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Caminhei até o Corredor Leste como Acândia havia sugerido. Notei a aglomeração de empregadas nas janelas e os cochichos. Reconheci Mary Kime ali ao redor, ela ria de alguma coisa que uma empregada falara. 

Tinha vários rostos. Até mesmo Onda cochichava e ria. Fiquei curiosa e me meti ali no meio do povoado de mulheres.

– Então, o que vocês estão vendo? – sussurrei para Mary.

Ela só fez um aceno de cabeça para a janela e eu finalmente olhei para o horizonte.

Logo percebi o que as meninas tanto olhavam:

Homens. 

Muitos homens corriam e treinavam lá nos jardins. Ouvi um suspiro coletivo quando um dos guardas ergueu o rosto para elas.

– Hoje é dia de combate – Mary deu um sorrisinho. As meninas adoravam fofocar sobre os guardas. 

Eu estava avermelhada demais. Nunca tinha visto tantos homens sem camisa e suados juntos em toda a minha vida. Eles pareciam estar revisando algum tipo de técnica de combate.

Inclinei a cabeça um pouco para ver melhor, enquanto tentava desviar das empregadas que também queriam um espaço perto da janela. Não foi difícil encontrar Allen. Ele lutava com um guarda cujo o nome eu não sabia.

– Ah, o soldado Morgan... – Ouvi uma das meninas suspirar, pousando a cabeça na mão e o cotovelo no batente da janela.

– Ele é o melhor em combate, e olhem esses músculos! – Outra criada falou, soltando um gritinho e lançando sorrisinhos que Allen fingia não notar.

– Eu daria qualquer coisa para dar uma pequena mordida na barriga dele – Mais uma criada disse isso, e arrancou risadinhas das meninas.  

Não vou mentir, foi mais rápido e mais forte que eu.

Meu olhar se direcionou para o corpo dele. Sua respiração estava irregular e eu via seu peito subir e descer, as gostas de suor escorrendo pela... 

Está um pouco quente agora. 

Allen levantou a cabeça na direção das meninas e nossos olhares se encontraram, tentei controlar minha respiração. Ele piscou para mim, e nesse momento, eu já havia desistido da ideia de tentar conseguir levar ar para os meus pulmões. 

Meu coração deu um mortal carpado dentro do peito e as meninas gritaram de prazer, sorrindo e acenando para ele.

Que vergonha! Que vergonha! Desviei o olhar com o rosto parecendo um tomate.

E o que Acândia estava pensando quando me deixou vir aqui? 

– Não fique tão envergonhada – Mary disse, caindo na gargalhada. – Meu Deus! Você já flertou alguma vez na sua vida? 

Neguei, tentando acalmar as batidas do meu coração. 

Comporte-se, coração idiota!

– Nunca – afirmei, como se a resposta já não estivesse óbvia. – E, além disso, aquilo não foi um flerte. Ele só piscou pra mim... – Não pude evitar dar um sorrisinho. Ah, Deus, pareço uma adolescente idiota!

– "Ele só piscou pra mim" – Ela imitou o que eu disse, com uma voz super fina e um olhar sonhador. Depois, voltou a me olhar com um sorrisinho. – Você está tão caidinha por ele!

– Não estou não! – exclamei, prendendo a respiração. 

Mary só deu uma risadinha em resposta e voltamos a olhar pela janela. 

De repente, uma ideia bateu bem forte na minha cabeça. 

E se eu aprendesse a lutar?

Isso seria uma coisa boa, principalmente na minha atual situação. O próprio Kales disse que poderia ter sido eu. 

Nem sempre terei Allen ou Yanna pra me defender. 

Talvez Allen tope me ensinar o que eu preciso. E eu tenho certeza de que ele vai topar. E talvez Yanna também aceite aprender. 

Estava perdida em meus pensamentos observando Allen lutar com outro guarda quando Acândia apareceu batendo palmas e apressando a gente. 

– Vamos, vamos, a folga acabou! – Ela disse, fazendo as empregadas assumirem uma postura controlada e irem se espalhando. – Angeliz, o estábulo. E as Externas sigam ela. Meredith, para a cozinha junto com Onda e a equipe da cozinha. Sophie, assuma minha posição com a equipe de limpeza. Mary Kime e Melissa, quero falar com vocês. – Acândia estalou os dedos e fez sinal, apontando para baixo, indicando que devíamos ir até ela. E foi o que fizemos.

Acândia olhou de mim para ela e suspirou:

– Já expliquei para a Meriya o que aconteceu com o Kales, mas agora eu preciso explicar à você. 

– Ah, verdade. Vocês viram ele? – Mary sorriu de um jeito terno. – A equipe de limpeza do telhado está meio perdida dês de que ele sumiu. 

– Então, é isso que estou tentando dizer. Kales não é mais o chefe da equipe de telhado, você é. Parabéns. 

Mary arregalou os olhos, incrédula, e não disse nada por alguns segundos. Eu já ia abrir minha boca quando Mary finalmente disse:

– Como? – A menina parecia assustada. – Mas, por quê? De que equipe ele faz parte agora?

– Digamos que ele faz parte da equipe da cadeia. – Acândia deu um sorriso amargo.

Mary Kime parecia não ter entendido.

Ou querer não entender, pensei comigo mesma.

– Isso não faz sentido, Kales nunca me disse que iria virar policial, e o castelo não possui masmorras...– Eu conseguia ouvir o cérebro de Mary Kime processando a informação. 

– Não é essa equipe a quem Acândia se referiu, Mary – falei, pigarreando. 

Mary começou a tremer. 

– Ele não pode.... Como.... Eu não entendo... – A garota não sabia pra quem olhar. – Mas por quê?

– Ele... – Minha garganta fechou. Fiz um esforço enorme para voltar a falar, respirando fundo. – Ele tentou abusar de uma das empregadas.

Mary deu uma risada engasgada.

– Muito engraçado, alteza, não brinque com essas coisas.

– Não estou brincando.   

A expressão dela mudou drasticamente. Os olhos pareciam perdidos, os joelhos tremiam e de repente ela estava tonteando e caindo no tapete esticado, inconsciente. 

Acândia suspirou, se ajoelhando ao lado da Mary e verificando sua pulsação.

– Eu sabia que ela ia desmaiar – respondeu. – Kales e ela eram amigos dês da infância. – Acândia passou as mãos sobre o próprio avental e olhou para mim. – Vá até a enfermaria pedir ajuda, Mery, por favor. 

Fiz que sim e saí correndo. 

Realeza OcultaOnde histórias criam vida. Descubra agora