Capítulo 17

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— E eu pensava que eu fosse exibicionista.

A referência a Zara fez com que eu subitamente virasse o volante, que segurava com força desde que saíra de Boston, em direção a Maine, uma hora antes.

— Desculpe — disse Paige. — Mas isso deve ser um bom sinal, certo? O fato de eu poder me referir às DPAs da minha irmã morta em uma conversa casual?

Concentrei-me em respirar e dirigir em linha reta. Sem querer preocupar Paige desnecessariamente, eu não havia lhe contado o que acontecera. Era a coisa certa a fazer, mas guardar aquilo para mim estava se tornando mais difícil a cada dia.

— DPAs? — perguntei.

— Demonstrações públicas de afeto — ela examinou a tela do celular. — Eu poderia contar nos dedos das mãos e dos pés de um time inteiro de futebol as vezes em que flagrei minha irmã se agarrando com um cara qualquer. Mas até a Zara tinha seus limites. - Ela me lançou um olhar rápido. — Em relação às DPAs. Não quando se tratava de vida ou morte. Obviamente.

— E quem não tem limites? — apanhei a garrafa de água no porta-copo entre os bancos.

— Parker King.

Girei bruscamente o volante mais uma vez – agora porque a garrafa de água aberta estava no meu colo. Paige me passou um maço de guardanapos, que restara de nossa última parada, e segurou o volante.

— Quer que eu dirija?

— Não — enxuguei a água, joguei os guardanapos molhados em uma sacola plástica e assumi o volante novamente. — Por que você disse isso? Sobre o Parker, quero dizer?

Ela me mostrou o celular. Olhei rapidamente para a tela, engoli em seco e mantive os olhos fixos na estrada.

— Eu sei — ela virou o aparelho para si mesma e deu outra olhada. — Nojento, não é?

Tentei concordar, mas o melhor que pude fazer foi assentir com a cabeça.

Considerando que as provas fotográficas em questão mostravam Parker deitado na grama e eu por cima dele, pensei já ter feito demais.

— E quem é a garota? — ela apertou os olhos, trazendo o celular para mais perto do rosto. — O rosto dele está totalmente claro, mas o dela está escondido pelos cabelos.

Agradeço a Deus por pequenos milagres. Eu deixara o casaco de Simon em casa naquele dia, para que a empregada lavasse. Se eu o estivesse vestindo, Paige e todos os alunos de Hawthorne teriam me identificado imediatamente.

— Não sei — respondi. — Quem tirou a foto?

Ela fechou o celular, atirando-o na bolsa.

— Não faço a menor ideia. Mas a foto foi publicada no PrepSetters, aquele site de fofocas das escolas particulares. Eu me cadastrei para receber mensagens de texto. Pensei que seria um bom modo de conhecer melhor meus novos colegas.

Eu já ouvira falar do PrepSetters, mas nunca tinha acessado o site.

— E esse site cita nomes?

— Normalmente, sim. Mas essa foto não tem nenhum. A legenda se refere apenas ao "casal mais feliz da Hawthorne", portanto a pessoa que publicou provavelmente não frequenta a Hawthorne, já que todo mundo lá conhece o Parker. Mas aposto que é só uma questão de tempo antes que alguém reconheça o casal e escreva um comentário com os nomes — ela fez uma pausa.

— Hum, Vanessa?

— Sim?

— Se eu quisesse voar teria tomado um avião.

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