Quaresma

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O mês de março entrou chuvoso na região do leste Mineiro, mas isso não era nenhum empecilho para o bar de Adolpho não estar lotado. Sempre com uma clientela fiel, principalmente às sextas, o bar era o ponto de encontro depois de uma longa semana de trabalho para os moradores da pequena vila de Cruzeiro. Mas o bar também não recebia apenas moradores locais, também recebia viajantes de todos os lugares, que por algum motivo passavam por ali. Mas naquela época do ano era estranho alguém de fora aparecer por ali, quem conhecia, jamais andaria naquelas estradas. Mas fora isso que acontecera naquela sexta chuvosa, aparecera um estranho desavisado no bar de Adolpho.

Ensopado e tremendo feito uma vara de bambu verde, o estranho fora adentrando no bar desesperado. Os clientes foram logo saber do que se tratava, mas já imaginavam o pior, afinal de contas, acontecia muitas coisas estranhas por aquelas redondezas naquela maldita época. Então Daniel, cliente e amigo de Adolpho, fora de encontro ao estranho:

— Olá rapaz, aconteceu algo? — Pergunta Daniel.

— E-e-estou precisando de a-a-ajuda. — Responde o homem gaguejando após ter tomado aquela chuva por muito tempo.

— Se acalme, diga-nos o que aconteceu. — Pergunta Adolpho passando o pano no balcão, que por sinal, já observava o rapaz desde que o mesmo havia adentrado o seu bar.

— Ele está todo molhado, traga uma toalha para ele, Adolpho. — Diz Murilo, outro velho cliente de Adolpho, que estava jogando bilhar com outros rapazes.

— Bom, vou ir lá dentro buscar, mas quando voltar, quero que nos diga qual o motivo de tanto espanto. — Diz Adolpho, preocupado e curioso com o misterioso rapaz.

— Tá-tá bom. — Respondeu o rapaz batendo queixo.

O bar de Adolpho também era a sua moradia. Aos fundos do balcão se encontrava uma cortina onde levava para uma sala e alguns quartos. Adolpho resolveu morar no bar desde que sua esposa falecera. Construiu mais alguns cômodos, e jurou que quando morresse, queria ser enterrado naquele bar, pois era a única paixão que lhe restava. Adolpho não tinha filhos, suas únicas companhias eram seus fiéis clientes, e morrer naquele ambiente, seria muito gratificante para o mesmo.

Depois de alguns instantes, Adolpho trouxera a toalha para o rapaz, e começou a interrogá-lo:

— Bom rapaz, aqui está sua toalha. Se enxugue, e se quiser eu lhe trago uma dose de cachaça das boas, vai até te prevenir da gripe que você provavelmente irá pegar. Mas enfim, porque estava desesperado daquele jeito?

O rapaz terminou de se secar, e agora mais calmo, começou a explicar o motivo de sua chegada até o bar de Adolpho. Mal imaginavam que o rapaz tinha feito uma bela de uma cagada:

— Bem, eu me chamo Nathan, e eu sou do Paraná. Eu estou de férias e queria ir para o nordeste para curtir um pouco com minha esposa...

— Ei cara, porque não passou pela BR 381? Ninguém pega esse atalho nessa época. — Interrompe Daniel

— Calma, Daniel. — Diz Adolpho para o amigo.

— Bem, eu ia pegar essa rodovia, mas como eu já estava muito cansado da viagem, eu pedi para o GPS calcular uma rota alternativa, e então ele me jogou nesse caminho, e como não calculei bem, meu carro acabou ficando sem gasolina.

— Um posto de gasolina por essas bandas é complicado, tem um em Santo Antônio Da Penitência, porém eu não te aconselho a ir lá. — Diz Adolpho, que mudara o semblante depois de mencionar o nome da cidade.

— Eu fui lá... — Diz o rapaz

— O quê? Você é louco? — Interrompe Daniel com os olhos arregalados e não acreditando em Nathan.

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