Capítulo 10

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Tchum. Tchum. Tchum. Os passos de Guilherme ecoam na chuva enquanto ele pisa em poças d'água a caminho da casa de Gabriel. A garoa que caí é fina e começou há pouco tempo mas já ensopou suas roupas.

Tudo o que passa na sua mente é que ele precisa correr o mais rápido possível. Quem sabe assim ele não consegue clarear um pouco sua mente confusa.

De repente ele parou. Guilherme percebe que entrou na rua errada. O garoto então dá meia volta, e com as pernas já ardendo pelo esforço, encontra o caminho certo.

Bate na casa do amigo rezando silenciosamente para que ele atenda a porta e não sua mãe. Após alguns segundos e algumas batidas incessantes, a porta se abre e por sorte é Gabriel quem se surpreende com o súbito visitante.

Já passou da meia noite e Guilherme está com as vestes pingando e com o cabelo encharcado caindo sobre os olhos. Por baixo dos fios castanhos rebeldes que formam uma cortina na sua visão, algumas lágrimas se formam. Lágrimas que estavam sendo seguradas até esse momento.

-Cara, que horas são?- Gabriel pergunta confuso e sonolento. Deve ter acordado agora.

-Eu... Desculpa...- sua fala é interrompida por uma súbita onda de soluços.

-Qual é o problema com você?- Gabriel meio hesitante gesticula para que o amigo entre na residência.

Guilherme olha para suas roupas pingando e nega com a cabeça o convite para adentrar na casa. Mesmo assim, Gabriel o pega pelo cotovelo e o puxa para dentro e logo depois fecha a porta.

-Por que você está aqui a essa hora?- ele pergunta.

-Eu estava em uma festa com a Vitória... Não sei... Tinha álcool lá... E... Eu li a carta do meu pai... Aí eu precisava clarear a minha cabeça... Só que a Vitória disse não lembro o quê... Aí eu vim pra cá...

-Essa foi a pior resposta que eu já ouvi na minha vida- Gabriel ri de leve e depois continua: -Pelo que entendi você está bêbado e confuso. O que que tinha na carta?

-Meu pai... Ele disse tanta coisa... Eu não sei o que pensar direito e aí a Vitória... Ah! Eu estou tão confuso!- Guilherme bate em sua própria cabeça com o punho.

-Você está bêbado- Gabriel responde, finalmente entendendo a situação.

-Sim, mas não. Esse não é o ponto, Gabriel!- Guilherme responde sussurrando de forma enrolada.

-Eu entendi. Venha, você tem que tirar essas roupas molhadas. Depois a gente conversa mais- ele estende a mão para o amigo.

-Eu não sei por que eu vim pra sua casa. Desculpa.

-Tudo bem. Vem comigo.

Guilherme vai com o amigo e deixa uma trilha de água pela escada sem iluminação além dos repetidos pedidos de desculpa pelo incômodo que está causando. Chegando no andar de cima, Gabriel abre a porta do banheiro, acende a luz e liga o chuveiro. Deixa o amigo ali enquanto vai buscar roupas para ele.

-Aqui está- entrega uma muda de roupas para o bêbado- Tome um banho e depois a gente conversa, tá bom?

Guilherme assente e fecha a porta do banheiro para fazer o que lhe foi pedido. Quando fica sozinho debaixo do chuveiro quente, sua cabeça volta a funcionar gradualmente. Merda.

-Ah, não, não, não. Por que eu vim pra cá? Droga...

O Garoto Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora