A Cópia Imperfeita

Capítulo Um

Dois dias se passaram depois da notícia sobre a doença que Ária estava sofrendo. A casa estava mais silenciosa que o comum, tornando o clima totalmente frio, e não aparentava nem um pouco ser o que ela havia sido um tempo atrás. 

Jack era o pai das meninas; era. Até que ele acabou descobrindo que as suas supostas filhas, não eram suas e sim de outro homem que Marian tinha um caso. Bom, na maioria das vezes quando você não se sente protegida, você acaba procurando outro abrigo; foi o que Marian fez. Ao saber disso não pensou duas vezes, pegou suas malas e foi embora sem olhar para trás. Ele nunca se deu bem com nenhuma das meninas, além de maltratar Alice verbalmente chegou até tentar atacar Ária enquanto os dois estavam sozinhos dentro da casa.

Marian teve que dar duro para sustentar as duas garotas e cuidar de Alice, Ária poderia ser de fato a mais linda, mas o amor que Marian tinha por Alice era incondicional, tanto que em alguns meses juntou uma boa quantia para fazer a tão sonhada cirurgia de redução de estômago nela, mas a notícia da leucemia abalou o emocional e o financeiro da mãe.

— Você entende não é querida? — alisou os cabelos da filha conformada.

— Tudo bem mãe, se é para o bem dela, então use o dinheiro.

Seus olhos azuis estavam marejados e ela não queria chorar mais do que já havia nas últimas duas noites.

— Me perdoe filha — suas lágrimas que segurava, agora rolavam em seu rosto — Me perdoe por ter que fazer isso, mas precisamos salvar a sua irmã. Você pode aguardar mais um pouco não é? Eu posso aumentar os horários do trabalho para conseguir rápido o dinheiro e...

— Mãe! Está tudo bem, não se preocupe, não vou ficar magoada, é para o bem da Ária. Vamos ajuda-la! — forçou um sorriso e abraçou Marian.

Atrás da porta Ária olhava com raiva para as duas, mesmo sem ter motivos para se sentir daquela forma.
Ela sabia que poderia morrer, mas não compreendia o fato de que sua irmã abrira mão de algo que ela queria muito e que sua mãe também estava disposta a ajudar.

Subiu para o quarto e foi para o único lugar em que ela se sentia bem. Para a frente do espelho.

— Não se preocupe Ária, você vai continuar linda, como você sempre foi — sussurrou alisando os cabelos.

Ela se levantou do banquinho em frente a penteadeira e se direcionou ao banheiro. Ao ligar a torneira e sentir a água escorrer pelas suas mãos, ela acumulou um pouco para leva-lá até o rosto, o molhando. Ao levantou o rosto e se encarar no espelho percebeu algo estranho em si. Seus olhos estavam fundos, como se não dormisse a dias e uma mancha roxa aumentava de tamanho e tonalidade em seu braço.

Foi o estopim para o desespero tomar conta da sua mente.

Agarrou fortemente os seus cabelos e sentou-se na privada abaixando a cabeça, tentando não delirar com aquela situação. Ela não estava nem um pouco preocupada com a doença e sim o que ela faria com seu corpo. Levantou e aos poucos foi descendo ao chão gelado do banheiro, sentindo as lágrimas descerem. Seu desespero da sua mente parou em seus lábios e podiam ouvir seus gritos pela casa.

Alice ouviu e não pensou duas vezes, ela precisava ir até o banheiro. Ária estava deitada no chão, encolhida.

— Ária, levante-se, eu te ajudo — falou docemente.

— Eu não quero!

— Você não pode ficar assim, só vai piorar a sua situação.

— Vai embora daqui! — gritou.

Alice deu alguns passos para trás com o susto, mas retornou tentando ajuda-la.

— Ária... — agarrou em seu braço levantando-a.