Capítulo 22

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Depois de alertar a segurança da escola, Parker e eu passamos uma hora conversando com a polícia. Ele tentou me convencer a ir embora antes que chegassem, para me poupar da confusão, mas me recusei. Parker explicou quase tudo, mas eu quis confirmar que estávamos juntos quando encontramos o corpo. Se ele dissesse que estava sozinho, a polícia poderia ter suspeitado de que estivesse envolvido, e eu não poderia permitir isso.

No entanto, fiquei também por outro motivo. Enquanto Parker contava o que tinha acontecido a seu pai e ao diretor O'Hare – ambos parecendo mais preocupados com o modo como lidariam com a publicidade negativa do que com o fato de que um recrutador de universidade acabara de morrer nas instalações da escola –, pedi licença para telefonar para meus pais e, em vez disso, saí dali.

A Hawthorne e o Departamento de Polícia de Boston deviam ter algum tipo de acordo, porque, na entrada principal e na entrada dos fundos da escola, a vida seguia sem perturbações. O evento de networking acabara, e alunos dos últimos anos e recrutadores conversavam em grupinhos nos degraus e na calçada – os recrutadores comentando sobre onde poderiam jantar, e os alunos ouvindo na esperança de "acidentalmente" se juntar a eles. Eles pareciam não ter ideia do que estava acontecendo do outro lado do prédio. E, além de alguns calouros aqui e ali, não havia atividade alguma na entrada dos fundos.

Eu estava prestes a entrar novamente e tentar seguir um policial até ele ficar sozinho quando um caminhão branco chamou minha atenção. Estava estacionado metade para dentro, metade para fora da estreita entrada para veículos de entrega, a vários metros de distância dos fundos do prédio. Estava escrito PADARIA COLONY nas laterais do caminhão em fonte azul, e havia uma lanterna no painel. Quando me aproximei, pude ouvir o ruído dos walkie-talkies e homens falando com vozes abafadas. O caminhão ocupava a maior parte da calçada, bloqueando minha visão do que estava acontecendo atrás dele, mas vi de relance maletas médicas vermelhas e uma maca.

— Você está perdida?

Pulei ao ouvir a voz da mulher. Ela estava atrás de mim, vestindo calças escuras e uma longa raqueta branca, e carregando três garrafas d'água que aparentemente acabara de comprar na lanchonete ao lado. Um distintivo da Equipe de Emergência Médica Commonwealth apareceu perto do colarinho.

Vendo meus olhos repousarem ali, ela rapidamente abotoou a jaqueta com a mão.

— Não — disse eu com rapidez, apontando para o caminhão. — Estou com fome, só isso. Você tem pão?

— Tem uma padaria do outro lado da rua.

— Sim, mas os pães da padaria devem estar lá há horas. Os do seu caminhão provavelmente acabaram de sair do fomo.

Ela me olhou de cima a baixo. Então, decidindo que eu era simplesmente irritante e não uma ameaça, seguiu em frente, deixando-me para trás.

— Esta é uma entrada particular. É melhor você sair daqui.

Eu estava na entrada de automóveis e passei para a calçada. Peguei um livro na mochila e me inclinei contra a parede, fingindo ler enquanto esperava alguém. Toda vez que ouvia passos na entrada de automóveis ou uma porta do caminhão se abrir, dava uma espiada casual para a esquina. A próxima integrante da equipe médica que vi foi outra mulher, e os dois que se seguiram a ela eram homens mais velhos e casados. Mas o quarto pareceu promissor. Era jovem, provavelmente 20 e poucos anos, e o dedo anular esquerdo estava livre.

— Com licença? — pedi, trocando o livro por um caderno e uma caneta.

— O que foi? — a parte superior de seu corpo estava atrás da porta do passageiro enquanto ele se inclinava para dentro do caminhão.

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