Capítulo 29

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Vitória, apesar de ter descoberto a verdade sobre Guilherme, em nenhum momento se afastou dele, pois no fundo já sabia dos sentimentos dele por Gabriel. Sabia e não via nada de errado nisso, somente achava errado a parte da mentira.

Não achava necessário que Guilherme tivesse mentido para ela por todo esse tempo, ela o apoiaria, pois a amizade deles ia além do breve namoro que tiveram. Portanto quando Guilherme se afastou das pessoas, passou a ser mal visto nos corredores e teve seu nome envolvido em fofocas, ela ainda tentou ajudá-lo.

Mas a questão é que, envergonhado, deprimido e quebrado, Guilherme a afastou cada vez mais, não permitindo que ela se aproximasse, ignorando-a e fugindo dela. E assim a amizade deles foi se desgastando, mas Vitória em nenhum momento deixou de se preocupar com ele.

-Você sabe por que tenho essas cicatrizes em meus pulsos?- ela perguntou para ele em determinado dia.

-Por que você tentou se matar?- ele responde friamente. Internamente se xingava de todos os nomes possíveis.

-Não só. Eu gosto de cicatrizes. Gosto de marcas nas pessoas, acho que isso as torna humanas. Significa que elas têm sentimentos e problemas, e elas lidam com tudo isso da forma como conseguem. Essa foi a forma que eu encontrei por um certo tempo. Eu amo essas cicatrizes. Elas são parte de mim. Elas me tornaram o que eu sou hoje.

-E o que isso tem a ver comigo?- Guilherme disse secamente, mas sentindo-se um lixo por dentro por causa disso.

-Eu percebi que existem outras maneiras de lidar com as coisas. Percebi que eu não precisava ficar sozinha e que eu não precisava esconder minhas cicatrizes. Não mais. Descobri que se eu parasse de julgar a mim mesma, o resto das pessoas também eventualmente parariam.

Ela começou a engasgar com as palavras ao suplicar:

-Por favor, não me afasta da sua vida... Você não precisa ficar sozinho, Gui!

-Mas eu escolhi isso. É tarde demais- Guilherme sussurrou.

-Esse é o legal de ser humano. A gente sempre pode voltar atrás em nossas escolhas. De um jeito ou de outro.

Sem dizer mais nada, ele se virou e saiu andando na direção oposta de Vitória, acelerando o passo quando as lágrimas começaram a escorrer no seu rosto.

Completamente sozinho, em parte por opção própria, sendo alvo de bullying, sem aceitar ajuda das pessoas, se recusando a conversar com a própria mãe, Guilherme estava selando seu próprio destino, e não conseguia enxergar isso.

Até que em um dia, uma tarde que parecia ser pior que todas os outras, que parecia ser insuportável demais continuar dessa maneira, quando a ansiedade e seus demônios saíram vitoriosos dessa constante luta e aqueles fiapos de esperança ao qual ele se agarrava foram cortados, Guilherme acabou com tudo.

O Garoto Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora