Na manha seguinte, fui ver como estava Paige que ainda dormia, como quando eu chegara em casa na noite anterior. Depois, conversei um pouco com meus pais durante o café, e, em vez de caminhar até a escola, peguei o ônibus para o sul de Boston. Willa não estava me esperando, e eu não tinha o telefone dela para ligar antes de chegar mas eu precisava ir a algum lugar. E encarar Parker naquele dia seria impossível, especialmente porque parte de mim ansiava por vê-lo de novo e recomeçar de onde havíamos parado antes de eu correr para casa sem nem me despedir. Além disso, não imaginei que Willa fosse se importar com uma visita sem aviso.
Também não imaginei que ela pudesse não estar em casa. Fiquei parada na varanda, tremendo com o frio da manhã e batendo na porta. Esperei por vários segundos, então tentei novamente. Quando vi que a porta permanecia fechada, inclinei-me por cima da grade de ferro e bati na janela. Através cortina fininha, vi que a sala estava vazia. Imaginando que ela devia ter saído para nadar, senteime no primeiro degrau para esperar. Peguei o celular na mochila e, pela milésima vez desde que vira o carro de Simon se afastar na noite anterior, chequei minhas mensagens.
— Bom dia, flor do dia.
Ergui os olhos. Um homem de meia-idade sorria para mim pela janela aberta de um caminhão do Departamento de saneamento, estacionado do outro lado da rua.
— O que uma coisinha linda como você está fazendo nesta parte da cidade?
Olhei para baixo, segurei o telefone no ouvido e fingi estar escutando alguém do outro lado da linha.
— Precisa de uma carona? — perguntou o colega do homem. Ele atirou um grande saco de lixo na traseira do caminhão e começou a atravessar a rua, na minha direção.
Com medo de que minha voz os seduzisse ainda mais, sacudi a cabeça e desci correndo os degraus. Um portão de madeira rachado separava o jardim da frente da casa de Willa do quintal, e eu o empurrei, aliviada quando ele se abriu sem muita resistência. Fechei o portão e encostei uma pesada mesa de ferro nele, só para garantir. O quintal de Willa era, na verdade, um pátio. Como o interior da casa, era organizado e simples, e havia uma mesa de jantar e cadeiras e alguns vasos com flores murchas. Uma estreita escadinha de madeira levava à porta dos fundos. Quando me sentei em uma das cadeiras, minha cabeça começou a latejar, e então parou. Alguns segundos depois, aconteceu de novo. Não doeu, mas certamente houve uma pressão, como uma vela pulsando na minha testa.
E só o estresse... Você esta angustiada e seu corpo esta reagindo...
Tentando relaxar fechei os olhos e respirei fundo. O latejar voltou com mais força, mais rápido. Abri os olhos e procurei uma garrafa d'água na mochila. Eu estava tomando um grande gole quando notei cortinas cor de creme flutuando para fora de três janelas abertas no segundo andar. O tecido subia e descia, como se tivesse sido apanhado por uma rajada de vento, mas não havia vento. Não havia sequer uma brisa. O ar frio estava totalmente parado. E, o que era mais estranho, cada vez que as cortinas subiam, minha cabeça latejava. Quando elas flutuavam de volta para a janela, a pressão diminuía.
Pulei da cadeira e corri pelos degraus. Apesar de a porta dos fundos estar trancada, a janela ao lado estava entreaberta. Apoiando-me na grade, empurrei a velha janela até que ela cedeu alguns centímetros e consegui deslizar a mão para dentro. Eu estava longe demais para alcançar a maçaneta, mas, usando as pontas dos dedos, consegui abrir a tranca. Saí da grade e abri a porta pelo lado de fora.
Eu só estivera na sala da casa de Willa, mas encontrei as escadas facilmente, nos fundos de uma pequenina e imaculada cozinha. Detive-me por um instante no pé das escadas, com medo do que encontraria no segundo andar, mas o latejar aumentou e eu continuei. Se Willa estivesse encrencada, se as sereias tivessem vindo atrás dela depois de descobrirem que ela estava se comunicando comigo, eu tinha de fazer tudo que pudesse para ajudá-la. Mesmo que isso significasse enfrentar Raina e Zara.
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Encanto
FantasyAutora: Tricia Rayburn Segundo livro da trilogia Sereia. O primeiro se chama Sereia. *Cataloguei como hot para não haver hipótese de entrar no ranking. Não seria justo. Nada tem sido normal na vida de Vanessa desde que ela descobriu que sua irmã fo...