Capítulo 4

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-Eu acho que seria uma ótima idéia. Guilherme pode começar as sessões amanhã mesmo.

Ao escutar a mãe dizendo essas palavras, tudo o que o garoto mais queria era desaparecer dali, se enfiando em um buraco tão fundo no chão que ninguém mais fosse capaz de lhe encontrar pelo resto da vida.

Por que a escola se importa? Por que chamaram a mãe dele? Ele não precisa desse grupinho inútil e desnecessário. Não tem nada de errado com ele.

-Mas, mãe...

-Que ótimo que a senhora também pensa assim. Já vou fazer a inscrição dele no grupo agora mesmo- o orientador escolar, Marcelo, disse com uma animação anormal na voz.

E assim foi feito.

No dia seguinte, a primeira sessão de Guilherme foi logo depois do fim das aulas. Ele e mais um grupo desconhecido de outros adolescentes foram orientados a se reunir junto ao orientador da escola numa espécie de reunião de apoio.

Andar pelos corredores despercebidamente é fácil. Gorro na cabeça, mochila nas costas, olhar baixo. Simples. O problema é na hora de entrar naquela sala. Todos os olhares dos alunos participantes de aula extracurricular se voltam para o novo membro do clube dos esquisitos.

O espaço é uma sala de aula normal com as mesas organizadas em um semicírculo. A sessão parece já ter começado faz um tempo. Guilherme enrolou o máximo que pode no almoço para não ter de vir aqui no período da tarde.

A atenção recebida lhe incomoda muito e, com certo esforço, se dirige a mesa mais isolada do lugar e senta-se em silêncio total. O orientador de ontem lhe apesenta para o resto do grupo composto por 4 outros jovens, cujos nomes Guilherme não prestou atenção.

Cada pessoa naquele lugar é de um jeito diferente. Tem uma garota gótica, dois garotos aparentemente normais e uma outra garota com faixas nos braços. Essa última, é a primeira a falar. De um em um, os jovens têm de compartilhar suas histórias e experiências pessoais.

A garota com faixas brancas nos pulsos, provavelmente curativos, conta uma história de raiva guardada, traumas de infância e sensação de vazio, que a levaram a uma tentativa de suicídio.

Um dos garotos de aparência normal, conta de como vem encarando o divórcio dos pais e das dificuldades que encontrou em se adaptar nessa nova escola.

O outro garoto conta a dificuldade que tem sido conviver com déficit de atenção e crises de ansiedade.

A gótica resume em poucas palavras a inutilidade que era estar aqui.

Quando o orientador de meia idade e  sem vida pessoal pergunta a Guilherme sobre o que ele quer compartilhar, o garoto tenta desesperadamente não ser obrigado a falar, mas não funciona.

Depois de pensar muito, responde:

-Não tenho histórias como o resto de vocês. Não passei por situações difíceis e não encaro nenhuma doença. Sou tímido e não gosto de falar com as pessoas. Só.

Todos na sala suspiram em clara desaprovação a ele. O orientador dá um meio sorriso em direção ao garoto como que incentivando que ele contasse mais.

Guilherme apenas respira fundo e volta a se sentar em sua cadeira. Não serão algumas palavras tristes e um pedagogo fracassado o suficiente para que o garoto se abra para as outras pessoas.

O Garoto Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora