Capítulo 12

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— O que você acha de Chicago? Ou Denver? Ou Honolulu?

Ergui os olhos do Boston Globe.

— Honolulu?

Paige apanhou um livreto da pilha sobre a mesa entre nós.

— Universidade do Havaí. Terra de palmeiras, arco-íris e água turquesa — ela abriu o panfleto e franziu a testa. — Na verdade, a proximidade do oceano, independentemente da cor, é um grande ponto negativo.

Desde que chegáramos à Beanery eu lia e relia a cobertura que os jornais haviam feito do acidente de ônibus no dia anterior, examinando minuciosamente as fotografias que acompanhavam as matérias, procurando a garota do noticiário. Porém a menção à água me fez lembrar que eu estava com sede. De novo. Menos de uma semana depois, a força que sentira após cair na água em Winter Harbor estava desaparecendo rapidamente.

— A Srta. Mulligan deve estar felicíssima por ter conseguido enfeitiçar você tão rápido — eu disse antes de beber um grande gole do meu chá gelado.

— Eu nunca havia pensado realmente no assunto, sabe? Lá em casa, a universidade é uma opção. Aqueles que vão não chegam muito longe; normalmente voltam quando o curso acaba e terminam fazendo o que fariam se nunca tivessem partido.

— Como gerenciar restaurantes turísticos populares? — perguntei.

Ela deu de ombros.

— Só pensei que, se era isso que eu ia acabar fazendo, por que perder tempo fingindo que tinha escolha?

— Mas você tem escolha.

— Sim. Posso ser arquiteta. Designer gráfica. Médica — ela riu. — Tudo bem, talvez médica não. Isso envolveria muitos anos de curso... E muito sangue.

Tomei um longo gole pelo canudinho até que ouvi o barulho que indicava o copo vazio.

— Acho ótimo, Paige. Mesmo, mas Honolulu não é meio longe?

— É só uma das opções — ela examinou os panfletos. — Também tem Phoenix, Des Moines e Houston, que são...

— Um pouco mais próximas, mas ainda assim bem distantes — inclinei-me para ela. — A Nova Inglaterra é a capital acadêmica dos Estados Unidos.

Você não gostou de nenhuma das opções aqui?

O sorriso dela estremeceu.

— A competição é muito acirrada. Minhas notas servem para a Hawthorne, mas não sou agressiva o bastante para enfrentar quatro anos de pressão acadêmica brutal.

Eu sabia que as atuais preferências dela eram causadas por outros fatores, como querer estar a milhares de quilômetros de tudo que queria esquecer, mas a discussão teria de esperar até outro momento.

— Já está quase na hora — disse eu. — Já volto.

Ela ergueu a xícara.

— Vou reabastecer. Você quer?

— Por favor. Obrigada.

Enquanto ela se levantava e se dirigia ao balcão, apanhei minha mochila no chão e abri caminho por entre as pequenas mesas e cadeiras que atravancavam a pequena cafeteria. O único banheiro ficava nos fundos e estava ocupado quando cheguei lá. Encostei-me na parede para esperar e me perguntei quanto teria de mentir na próxima mela hora.

Pensei em tentar escapar da entrevista, mas sabia que a Srta. Mulligan apenas a remarcaria para outra hora, quando ela também pudesse estar presente. E, por mais que eu não quisesse fingir entusiasmo e tentar me auto promover, queria menos ainda ser criticada depois.

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