Capítulo Dezenove

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Jefferson se aproximou de onde Alice estava, mas não sentou ou deitou na cama como fazia antes. Ficou em pé exalando seriedade.

– Eu sei de tudo – disse cruzando os braços.

Alice se sentou na beira da cama.

– Do que você está falando ?

– Você sabe muito bem Alice – aumentou o tom de voz – Está anoréxica!

Alice olhou para porta imaginando se sua mãe estaria ali ouvindo tudo.

– Por que não conta para ela ?

– Não, eu não vou fazer isso porque você quer.

– Você tem que contar.

– O que você veio fazer aqui ?

– Não ache que vim aqui por você, eu vim por ela.

Mentira. Uma mentira que deixou Alice boquiaberta.

– Eu me preocupo com a sua mãe. De você Alice, eu sinto é pena.

– Eu não preciso da sua pena.

– Isso já não importa mais. A questão aqui é... Ou você conta ou eu conto.

– O quê ? Ficou louco ?

– Olha para você Alice. Você está irreconhecível.

– Até parece que se importa comigo.

– Eu acho que sua mãe não quer sentir a dor de perder outra filha...

Alice logo lembrou de Ária. Fechou os seus olhos​ com força tentando não colocar para fora o que ela queria ter contado a alguém.

– Por que você fez isso ?

Mas foi impossível segurar.

– Porque eu queria ser perfeita como ela! – gritou já sentindo as lágrimas descerem – Eu era uma gorda excluída. Eu era horrível. Ninguém gostava de mim. Eu sofria bullying todos os dias, pelo simples fato de ser gorda. – recuperou o fôlego – No dia do enterro dela eu prometi que não ia me tornar alguém como ela...

– E olha que ironia... Você está pior do que ela já foi um dia.

– Eu tenho os meus motivos.

– Seus motivos ? Por algum momento você pensou na sua mãe, na sua família, em mim ? Hein ?! – agora ele gritava.

–  Eu só queria ser linda... – disse sentando no chão fraca e sem forças banhada de lágrimas.

– Você disse que era feia naquela época, que ninguém gostava de você. Eu te achava a garota mais linda daquele colégio Alice – disse fazendo ela olha-lo – Eu te admirava todos os dias e me perguntava... Como alguém pode ser tão linda assim ? As atitudes, os sorrisos, o modo de se comportar. E daí que você era gorda ? Eu te amava mesmo assim.

– Amava ?

– Eu sempre fui apaixonado por você, só não falei porque talvez você não me quisesse. Diversas vezes planejei te contar, mas nunca tinha coragem.

Alice abaixou a cabeça chorando ainda mais. A culpa estava pesando sobre ela.

– Olha para você agora... Doente, sem amigos, sem quem estender a mão. Parabéns Alice – bateu almas ironicamente – Você conseguiu estragar tudo. Afastou de você todos que te amavam, que gostava da sua companhia, nem a sua mãe te reconhece mais.

– Eu vou te dá um prazo de três dias. Ou você conta a sua mãe, ou eu mesmo venho contar – e virou as costas abrindo a porta e saindo.

Alice praticamente se arrastou até a escada e percebeu que ninguém estava em casa. Foi até o seu quarto e trancou a porta. A raiva esta subindo, tomando de conta dela. As lágrimas não paravam de descer e seus gritos tomaram de conta de toda a casa. Começou a quebrar as coisas, as pequenas lembranças na prateleiras, logo jogando as roupas do armário no chão. E depois... Foi para o espelho. Ela se olhou novamente. Seu corpo magro.Fraco. Seus olhos fundos.

Eu não tenho culpa de ser linda – a voz de Ária soprou nos seus ouvidos fazendo ela derrubar o espelho e deixa-lo em pedaços.

Exatamente como Ária fazia.

– Eu sou lindaaaaa! – gritou para o espelho despedaçado no chão.

Saiu do quarto extremamente fora de controle e desceu as escadas indo até a geladeira. Lá havia tudo que ela seria falta de comer.

Alice emagreça mais – pensou

– NÃO! – gritou como resposta

E avançou a comida que lá tinha, comendo o Frago, as rosquinhas, as geleias, enfiando tudo na boca e sujando toda a cozinha. Comeu tanto que não suportou segurar tudo. Foi em vão. Vomitou toda a comida. Era como se todo seu corpo já estivesse acostumado, inclusive seu estômago. Pois comia e colocava para fora. Subiu as escadas juntando forças e trancou a porta do quarto se jogando na cama e apagando.



                                ×××

Na manhã seguinte foi para escola disposta a acabar tudo com Max. O problema era que as pessoas já estavam notando como ela estava. Extremamente magra. Suas " amigas " nem se aproximaram dela e quando Max a viu, simplesmente a humilhou na frente de todo mundo.

– Max preciso falar com você – disse quase em um sussurro. Estava até fraca para falar

– Eu não tenho nada para falar com você – gritou ele chamando atenção dos outros.

– Max...

– Está tudo acabado. Acha mesmo que eu namoraria alguém como você ? Se bem que sendo gorda excluída é bem melhor que ser uma magrela doente.
Vai se tratar Alice! – e saiu deixando ela passar vergonha sozinha.

Correu para o banheiro e entrou olhando diretamente para o espelho. Ficou estressada ao ver Taiga entrando e olhando ela dos pés a cabeça.

– Alice... – disse ela incrédula.

– O que ? – gritou para ela.

– Você está irreconhecível

– Isso não é um problema seu!

Taiga saiu do banheiro para evitar confusões.

E então... Alice passou todos os horários das aulas dentro do banheiro trancada. Assim que o sinal tocou ela saiu correndo indo direto para sua casa.

– Filha... O que você fez ontem ? – disse Marian assim que ela abriu a porta.

– Estava com muita fome mãe. Então ataquei a geladeira.

Marian mudou a cara de preocupada para um sorriso.

– Sua gulosa – apertou o nariz dela e voltou para cozinha.

Subiu para o quarto e trancou a porta indo diretamente para o celular. Ela queria falar com Ana, mas ela não estava online.

Alice : Oi Ana. Preciso muito falar com você. Me liga.

E então seu celular vibrou. Era Jeff. E não era coisa boa.

Jeff : Faltam 2 dias.





Quer ter uma vida dramática ? Seja a Alice... Mentira! Não seja.
:)
Não se esqueça da estrelinha.
Bjos da Lelly :*






A Cópia ImperfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora