Capítulo 9

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O scrapbook de Raina estava errado. Charlotte Bleu não morrera durante o parto. Ela me dera à luz e me criara durante o meu primeiro ano de vida. Eu estava tão certa disso como de que meu pai havia trocado a senha do computador para me impedir de descobrir coisas que ele não queria que eu soubesse.

O que eu não conseguia entender era o motivo. Por que ela desistira de mim? Por que depois de um ano, e não antes, ou depois? O que acontecera? Ela teria morrido perto do meu primeiro aniversário? Teria Raina confundido as datas?

Essas eram as perguntas que eu fazia em silêncio, desde que encontrara as caixas de roupinhas de bebê. E, quando Paige e eu chegamos à marina de Winter Harbor para a festa de aniversário de Caleb, quase uma semana depois, eu ainda não tinha resposta alguma.

— Acho que não consigo fazer isso.

Arrancada subitamente de meus pensamentos, olhei para Paige, que vasculhou a sacola de compras a seus pés e pegou um CD.

— Você não consegue ouvir grunge?

— Não posso dar isso para Caleb — ela abriu a janela e fez um gesto de cabeça em direção à festa.

— Parece Pearl Jam.

— É Pearl Jam — ela sacudiu o CD. — E este aqui também.

— E daí?

— E daí que é a banda favorita do Caleb. Descobri no ano passado, quando dava para ouvir a música saindo dos fones de ouvido dele a um quilômetro de distância. Ele deve ter todas as músicas que eles já gravaram.

— E foi por isso que você comprou a edição limitada do CD ao vivo que eles gravaram em um pequeno clube de Boston, dez anos atrás. O CD que você só consegue comprar no pequeno clube de Boston.

Segui a direção dos olhos de Paige quando ela olhou pelo para-brisa. A festa já estava animada. Dezenas de pessoas lotavam o estacionamento e as docas na marina, conversando, rindo e dançando. Atrás delas, os barcos flutuavam no porto.

— A água ao redor da marina é bem rasa — eu disse baixinho, imaginando que o verdadeiro problema não tinha nada a ver com o presente de Caleb. — É por isso que o gelo está começando a derreter ali. Mas o Simon disse que as partes mais profundas ainda estão congeladas.

Ela ergueu os olhos em direção aos meus.

— Como na base dos penhascos de Chione?

Minha cabeça latejou uma vez e então a dor parou.

— É. Como na base dos penhascos de Chione.

— Bem-vindas a bordo, belas senhoritas.

Ambas demos um pulo quando Riley apareceu perto da janela aberta de Paige.

— Desculpem — ele disse. — Não quis assustar vocês. Mas recebi ordens para caminhar na prancha e queria dizer oi antes de saltar no mar.

— Certo — disse Simon, aparecendo ao lado dele. — Ordens, oferta. Dá na mesma.

— Você se ofereceu para caminhar na prancha? — perguntou Paige.

— E desafiei outros convidados a fazer o mesmo. É como a dança das cadeiras ou a brincadeira de colocar o rabo no burro, estilo praiano — ele abriu a porta para Paige. — Você está linda, aliás.

Sorri enquanto ela corava. Não importava se Paige queria ou não gostar de Riley, ele claramente exercia um efeito positivo sobre ela. Colocando o CD de volta na sacola, ela desceu do carro.

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