Capítulo Doze

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Durante a viagem Alice ficou com a cabeça encostada na janela da viatura tentando se achar nela mesma. Estava tudo girando e luzes piscavam em sua frente. O mínimo de estrago que conseguiu fazer no carro foi vomitar todo o banco traseiro, recebendo reclamações do policial que dirigia.

Desceram do carro. Os dois estavam algemados e ainda sangravam, e Alice estava sendo levada pelo policial, pois mal ficava em pé do ataque de nervosismo que teve. Entraram na delegacia já fazendo barulho. Max e Miguel ainda queriam se resolver, mas em vez disso foram a uma sala para fazer o curativo dos cortes que ganharam graças a briga. O delegado que parecia estar ocupado demais pediu que entrassem em contato com os pais, no caso se fossem de menor, como os outros dois não eram, sobrou para Alice.

- Você pode me dizer o número da sua mãe ? - perguntou um policial abaixando-se na frente dela.

Ela o olhou, seus pequenos olhos verdes vermelhos de chorar por conta da briga e de uma forte dor de cabeça que não a deixava ficar sentada confortavelmente.

- Não pode ligar para ela. - disse em quase um sussurro.

- Eu preciso que me diga, ou vou ter que leva-lá para a sela. - ameaçou de forma compreensiva.

Ela respirou fundo e disse o número.
A essa altura, bem mesmo antes da confusão, Marian acordou para perguntar a Alice se elas sairiam amanhã para fazer compras no supermercado e ao entrar no quarto e não se deparar com a filha, entrou em desespero. Acordou Caterina aos gritos e pediu que ela a ajudasse, e claro, Caterina encontrou a corda que Alice usou. Marian ligou para Miguel, mas seu celular estava desligado, então ligou para Jefferson, que mesmo sem saber onde ela estava, fez questão de acompanhar Marian. Ele não esperava isso de Alice. Havia saído sem a permissão da mãe. Mas eles sabiam onde iriam encontra-lá. Os três saíram até a balada que ficava ali perto e aberta até aquele horário. Duas da manhã. Uma mãe desesperada juntamente com a irmã e um amigo andavam pela rua à procura dela. De repente o celular de Marian tocou e ela atendeu rapidamente. O policial deu a informação de onde que Alice e os outros dois que se envolveram na confusão estavam.

Correram até o endereço da delegacia informada.

Quando entraram na delegacia, Marian já estava com seus olhos cheios de lágrimas. A filha estava um caos. O cabelo bagunçado, a maquiagem borrada. Por que Alice havia feito aquilo ?
Se aproximou dela e mesmo com o pensamento pesado de que ela teria que apanhar, a abraçou tão docemente e apertado, como em um reencontro depois de anos sem se falar.

- Meu amor, eu fiquei tão preocupada - abraçou ainda mais - Por favor... Não faça mais isso comigo.
Logo começou a chorar alisando seus cabelos, Alice continuava de cabeça baixa, sem qualquer tipo de reação.

- Você está bem querida ? - perguntou fazendo ela erguer a cabeça e a olhar antes de baixa-lá novamente e vomitar o resto de algo que ela havia comida no dia.

A policial que estava no setor de atendimento ajudou Marian a limpar toda a sujeira. Caterina foi conversar com o policial para explicar algo que nem ela mesmo sabia, mas de alguma forma ajudaria Alice. Jefferson se aproximou devagar, meio tímido, muitos dias sem falar com ela, era como se estivesse indo conhece-lá novamente, estava mudada demais. Sentou ao seu lado...

- Eu nem sei o que dizer sobre essa cena que está passando em minha cabeça. Você em uma festa, brigando O que deu em você ?

- Isso não é um problema seu - respondeu sem olha-lo.

- Se isso não fosse problema meu, se eu não me importasse nem um pouco com você , acha mesmo que eu estaria aqui ? - sua pergunta fez com que ela parasse por um tempo para olhar para ele.

Mesmo que no fundo, ela não quisesse admitir para ninguém, nem para ela mesma, ela sentia falta de Jefferson. Na realidade, sentia muita falta, queria abraça-lo e dizer que queria que ele ficasse, mas como sempre o ogrulho falou mais alto, e nem a sua pergunta conseguiu responder.

- Eu só queria que parasse um pouco e percebesse o que você está fazendo, a pessoa que você se tornou...

- Eu não preciso que me digam nada!- praticamente gritou - Não preciso dos conselhos de ninguém e muito menos dos seus. Por que não vai embora ?!

Jefferson a olhou no fundo dos olhos. Era a segunda vez que ela fazia aquilo. Assentiu balançando a cabeça enquanto ainda a olhava e se levantou indo embora.

Marian e Caterina levou Alice para a casa, colocou ela em seu quarto e trancaram as janelas e a porta. Na manhã seguinte uma forte dor de cabeça e uma fraqueza fez Alice implorar por rémedios. Ela sentia muita fome também. Marian fez um café reforçado, mas ela somente comeu as frutas e nada mais.

- Alice, eu preciso saber o que está acontecendo - disse Marian enquanto a observava comer sentada ao seu lado na cama - Por que saiu sem minha permissão ? Por que bebeu e se envolveu em uma briga ? Nem com Ária isso acontecia...

- Não me compare á ela. - largou a bandeja de lado e se voltou para mãe - Você não pode me proibir de sair, eu preciso me divertir, mostrar minha beleza para as outras pessoas.

- Alice...

- Quando eu era gorda e sofria bulliyng eu não era convidada para sair, não era elogiada, as pessoas não olhavam para mim. - respirou fundo, pois as lágrimas já preenchiam seus olhos - Não sabe quantas vezes me tranquei naquele maldito banheiro da escola, porque tinha medo de comentários que me magoavam, não sabe quantas vezes me escondi atrás de Ária, porque eu sabia que era ela que chamava atenção, era ela que todos queriam ver e não eu. Mãe... Agora é a minha vez... É a minha vez! - gritou - Eu quero andar e as pessoas pararem o que estão fazendo para olharem para mim, eu quero receber sorrisos por onde passar e elogios...

- Acha mesmo que você não ganhava isso quando era gorda...? Acha que só porque era gorda, era feia ? Vou te dizer uma coisa Alice. Ária era bonita? Era. Ela tinha um corpo bonito ? Tinha. Mas nela não existia tanta beleza interna, como a sua. - seus cansados olhos começaram a deixar lágrimas sairem - Quando eu olhava para você eu te achava a pessoa mais perfeita do mundo. Seu jeito de conversar e tratar as pessoas, seus olhos, seu sorriso... Uns quilos a mais não te tornava a pessoa mais feia do mundo, só fazia você ser diferente e isso nunca te impediu de ser linda, nunca... Olha para você agora, não acredite nessa ilusão de achar que só porque está com um corpo perfeito, tudo vai ficar perfeito... Acorda Alice! A realidade é diferente do que você imagina. Se todas as coisas fossem iguais, nada teria efeito ou graça. Ter um corpo gordo ou magro é ser único, independente de opiniões. Tudo bem que cada um tem sua maneira de agir, pode ficar da forma que quer. Você estava linda antes e está agora, pare de se preocupar em ficar bonita por fora, porque a pior feiura é aquela que é por dentro. - E se levantou saindo do quarto deixando a filha pensativa.

Mais tarde, já calma, Alice ligou o celular para conversar com sua única amiga, a Ana.

Assunto: Sair, fui presa.

Ana : Como isso aconteceu ?

Alice : Eu saí escondida da minha mãe, beijei um cara que eu sempre quis, traí o Miguel, e ele brigou com Max, e então fomos para a delegacia.

Ana : Você só pode estar ficando louca HAHAHAHAH. Devia ter feito algo diferente com o Miguel, assim pouparia essa ida rídicula até a delegacia.

Alice : E eu ainda vomitei na viatura e na delegacia. Minha mãe ainda me deu um sermão.

Ana : Você mereceu. Deveria ter aproveitado a noite de outra maneira. Fazer um passeio 

Alice : Não sei onde faria esse passeio.

Ana : hmmm... Há tantos lugares.

Alice: Fora isso, o que mais?

Ana : Você tem dois garotos em suas mãos, só escolher qual você quer.

Certo... Qual eu escolho ?

No fundo todas as nossas mães tem um pouco de Marian, por isso sempre leve com você os conselhos dela. E não se esqueça da estrelinha ;). Lelly




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