Caro amigo Eduardo, aquele dia você me perguntara o porquê de meu porão sempre estar trancafiado, acorrentado e com várias proteções. Saiba que isso é um segredo de família que venho guardando desde minha infância, porém quero lhe contar, és meu melhor amigo e confio em ti. O que há ali não é nenhum tesouro, tampouco tem valor algum, mas lhe garanto que depois de ouvir o que contarei, creio que não conseguirá dormir essa noite.
Não sei se você sabe, mas sou bisneto de um impiedoso e maléfico escravocrata chamado Joaquim Ferreira. Segundo dizem, ele dava o pior tratamento possível para seus escravos e serviçais. Ele era conhecido por torturar de mil e uma formas os pobres coitados, isso sem contar que assassinara vários durante muitos anos. Alguns pobres até que tentavam fugir dessas atrocidades, mas geralmente eram pegos e sofriam o dobro de castigo. Para se ter uma ideia, até outros senhores, também donos de escravos, condenavam tais atos praticados por meu bisavô.
Nossa família também sofrera bastante com a crueldade do velho. Ele teve 18 filhos, sendo 10 homens (incluindo meu avô) e 8 mulheres. Eles foram criados das formas mais rígidas e violentas possíveis. Segundo meu falecido avô, eles eram espancados pelo velho frequentemente. Também dizia que até sua mãe (minha bisavó), também era vítima da violência do cretino, sendo que na maioria das vezes ela apanhava por defender as próprias crianças.
Mas essa crueldade toda teve um preço, Eduardo. Um preço que até hoje toda minha família paga. Entra geração e sai geração, e sempre estaremos condenados. Tudo começara com uma tentativa de fuga sem sucesso de 5 escravos, que ao serem pegos, foram torturados até a morte. Porém um desses pobres, incrivelmente resistira aos ferimentos. O escravo sobrevivente prometeu se vingar de meu bisavô, e criara um objeto maléfico, Eduardo. Não que meu bisavô não merecesse punição, mas a vingança do escravo afetou e afeta até hoje pessoas inocentes. O escravo que era praticante de algumas religiões obscuras, criara um estranho boneco e o deu de presente para uma das filhas de meu bisavô. O Escravo dizia que seria seu pedido de desculpas por sua frustrante fuga, e infelizmente, meu bisavô aceitara o maldito presente. A partir daí começara a perdição dos Ferreiras.
O boneco era feito de palha, ele usava uma roupinha vermelha com detalhes brancos. Seu rosto era deformado, não tinha nariz e nem boca, tinha somente pequenos olhos negros feitos por uma semente de uma árvore desconhecida, que creio que era de origem africana. De início todos achavam que seria apenas mais um boneco normal, apesar de sua terrível aparência. Pensaram que seria um boneco artesanal como tantos outros que ali eram feitos pelos escravos, pois os mesmos fabricavam muitas coisas nos arredores de suas senzalas. Meu avô que na época era um garotinho dizia que o boneco passava uma energia estranha. Sentiu algo macabro no boneco desde que o viu pela primeira vez, nos braços de Antonieta, minha Tia-avó que infelizmente não cheguei a conhecer. E meu avô estava certo, fatos sinistros estavam prestes a acontecer.
Os dias foram passando e várias coisas estranhas foram acontecendo naquele casarão. Durante a noite se ouvia constantes barulhos de algo se mexendo e até correndo pela casa. De início pensaram que era algum rato, pois haviam vários naquele local. Mas infelizmente não era rato e nem qualquer outro animal: era o maldito boneco, segundo Antonieta. A garotinha dissera que o boneco, agora chamado carinhosamente de Joãozinho, ganhara vida e que lhe dizia coisas horripilantes. A criatura dizia que mataria meu bisavô e toda nossa antiga família, dizia que iriamos pagar pelos nossos crimes. Logicamente não deram atenção para a garotinha, exceto meu avô que sempre desconfiara do maldito boneco. Mal sabiam que as pobres crianças estavam dizendo a verdade.
Joãozinho que a cada dia estava assustando a família quebrando pequenas coisas, agora começara a causar medo também aos vizinhos e trabalhadores da casa. Era visto constantemente na janela com um olhar macabro. Aquela face inanimada ganhara traços cruéis, alguns diziam que o maldito boneco até os ameaçava de morte. Mas a família Ferreira, meu bisavô principalmente, não dava bola pra aquilo, dizia para os vizinhos que Antonieta e meu avô os amedrontaram com historias "malucas" sobre Joãozinho, e eles estavam caindo em mentirinhas de crianças com imaginações férteis. -Onde já se viu, boneco com vida? - Assim dizia despreocupadamente. Mas aquele boneco ainda aprontaria o que creio eu o que seria sua principal missão: assassinar meu bisavô.

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Contos De Terror
HorrorColetânea que reunirá alguns pequenos contos de suspense e terror. Aqui você encontrará histórias sobre vampiros; lobisomens; demônios; fantasmas e etc. Você irá se sentir em uma pequena cidade do interior Brasileiro, daquelas bem carregadas de lend...