Capítulo Três

1.3K 137 53
                                    

Ela se foi e levou toda sua beleza.
E o que restou, foi uma faísca de esperança.

O som audível tanto aos ouvidos como aos corações concentrados ali de uma pá se movimentando de forma rápida para abrir o buraco, não era mais barulhento que as lágrimas e gritos de Marian. Dizem que os filhos que tendem a enterrar os pais, mas sempre alguém quebra o tabu e daquela vez, foi Ária.

Alice segurou firme o grito entalado em sua garganta, guardara por tanto tempo e queria solta-lo, mas ao ver o estado de Marian, decidiu poupa-la e ficou silenciosa. Não queria prejudicar mais sua mãe, ela estava sofrendo demais, como se o esforço que as duas fizeram, foi em vão.
Jefferson estava ajudando o coveiro a abrir o imenso buraco. Até então, só havia parado para limpar uma gota de suor teimosa que desceu em seu rosto assustado pelo que estava acontecendo. Não sabia descrever o que estava acontecendo, quer dizer, nem um deles sabiam.

Ária ao fazer sua última inspiração, caiu no chão. Morta. Marian ao entrar no quarto e se deparar com tamanho horror, não conteve o grito. Alice e Jefferson entraram e já não se podia fazer nada.

Viera ao mundo como uma anjo e sendo chamada de perfeição para virar pó em questão de dias.
Afinal... Quem era Ária ?
A menina de olhos azuis que sabia encantar a qualquer um. Ela conseguia despertar desejos proibidos, não possuía muitos talentos ou era uma das mais inteligentes da classe, ela nunca se destacaria por isso, somente em uma coisa: Beleza. Seu corpo era invejável e todos a queriam, e no final ela acabou sozinha com quem realmente se importava.

O caixão foi fechado e Marian deu uma última passada de mão pelo vidro deixando de vez a filha partir. Jefferson juntamente com o coveiro desceu lentamente o caxão para encaixar no imenso buraco, e então jogaram terra por cima dando adeus á ela.
O céu em questão de minutos se tornou nublado e já podia sentir as gotas caindo lentamente sobre suas cabeças. Marian se distanciou em passos lentos sendo acompanhada pelo olhar de Alice. Entrou no taxi e foi embora. Alice por sua vez, decidiu continuar no mesmo lugar.
O coveiro foi embora e Jefferson se aproximou para conforta-la.

— Preciso que vá embora — foi rápida.

— Tem certeza? — sabia que não era uma boa ideia sair dali, mas compreendia.

— Lembra da conversa que você queria que eu tanto tivesse com ela? Então... Chegou a hora.

Jefferson encarou o olhar distante de Alice e então assentiu depositando um beijo no topo da sua cabeça e a mesma estava finalmente sozinha. Ela e Ária.

Olhou para os lados e como não havia ninguém ali por perto, foi direto ao ponto. Abaixou perto da pedra onde continha seu nome e desabafou.

— Sabe Ária, eu nunca senti inveja de você, na realidade eu sentia pena. Quando eu olhava para você com seus amigos eu ficava me lamentando porque sabia que tudo aquilo era  disfarce, sabe eu gostava quando nós saíamos juntas e não se importava com as opiniões alheias. Eu sempre fui a gorda não é ? Você no começo não ligava mas com o tempo você foi me esquecendo e eu me tornei a gorda excluída. Eu olhava você todos os dias e imaginava como seria bom se você voltasse a pegar na minha mão e andar comigo pelas ruas... Me perdoe por não dizer isso antes, eu sei que é tarde demais, mas eu só quero desabafar. Então... Vou tentar mudar, ser uma pessoa diferente, prometo para você que não vou deixar as pessoas te esquecerem, vou fazer elas olharem para mim e lembrar de você. Vou ser outra pessoa, mas eu não quero me tornar o que você se tornou, quero ser do bem e mudar para agradar a mim e agradar aos outros. – se levantou e virou as costas, mas antes disse algo – Adeus Ária.

A Cópia ImperfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora