Não conseguia nem imaginar como Yanna estava. Me tremia apenas com a ideia de Kales me tocar. Fechei os olhos e tentei remover todo tipo de pensamento enquanto me dirigia até a cozinha. Coloquei a cesta de maçãs em cima da mesa e Acândia se aproximou.
– Você está bem? – perguntou, preocupada. – Está um pouco pálida.
Suspirei, e devo ter feito uma cara péssima depois disso.
– Vomitei.
Acândia piscou os olhos escuros pra mim, provavelmente tentando achar outro sentido para a palavra:
– Posso saber o porquê, alteza? – Ela colocou as duas mãos na cintura larga.
Desabei na cadeira ao meu lado e contei tudo: Desde a parte do grito da Yanna até a parte de Kales sendo arrastado pelo castelo.
Acândia ouvia concentrada, balançando a cabeça de vez em quando.
– Você é esperta, provavelmente descobriria sobre o passado de Yanna.
Não me contive e soltei a pergunta que estava presa na minha garganta desde o final da história de Yanna:
– E as outras meninas? Elas também trabalham aqui?
Acândia olhou para os lados e se aproximou de mim, sussurrando baixinho:
– Voltei naquele cabaré à pedido de Yanna algumas vezes, mas nunca mais vi aquelas mulheres. Foi como se tivessem sumido do mapa. Parece que essa é uma parte da história que vai permanecer sempre em branco.
Suspirei derrotada e deixei ser levada pelos pensamentos.
De repente, lembrei de algo. O pino. Acabei esquecendo com tudo que acontecera dês de então. Puxei ele do meu avental e mostrei para Acândia:
– Parando de falar do passado e voltando para o presente: Você já viu isso?
Ela pegou o pino e o girou nos dedos:
– Isso me parece familiar... – Acândia tocava o pino em todos os cantos. – Isso poderia ser um ganchinho de parede, talvez?
– Não pode ser. A base é lisa. Se fosse mesmo, provavelmente quem confeccionou o pino era bem idiota, já que é sem ponta.
Acândia me lançou um admirado olhar.
– Isso foi bem observado. Você tem algum talento para investigar, reparou?
Sorri sem graça. Claro que reparara. Minhas duas maiores paixões eram: Mistérios e política. Cresci em meio a politica e adorava essa aura de sentir que um dia eu também faria mudança. Claro que eu já fazia mudança, mas queria sentir que as pessoas dessem valor ao meu trabalho de verdade. Ninguém mais além da minha família, de Susie e de Jane pareciam notar o meu esforço.
Balancei a cabeça e me concentrei na conversa. Peguei o pino novamente e olhei a base.
Não, eu estava enganada. A base não era lisa. Mas não tinha ponta.
Tinha alguma coisa escrita saindo para fora da base. Estreitei os olhos. Uma letra? Duas? GE? FO? AM? Uma cruz? Não consegui identificar.
– Olha isso – aconselhei, mostrando a base para ela. Acândia balançou a cabeça.
– Uma assinatura? – tentou. – Parece uma escada.
– Não faço ideia.
Suspirei desanimada. Não vou conseguir ir a lugar nenhum desse jeito!
Poderia culpar Kales mas, sinceramente, o que ele teria contra a princesa? Não faz sentido. Poderia ser Mary Kime, mas ela sabe do meu segredo, se fosse ela, deveria ter me matado ali, certo? Poderia ser Onda, não poderia?
Ou Kent. Mas, seguindo essa lógica, poderia ser qualquer um do castelo.
Eu não tinha nenhuma pista que apontasse diretamente para alguém. Argh!
Poderia ser Allen...
Não. Não poderia ser Allen. Allen está riscado e totalmente expulso para fora desta lista. Fiquei incomodada com essa possibilidade. Muito incomodada. Eu queria que Allen só tivesse afeto por mim. Sim. Queria isso.
Não suportaria descobrir que ele me despreza ou algo nesse sentido. A simples ideia me fez ter vontade de chorar. Me mexi desconfortavelmente na cadeira e tentei espantar o pensamento.
Acândia me ofereceu um copo de água que bebi sem demorar. Logo a cozinha começou a ficar lotada como sempre costumava ficar. Estranhamente, reparei que boa parte das empregadas não estavam presentes.
– Cadê todas as meninas? – questionei, baixinho.
Acândia admirava suas unhas quando respondeu:
– Hoje é dia de combate
A palavra me parecia familiar.
– Combate? Não é quando os soldados lutam uns contra os outros para treinar? – Tombei a cabeça para o lado. – O que isso tem a ver?
Ela me deu um sorrisinho sugestivo.
– Vire no Corredor Leste. Você vai descobrir.
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Realeza Oculta
RomanceMeriya Avaglow provavelmente é a princesa mais azarada de todas as gerações da Família Real de Hallenfy. Após várias ameaças envolvendo a princesa, o rei e a rainha decidem escondê-la até que todos os traidores fossem capturados e presos. Meriya en...