Capítulo 12

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Depois de tanto tempo, o que ele quer? Por que ele só entrou em contato agora? Quem ainda manda cartas para as pessoas? Não estamos no século XIX!

A festa estava lotada. Uma música animada toca na caixa de som, e o barulho de pessoas conversando e se divertindo é alto. Vitória está por aí conversando com algumas amigas.

Guilherme até veio para festa, mas sua mente está em outro lugar. Nesse exato momento, ele deseja voltar no tempo e nunca ter vindo para cá.

-Ei! Você está se divertindo?- a voz de Vitória atravessa o cômodo até o canto onde Guilherme está.

-Hum... Sim, claro.

Ele se vira para ir em direção a ela para pedir sua permissão para fugir dali, mas dá de cara com uma parede humana que derruba sua bebida inteirinha em Guilherme.

-Foi mal, cara...

Guilherme apenas faz um gesto afirmativo com a cabeça e muda sua rota para a fila do banheiro. Desvia o olhar da imagem do garoto magro e pálido que lhe encara de volta no espelho com olhos fundos e maçãs do rosto bem delineadas.

Ele esfrega seu suéter e sua calça jeans com água e sabão e com o auxílio de alguns pedaços de papel higiênico.

Enquanto trabalha em se limpar, o garoto nota uma pequena elevação em seu bolso direito. É a droga da carta!, pensa. Ele a tira do bolso e a apoia sobre a pia. Agora não é uma boa hora para lê-la.

Seu olhar passa de sua camiseta manchada para a carta. Ah, que se dane! Batidas impacientes soam na porta e Guilherme as ignora. Ele retira a folha de papel do lacre já rompido e a estuda antes de começar a ler.

"Guilherme,

Não desperdiçarei seu tempo com cumprimentos ou dizendo o quanto senti sua falta. Tentarei ser o mais objetivo possível.

Pois bem, faz anos que não te vejo. Não vi você crescer e no seu ponto de vista, não há um motivo pelo qual fui embora.

Sei que deve ter sido difícil para você naquela época. Você era apenas uma criança. Mas acredite em mim quando digo que você cresceu bem melhor sem a minha presença. Sejamos sinceros, nunca fui um bom pai para você.

Sua mãe engravidou quando eu era apenas um moleque no meio da faculdade de direito. Eu não sabia o que queria da minha vida e não estava preparado para criar uma criança.

Você cresceu e eu não era capaz de ser um pai para você. Eu não conseguia brincar ou mimar meu próprio filho. Eu te culpava pelo meu fracasso. Eu descontava em você e na sua mãe as minhas frustrações.

O tempo foi passando, sua mãe finalmente se divorciou de mim e eu percebi que não sabia mais o que fazer. Eu me sentia constantemente irritado e pressionado e frustrado. Tanto, que depois de um tempo parei de sentir as coisas.

Eu comecei a ir semanalmente a um psicólogo mas não adiantou nada. Seu avô estava bravo comigo porque eu só sabia lhe pedir dinheiro e era incapaz de construir uma vida própria. Sua mãe tinha cansado de mim. Mas não posso culpá-los.

Uma noite, quando minha cabeça não conseguia me deixar dormir, eu tomei vários comprimidos e deitei no sofá na esperança de nunca mais acordar. Acontece que seu avô me encontrou.

No hospital, sua mãe veio me visitar e disse que eu tinha que me consertar o mais rápido possível pelo bem do nosso filho. Eu era egoísta demais para pensar além de mim mesmo. Ainda sou egoísta.

Eu vendi o meu apartamento (presente do seu avô) e fui embora. Quando voltei, tentei entrar em contato com você, mas você já estava grande o suficiente para recusar minhas ligações.

Não estou pedindo pelo seu perdão, porque apesar de tudo, não me arrependo das minhas escolhas. Mas eu gostaria de agora poder conhecer meu filho. A decisão é sua.

Grato,

Papai."

O Garoto Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora