Melanie

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Melanie estava voltando para casa depois de um dia de aula. Na escada de seu prédio esbarrou com um garoto de sua sala. Ela o reconheceu de canto de olho. Parecia apressado e ansioso. Melanie nem lhe perguntou o que havia de errado. Por que ela faria isso? Aquele garoto era o esquisito da sua classe. Ninguém falava com ele.

O adolescente fez contato visual com ela. Seus olhos estavam tristes e pediam por algum tipo ajuda. No entanto ninguém parecia notar. Ninguém parou para perguntar o que havia de errado. Melanie passou reto por ele. "Que aberração", pensou.

E logo se sentiu mal por pensar assim.

Guilherme não era apenas qualquer garoto esquisito de sua sala, ele já fora seu único amigo muitos anos atrás, ele é o filho da namorada de seu pai que há muito tempo não conhecia o amor de novo. E acima de tudo, ele era uma pessoa com sentimentos e que claramente precisava de ajuda.

-Guilherme!- chamou por ele, antes que ele alcançasse o topo do escada.

O garoto virou-se com os olhos inchados e respondeu fracamente:

-O quê?

-O que aconteceu?- ela perguntou, realmente se preocupando e se permitindo sentir empatia por alguém que precisava de ajuda.

Guilherme a encarou por alguns longos segundos, surpreso, em choque, com os olhos brilhando com suas próprias lágrimas. Ele passou a mão direita por seus cabelos, nervoso, hábito que havia pego de Gabriel, e até fez menção de continuar andando até seu apartamento, mas ficou ali parado.

Já Melanie manteve uma postura firme, sustentando seu olhar genuíno, fazendo questão de demonstrar sua preocupação enquanto subia os degraus da escada até o segundo andar, parando do lado de Guilherme, aproximando-se para lhe oferecer um ombro amigo.

E então ele falou. Mesmo que fosse para a pessoa mais improvável possível, mesmo que fosse para a pessoa que ele menos gostava na escola, ele se permitiu falar e chorar, enquanto Melanie verdadeiramente ouvia.

De repente, o mundo não parecia tão pesado assim, quase dava para aguentar esse peso. De repente, ele se deu conta de que as coisas podiam melhorar, não seria da noite para o dia, mas havia essa possibilidade. Ele escolheu essa possibilidade.

Mesmo que daqui para frente ele tivesse de reaprender a viver sem seu pai, mesmo que tivesse de lidar com seu primeiro coração partido, mesmo que tivesse que enfrentar uma escola inteira, mesmo que tivesse acabado de descobrir que lidar com as coisas sozinho era pior do que se houvesse alguém ao seu lado.

Quanto ao final desse história, cabe ao leitor escolher qual final prefere, afinal esse livro, assim como tudo na vida, se resume às escolhas que fazemos.

O Garoto Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora