Capítulo 14

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A chuva não para de cair e rapidamente as roupas de Gabriel, que Guilherme pegou emprestadas,
vão se encharcando. O caminho para o hotel é confuso, mas ele se lembra de já ter passado na frente dele de carro.

Andar pela rua deserta e molhada no meio da madrugada é tudo menos o que ele desejaria estar fazendo agora. Pena que fazer isso é mais importante que seu próprio conforto.

O endereço estava escrito no verso da carta e bastou uma pesquisa básica no Google para confirmá-lo. O asfalto preto por conta da água da chuva faz parecer que a rua é muito mais larga e funda do que realmente é.

A sombra de uma tosse começa a ser formar em seus pulmões e suas pernas reclamam por causa do esforço físico. Essa foi uma decisão tomada de última hora e portanto, não planejada e consideravelmente inconsequente.

Sua mãe não sabe de sua decisão de contatar o pai. E por que deveria saber?, pensou Guilherme. Ele nem havia contado a ela sobre a carta.

Como será que ele é? Faz uns 4 anos que o garoto não via o próprio pai. Por que estou fazendo isso mesmo? Por que quero encontrá-lo? Perguntas sem repostas.

O letreiro do hotel surge no fim da rua e Guilherme segue até lá. É um lugar pequeno e pouco aconchegante, e assim que ele pisa no hall da hospedaria, um homem de meia idade se aproxima.

-Gostaria de alugar um quarto, senhor?- pergunta.

-Não, obrigado. Quero visitar um hóspede. Seu nome é Martin Fonseca.

-Ah, sim, claro- a decepção do homem ao não obter mais um hóspede é evidente, e seu sorriso e modo acolhedor desaparecem, dando lugar a uma carranca ao notar as roupas pingando do garoto.

-Ele está no quarto 208.

-Obrigado- Guilherme caminha até as escadas com medo de que se pegar o elevador, o homem irá matá-lo.

Caminha por um corredor comprido e escuro, iluminado apenas por precárias lâmpadas posicionadas a uma calculada distância umas das outras. Suas pegadas molhadas são abafadas pelo carpete velho.

Quando chega na porta do quarto, bate quatro vezes antes de ser atendido. A porta se abre com um gemido. Guilherme se assusta com o barulho. Mas a pessoa na sua frente é ainda mais assustadora.

-Pai?

O Garoto Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora