Capítulo 13

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Na manhã do sábado seguinte, eu estava deitada na cama com o cobertor puxado sobre a cabeça, tentando ouvir. Ouvir Zara e Raina. Justine e Betty.

Alguém que me dissesse alguma coisa, qualquer coisa sobre o que estava acontecendo. Mas tudo que eu era capaz de ouvir era a música que vinha do meu antigo quarto. Meu pai cantando em algum lugar no andar de baixo. E minha mãe mexendo em panelas na cozinha.

Desistindo, atirei as cobertas para longe e apanhei a garrafa d'água na mesinha de cabeceira. Eu sentira mais sede do que o normal durante a noite e reabastecera a garrafa quatro vezes antes do amanhecer. Já estava quase vazia agora, e bebi o que sobrara, fui ao banheiro para enchê-la novamente e então segui a música country alta pelo corredor.

A porta do meu antigo quarto estava fechada. Bati, mas o som foi abafado pela música que vinha do lado de dentro. Tentei novamente, mais alto.

— Paige? — chamei. — Posso entrar?

Nenhuma resposta. E nenhuma mudança no volume da música.

Ainda batendo, entreabri a porta. Paige estava sentada à escrivaninha, de costas para mim. Chamei o nome dela de novo, mas sua cabeça continuou abaixada. Imaginando que ela estivesse concentrada nas inscrições para as universidades, embora não soubesse como ela conseguia se concentrar com a música tão alta, atravessei o quarto e toquei no ombro dela.

— Vanessa! — ela deu um pulo na cadeira. Uma das mãos voou para seu peito, e a outra cobriu o livro aberto à sua frente.

Apontei para as caixas de som do iPod na penteadeira. Quando ela assentiu, eu me aproximei e abaixei o volume.

— Desculpe — eu disse. — Eu bati, mas você não me ouviu.

— Não, eu é que peço desculpa. Não devia estar ouvindo música tão alta — ela olhou em volta rapidamente como se tivesse colocado algo no lugar errado, e então apanhou sua bolsa tipo carteiro do chão ao lado da cadeira e a colocou sobre o livro. Antes que ela o cobrisse, eu percebi a letra pequena e regular, manuscrita, e algo branco. — O que é que está rolando?

Ela sorriu para mim, mas seus olhos continuaram fixos na bolsa, como se ela pudesse subitamente escorregar da mesa e expor o livro.

— Está tudo bem? — perguntei.

— Claro — ela acenou com a mão. — Eu só estava escrevendo no meu diário. Muita coisa na cabeça: a universidade, o Riley... Você sabe.

Sentindo que ela ficaria mais confortável com alguma distância entre seus pensamentos particulares e mim, fui para o outro lado do quarto e me sentei na cama.

— Por falar em muita coisa na cabeça — eu disse cuidadosamente —, não consigo parar de pensar no que você disse há algumas semanas. Sobre Raina e Zara.

Por meio segundo, o rosto dela ficou imóvel. No instante seguinte, da se levantou e veio se sentar ao meu lado.

— Aquele dia no parque? Quando minha mente estava me pregando peças terríveis?

Assenti.

— É exatamente isso. Sei que elas não estavam lá de verdade porque não tem como elas terem sobrevivido ao congelamento do porto... — hesitei, pensando em quanto deveria dizer.

— Mas você não consegue parar de pensar... E se? — ela completou.

— Exatamente — talvez pudéssemos pensar sobre a possibilidade sem que eu revelasse o quê, ou quem, eu vira na cafeteria no dia anterior.

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