Essa moça, da qual eu não sei o nome, protagoniza a Paige.
Cinco longos dias depois, Paige e eu estávamos sentadas na Biblioteca Ladd, na Bates, esperando por Simon.
― Quantos livros o seu guia turístico disse que essa tal meca do conhecimento tem? ― ela sussurrou, atirando-se na poltrona ao lado da minha.
― Seiscentos mil ― sussurrei de volta.
― Todos esses livros e apenas dois pequeninos volumes sobre sereias.
Uma dor aguda e súbita atravessou meu peito. Eu não contara a Paige sobre a mudança pela qual passara no último verão, a mesma que ela teria experimentado se sua mãe e sua irmã tivessem conseguido o que queriam e a referência inesperada me atingiu em cheio.
― Pensei que você estivesse procurando pela coleção secreta de romances tórridos ― eu disse.
― Voilà ― ela me mostrou um dos livros: O canto da sereia: quando ela chamar, você deve atender?
Franzi o cenho ao ver a capa, com uma voluptuosa sereia abraçada ao torso sem cabeça de um homem.
― Pode ser bem mais interessante que isso ― ela me mostrou o segundo livro, de capa dura marrom.
― A Odisseia?
― Uma chatice total, eu sei, mas nunca li. Na minha última escola, os professores não eram muito chegados aos clássicos. Ou talvez fossem, antes de alguns livros serem proibidos por certo membro autoritário da comunidade.
Examinei a expressão de Paige, enquanto ela folheava as páginas. Havia apenas um membro autoritário da comunidade ao qual ela poderia estar se referindo: Raina Marchand. Mas fazia meses que Paige não falava sobre a mãe, ou sobre Zara, sua irmã, ou sobre Jonathan, seu namorado. Nem quando estava no hospital, recuperando-se depois de perder o bebê que seu corpo não estava preparado para carregar. Ou quando teve alta e foi descansar em casa. Ou mesmo quando eu a convidara para vir passar o ano escolar em Boston.
Aquilo não significava que nunca pensasse neles - seu rosto ficava pálido e os olhos se enchiam de lágrimas com frequência suficiente para eu saber que ela provavelmente pensava neles tempo demais. Mas aquele momento fora o mais próximo que chegara de mencionar qualquer um deles em voz alta e, como o fizera de modo casual, fiquei mais preocupada do que teria ficado se ela caísse no choro bem ali, no meio da biblioteca.
― Paige... Você tem certeza de que é uma boa ideia?
― Vou ter que descobrir mais a respeito, mais cedo ou mais tarde. Por que não agora?
Antes que eu pudesse responder, Simon apareceu atrás da poltrona e se sentou na mesinha à nossa frente.
― Oi ― disse ele. ― Desculpem o atraso. Quando meu professor de Orgo começa a falar, é difícil parar.
― Orgo? ― Paige perguntou.
― Química Orgânica ― ele sorriu. ― É bom ver você, Paige. Estou feliz que tenha vindo.
― Tentei não vir, juro ― ela ergueu uma das mãos, como se estivesse sob juramento ―, mas Vanessa disse que se eu não viesse, ela também não viria, e isso simplesmente não era uma opção.
Simon voltou seu sorriso para mim, e a dor em meu peito foi imediatamente substituída por um calor profundo. Senão estivéssemos em um local público, eu me atiraria nos braços dele.
― Vinte e dois ― ergui os olhos, surpresa ao ver outro rapaz de pé atrás de Simon. Ele era alto e tinha cabelos louros cacheados, um tanto arrepiados.
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Encanto
FantasyAutora: Tricia Rayburn Segundo livro da trilogia Sereia. O primeiro se chama Sereia. *Cataloguei como hot para não haver hipótese de entrar no ranking. Não seria justo. Nada tem sido normal na vida de Vanessa desde que ela descobriu que sua irmã fo...