Paige ficaria bem. Ela estava extremamente fraca e teve de ficar no hospital em observação, mas os médicos disseram que ela melhoraria o suficiente para voltar para casa em poucos dias. Eu a visitava pela manhã, na hora do almoço e depois da escola, e frequentemente ficava com ela além do horário de visitas, até as enfermeiras me expulsarem de lá. Como ela estava muito cansada, não conversávamos muito e quando o fazíamos, falávamos sobre coisas leves, seguras, como o que estava passando na televisão que pendia de um suporte ao pé da cama. Eu queria saber por que ela fizera aquilo, mas não queria aborrecêla ou fazê-la se sentir pior do que já estava. Ela me contaria quando estivesse pronta, e, como sua amiga, eu esperaria o tempo que fosse necessário.
Mas isso não significava que eu não podia tentar conseguir respostas em outro lugar. E foi por isso que, no sábado seguinte, acordei antes do amanhecer, deixei um bilhete para os meus pais dizendo que tinha uma sessão de estudos que duraria o dia inteiro e fui para Winter Harbor. Fazia menos de uma semana desde a manhã em que acordara no barco de Parker, mas, enquanto dirigia pela chuva, parecia que meses haviam se passado. As árvores estavam quase nuas, as folhas coloridas agora eram marrons e forravam o chão. O céu estava cinzento e o sol se escondia atrás de uma camada baixa de nuvens. Sem nada para fazer entre as estações de esqui e natação, os turistas haviam partido, deixando as ruas vazias e as lojas silenciosas. Eu nunca estivera em Winter Harbor naquela época do ano e fiquei surpresa com quanto a cidade parecia solitária.
Ansiosa para estar com outras pessoas, fui direto à casa de Betty, a qual também parecia diferente. O exterior turquesa estava desbotado, e a pintura, rachada e descascando. A longa varanda estava afundando no centro, e faltava pelo menos uma dúzia de estacas de madeira na cerca que corria por toda a sua extensão. Várias venezianas haviam caído, e as que sobraram estavam rachadas e tortas. Parecia que um furacão tinha atingido a casa, atacando a estrutura e deixando a destruição em seu rastro.
E, considerando as tempestades rápidas e repentinas do último verão, talvez tivesse mesmo. Estacionei o carro e atravessei correndo o gramado, subindo os de graus da varanda. Eu havia planejado o que dizer durante as seis horas de viagem, mas, antes de tocar a campainha, esperei mais um minuto para ensaiar novamente.
— O que você está fazendo aqui?
Dei um salto para trás, agarrando a cerca para evitar rolar pelas escadas.
Oliver abrira a porta abruptamente e sem aviso. Ele parecia zangado, e eu já ia pedir desculpas por aparecer sem avisar quando ele começou a falar:
— Eles não avisaram que você estava vindo — os olhos dele, fixos em algum lugar atrás de mim, iam de um lado para o outro. - Eles não avisaram que você estava vindo, e não tenho lugar para você.
— Tudo bem — eu o segui quando ele se virou de repente e correu para dentro. — Eu não disse a ninguém que viria, e não vou ficar. Só queria dar notícias da Paige para a Betty.
Ele parou e se virou. Os olhos continuavam indo de um lado para o outro, nunca se fixando diretamente em mim ou em qualquer outra coisa na sala. Ele estava encurvado, como se sofresse com o peso de uma grande e invisível pressão. A boca estava meio aberta, e o lábio inferior pendia na direção do queixo.
— Betty está bem — disse ele. — Ela não precisa da sua ajuda. As pessoas precisam parar de se preocupar com ela e se concentrar em questões mais importantes.
Ele estava me repreendendo. Comecei a repetir o motivo de estar ali, mas ele se virou antes que eu pudesse terminar. Cambaleou pela sala de estar e entrou na cozinha, murmurando alguma coisa e mexendo no aparelho auditivo.
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Encanto
FantasyAutora: Tricia Rayburn Segundo livro da trilogia Sereia. O primeiro se chama Sereia. *Cataloguei como hot para não haver hipótese de entrar no ranking. Não seria justo. Nada tem sido normal na vida de Vanessa desde que ela descobriu que sua irmã fo...