Permaneci em silêncio enquanto Acândia me entregava o uniforme. Branco e preto. Era tudo o que eu podia distinguir.
– Não chore, meu bem. – Acândia dizia carinhosamente, enquanto limpava as mãos no avental. Ela fazia isso quando estava nervosa. – Você estará protegida.
No começo daquilo tudo, eu estava tão animada. Mas agora, pensando nas coisas que podiam dar errado, me sentia completamente atordoada.
Eu estava com medo. Medo de tudo dar errado, de me reconhecerem, de ser sequestrada. Todas as minhas inseguranças latentes na pele. Eu era uma líder. Eu era uma princesa. Não podia chorar. Mas era o que estava fazendo naquele momento, em um dos quartos secretos do castelo, com a mão de Acândia em meu ombro, me consolando do jeito que podia.
As lágrimas caíam do meu rosto e não havia nada que eu pudesse fazer para contê-las.
Deixei-as cair.
Após um tempo, quando já sentia que podia controlar as emoções novamente, fechei os olhos e sequei as lágrimas. Eu tinha coisas a fazer. Não podia perder o meu precioso tempo.
Vesti o meu uniforme. Ele caía bem em mim.
– Eu ajustei uma ou duas coisas para servir perfeitamente em você, alteza.– Ela piscou e dei um sorriso em resposta, apreensiva.
Olhei-me no espelho empoeirado existente naquela sala e a primeira coisa que pensei foi: Não sou eu.
É claro que não é você, Meriya. Concentre-se. A garota do espelho se chama Melissa. E ela é sua identidade a partir de agora.
Acândia me olhou de cima a baixo e soltou uma exclamação.
– Esqueci os seus sapatos! – Olhei para as meias brancas em meus pés naquele piso cheio de poeira e achei que era mesmo melhor ter sapatos em uma hora dessas. – Eu já volto – cantarolou ela, saindo do quartinho.
Assim que ela fechou a porta, procurei relembrar como tudo aquilo tinha começado.
♔♔♔
Eu fui acordada aos berros em uma manhã de terça-feira quando recebi a notícia de que o palácio estava sendo atacado. Saí da cama aos pulos e botei as pantufas enquanto escutava gritos. Um guarda, acho que o soldado Marcks,me guiou até o quarto do pânico– que é basicamente um quarto secreto para entrar em pânico.
Quando tudo foi controlado tínhamos oito presos. Todos os presos se recusaram a contar quem era o seu líder e o que procuravam.
Ninguém se feriu. Isso significa que não houve brigas muito violentas. O que é, infelizmente, muito estranho.
Uma empregada pôde até jurar que eles passaram por ela sem nem dar bola. E algumas outras juraram o mesmo.
Enquanto andava pelo corredor principal – que estava bagunçado e sujo graças aquele pequeno imprevisto–,reparei em um bilhete na mesinha onde descansava um vaso de flor. Mas antes que eu pudesse ler, minha mãe puxou-o e mostrou ao meu pai. Os dois se olharam apreensivos.
Achei mais um bilhete, na Ala Leste, próximo do Salão de Baile. Não me atrevi a olhar e entreguei direto para os meus pais.
Tinha mais um bilhete na cozinha. Mas dessa vez, quem o achou foram dois guardas que estavam almoçando.
– Vocês leram o bilhete? – perguntei. Vistas as atuais circunstâncias, era bem claro que meus pais não queriam que isso chegasse às mãos de ninguém.
– Nem uma palavra, alteza.– Sorri em resposta.
Acabado os bilhetes pelo primeiro andar, a vida voltou a ser normal e tediosa– pelo menos, até o final do dia.– Não que ela não fosse feliz, mas eu estava quase sempre ocupada com as tarefas. Sempre ajudando o meu pai.
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Realeza Oculta
Lãng mạnMeriya Avaglow provavelmente é a princesa mais azarada de todas as gerações da Família Real de Hallenfy. Após várias ameaças envolvendo a princesa, o rei e a rainha decidem escondê-la até que todos os traidores fossem capturados e presos. Meriya en...