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Acho que nunca senti um nervosismo tão grande na minha vida. Yanna estava ao meu lado, tentando passar aquele gloss nos meus lábios.

– Mel, não consegue parar de se mexer um minuto? Se acalme! Vou acabar borrando sua maquiagem.

Tentei permanecer calma, mas parecia que meu corpo se recusava àquilo. Assim que ela terminou de passar o gloss, me levantei muito rápido.

Ela abriu a porta do guarda-roupa e lá tinha um espelho quase do mesmo tamanho da porta. Sorri ao reparar em meu reflexo. Gostei do penteado que Yanna tinha escolhido, era simples: Duas pequenas mechas trançadas vinham de cima das orelhas e se encontravam na parte de trás do cabelo. Yanna tinha jogado um pouco da minha franja para o lado, minhas bochechas estavam mais avermelhadas (graças ao blush e ao nervosismo) e meus lábios mais brilhantes.

Eu vestia o vestido azul e sapatilhas pretas e simples – que apertavam um pouco, na verdade.

– Já sabe o que vão fazer? – perguntou.

– Acho que só vamos tomar um café e passear. – Era para parecer uma saída casual, não queria que tivesse o peso de um encontro.

– Certo, e quanto dinheiro você tem?

Recuei. Eu tinha esquecido desse detalhe: Eu não tinha dinheiro. Nem um tostão. Comecei a mexer na barra do vestido nervosa. Yanna, como se já tivesse entendido tudo, começou a andar de um lado para outro.

– É claro que você não tem dinheiro, como sou burra! Você veio de Suspy sem nada e não recebeu seu primeiro salário. – Yanna mordia os lábios e tentava pensar. Foi quando vi uma luz iluminar o seu rosto. Ela se voltou pra mim, depois, foi até à bolsa dela e tirou de lá um maço de dinheiro. Peguei o maço e contei. Cento e vinte rallens. Olhei para ela assustada.

– Não – falei. – Esse dinheiro é importante para você, Yanna. Eu me recuso. Precisa muito mais dele do que eu.

As bochechas dela inflaram. 

– Para.

– Não! Eu não quero. Eu vou cancelar o encontro. A culpa foi minha por não ter pensado nisso, Yanna. Você não vai pagar – literalmente – por isso.

Estendi o dinheiro na direção dela. Ela revirou os olhos e negou, cruzando os braços.

– Mel, vá. Qualquer dia você me paga se isso te fará sentir mais segura para aceitar o dinheiro. Eu sou sua amiga, não me importo em te ajudar se for necessário. – Dei um sorriso tímido para ela. – Além disso, é uma emergência.

Aceitei o dinheiro relutando, mas a abracei bem forte para expressar o quanto aquilo significava para mim. Eu tinha marcado às quatro, em frente à colônia. Mexia nervosamente na minha bolsa enquanto esperava Allen do lado de fora. 

Yanna tinha insistido para que eu levasse o gloss na bolsinha branca de couro. O dinheiro estava enroladinho lá dentro também. 

Me levantei do banco e comecei a andar de um lado para o outro, gostaria de ter um relógio. Finalmente, após alguns minutos sentada no banco que existia na frente da colônia, Allen chegou.

Quase tropecei quando fui cumprimentá-lo graças ao nervosismo– o que era algo bem incomum, já que eu me considerava uma garota bem graciosa. Era cômico ver Allen vestido casualmente e não como um guarda.

– Você está... Uou! – Ele disse para mim, piscando os olhos verdes na minha direção. Sorri com o elogio. 

É, eu estava uou mesmo.

– Você também não está nada mal, fica bem de camisa verde.– Porque destacam seus olhos, quis dizer.

Ele ofereceu o braço educadamente. Aceitei.

Realeza OcultaOnde histórias criam vida. Descubra agora