Capítulo 19

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— Ele vai cair em si — disse Paige, abrindo a porta da Beanery na segundafeira seguinte.

— Ele caiu em si — respondi. — Duas vezes pessoalmente e dezoito vezes pelo telefone. E eu o perdi.

— Ainda não consigo acreditar que você dormiu e não percebeu nada.

Você devia estar exausta.

E estava, mas ela não sabia os reais motivos do meu cansaço – ou onde eu estava dormindo quando Simon tentara me encontrar. Ela suspeitara que algo estava acontecendo quando a encontrei em sua casa, depois de deixar Parker naquela manhã; então, contei a ela sobre as visitas, as mensagens de voz e de texto. Mas eu disse que não percebera nada porque fora dormir cedo na casa do lago – não porque estava nadando e dormindo aconchegada ao conquistador mais notório da Hawthorne.

Meus motivos para encontrar Parker eram, de certa forma, compreensíveis, mas, além do estranho e simples fato de que eu quisera fazer aquilo, não havia nenhuma razão para ter passado a noite com ele.

— Ele se desculpou, não foi? — perguntou Paige. — Por não ter respondido logo às suas mensagens?

— Sim, mas, quando eu não atendi, as mensagens dele passaram de preocupadas para desesperadas. E depois ele não atendeu quando eu liguei de volta, e não tentou ligar desde então.

— Bem, quando ele atender, você vai pedir desculpas e explicar o que aconteceu. Não é nada demais — Paige deu um passo para o lado para me deixar passar. — Almas gêmeas de verdade não podem ser separadas.

Tentei retribuir o sorriso dela ao entrar na cafeteria, mas minha boca não quis cooperar. Porque eu já pedira desculpas. Dera a ele a minha explicação umtanto-mas-não-completamente verdadeira. Tentara entrar em contato com ele dezenas de vezes desde que lera sua primeira mensagem ao acordar, dois dias antes. Mas, quando telefonei, a ligação caiu diretamente na caixa postal.

Quando mandei mensagens, elas permaneceram sem resposta. Então, ao que parecia, almas gêmeas podiam ser separadas, por pura estupidez.

— Estou morrendo de fome — Paige deixou a mochila cair sobre uma mesa vazia e foi direto para o balcão. — Quer alguma coisa?

— Hoje é por minha conta — eu disse rapidamente. — já que você dirigiu todo o caminho de volta ontem.

— Eu teria feito isso de graça, mas, já que você está oferecendo, uma canja de galinha parece uma compensação apropriada.

Ela voltou para a mesa enquanto me dirigi até o balcão. Eu sugerira a Beanery para almoçarmos, mas ainda eram onze horas – depois da correria da manhã e antes da confusão da tarde. Nunca estivéramos ali naquele horário, e fiquei feliz ao ver a cafeteria quase vazia e os funcionários ocupados enchendo os açucareiros e reabastecendo os porta-guardanapos.

Era a oportunidade perfeita para confrontar a minha misteriosa fornecedora de algas marinhas.

— Com licença? — eu disse para a única funcionária atrás do balcão, que estava de costas para mim. — A Willa está?

— O sol já apareceu? — disse a mulher educadamente, virando-se. — O que posso fazer por você? — os olhos dela estavam fixos no porta-guardanapos que segurava, e eu me aproveitei da distração para examiná-la rapidamente.

Era magra, mais ou menos da minha altura, e vestia um avental marrom sobre calças cáqui e uma camisa branca folgada. Os cabelos estavam presos sob um boné de beisebol marrom com o logotipo da Beanery. As mãos eram pálidas, enrugadas e mostravam os primeiros sinais de manchas de idade. E tremiam, enquanto ela tentava arrumar os guardanapos. — Posso ajudar? — perguntei.

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