sequer de água.

 — Bom minha querida, eu confesso que vou me sentir mal lhe contando isso, pois jurei por tudo que é mais sagrado que eu não voltaria a remoer esse assunto, porém é inevitável, quero desabafar. Mas quero que acredite em mim e não me ache um velho maluco. — Dizia Seu Júlio ainda assustado. 

— O senhor sabe que acreditarei vovô, mas se acalme primeiro. 

— Olha lindinha, tudo começou nos anos 40, a data eu nem me recordo bem, eu ainda nem era nascido para você ter uma ideia. Antigamente não havia hospitais na nossa região, o mais próximo ficava na capital, ou seja, quase 300 km daqui. Certa vez um deputado que era natural de Lagoa Branca, resolveu levar um projeto para o governo do estado para que construísse um hospital na nossa região, pois quem adoecia de forma grave e não tivesse condições para ir para capital com certeza esperaria pela morte em sua residência. O governador aprovara o projeto, e Infelizmente nossa cidade fora escolhida para ser recebê-lo. 

— Mas vovô, não era para ser um motivo de felicidade? 

— Calma que lhe explicarei tudo, desde o motivo do abandono e até do motivo de sua maldição. Mas me traga outro copo d'água antes, ainda estou nervoso com essa notícia. — Dizia Seu Júlio entregando o copo vazio para garota com muita tremedeira em suas mãos.

Após tomar mais um copo d'agua com açúcar, Seu Julio, agora parecendo mais calmo continuou a contar a história do misterioso hospital abandonado. — Quando o povo soube da notícia da construção desse hospital na nossa cidade ficaram bem contentes, era uma esperança para salvar alguns enfermos não só daqui como também de cidades vizinhas. Meu falecido pai dizia que na época houve uma grande festança para comemorar e tudo mais. O hospital que no início seria a solução para os doentes da cidade, por fim se tornou um investimento desperdiçado.

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