Capítulo 11

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— Estão chovendo colheres.

Olhei para o para-brisa. Os limpadores voavam de um lado para o outro, mas a água corria pelo vidro como se estivessem desligados.

— Chovendo colheres? — Paige repetiu.

Meu pai sorriu para ela pelo retrovisor.

— Quando a Vanessa era pequena, não gostava da ideia de canivetes afiados caindo do céu. Mas era indiferente a colheres. Desde então, usamos essa frase para descrever chuva forte — ele fez uma pausa. — Não foi assim?

Percebi que ele queria que eu contasse a história sobre como finalmente nos decidíramos por colheres, uma longa discussão em família que envolvera um processo de eliminação com o uso de tabelas e listas, consumindo duas noites e muita comida chinesa. Mas eu não estava a fim. Estava cansada, dolorida e ainda tentava encontrar um sentido em tudo aquilo que acontecera durante o fim de semana.

— Foi — respondi.

— Bem — disse Paige —, essa é definitivamente uma descrição precisa do que está acontecendo lá fora. Obrigada mais uma vez pela carona, Sr. Sands.

— Eu que agradeço por tomarem o caminho turístico comigo, enquanto eu deixava alguns livros para um colega. E, se o tempo ainda estiver ruim depois da escola, me liguem. Eu...

Ele pisou com força no freio. Fui lançada para frente e o cinto de segurança travou, puxando-me de volta para o banco.

— Pai, o que...

O carro deslizou para a esquerda, me interrompendo. Depois para a direita, e então para a esquerda novamente. Enquanto meu pai girava o volante, lutando para recuperar o controle do veículo na estrada molhada, apoiei os pés no assoalho e agarrei a alça de segurança no teto. No banco de trás, Paige deu um gritinho; olhei pelo retrovisor enquanto ela cobria o rosto com as duas mãos. Um segundo depois, o pneu esquerdo dianteiro atingiu o meio-fio. O carro balançou e então parou.

— Ah, não — arfou Paige.

Meus dedos tremiam enquanto eu tentava soltar o cinto de segurança.

Consegui na terceira tentativa e me virei no banco do passageiro para olhar para o banco de trás.

— Você está bem?

Ela também estava olhando para trás, pela janela traseira.

— Paige — chamei. — O que foi?

— A coisa foi feia — disse meu pai. — Ligue para a emergência, já volto.

— Espere...

Mas ele já havia saído. Os olhos de Paige estavam arregalados quando ela se virou para mim e escorregou pelo banco — Têm um ônibus lá fora. Capotado no píer. A frente parece uma sanfona gigante.

— Você viu o que aconteceu?

Ela sacudiu a cabeça.

— A chuva estava muito forte.

— Você poderia, por favor, vigiar o meu pai? — perguntei, vasculhando a mochila. Encontrei o celular e informei a polícia sobre o acidente. Depois de desligar, pulei para trás e fiquei de joelhos no banco, ao lado de Paige.

A parte traseira do ônibus estava pendurada na beirada do píer perto do aquário. Era difícil dizer o que teria causado o acidente, já que dúzias de carros lotavam a estrada na frente do píer naquele momento. Muitas pessoas se aproximaram do ônibus para tentar ajudar, e outras estavam ao lado de seus veículos, falando ao telefone e gesticulando freneticamente. A polícia não levou muito tempo para chegar e as ambulâncias vieram em seguida. E depois, os caminhões dos bombeiros. Meu pai conversou com vários oficiais, aparentemente dizendo-lhes o que havia testemunhado.

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