O Garoto Ao Lado

Marcelo

Sentado na cadeira em frente à mesa da diretora, o professor Marcelo tenta digerir a notícia da morte de um de seus alunos enquanto a surpresa e o luto invadem simultaneamente seu peito.

-Não entendo! O que fizemos de errado? O que deveríamos ter feito?- perguntou com a voz sussurrante.

-Não acho que ficar procurando onde foi que erramos vá adiantar alguma coisa- a diretora respondeu, claramente cansada e de ressaca.

-Adianta, sim! Quero saber onde eu errei com aquele garoto! Ele deve ter dado alguns sinais! Deve ter tentado pedido ajuda! A gente só não viu!

-Não! Para de se culpar, Marcelo!- até parece que ela seguia o próprio conselho- Já foi! Ninguém queria que isso acontecesse. Ninguém pediu por isso. Temos de aprender a lidar com esse sentimento de culpa! O mais rápido possível...

-Mas... Só não faz sentido! Ele estava melhorando tanto!

-Você acha que eu não sei disso?! A morte desse garoto vai ficar para sempre nas nossas costas e nas costas de todas as outras pessoas que o conheciam. Todos vão se perguntar: Oh, o que poderíamos ter feito?

Fez uma pausa para respirar, levantou da cadeira e continuou:

-Tudo! Isso é o que poderíamos ter feito. Tantas possibilidades... Mas a gente falhou com ele. Ele falhou com ele mesmo. Ele falhou com a gente também. Mas já foi! Não podemos voltar atrás! Eu sinto muito.

Maria Clara se sentou novamente em sua cadeira e voltou a fazer anotações em seu caderno para tentar se acalmar um pouco até que a voz do professor lhe dispersou:

-Não sei mais o que fazer...

-Eu sei. Sei bem como você está se sentindo- ela o interrompeu antes que ele pudesse terminar a frase.

-Ele tinha a vida inteira pela frente...

-Eu sei- sussurrou em resposta.

Quando as lágrimas estavam prestes a vazar dos olhos de Maria também, ela se recompôs e se colocou ao lado do amigo de longa data. Com a mão direita, afagou as costas dele e permitiu que ele tivesse seu momento de luto.