Maria

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O funeral ocorre no cemitério da periferia da cidade. Dezenas de alunos e pais circulam pelo ambiente carregando em seu semblante uma tristeza imensurável.

O preto vaga pra todo lado. No centro da sala há uma caixa de madeira na qual o corpo de um adolescente de 16 anos jaz imóvel. Um padre faz uma cerimônia para todos ali. Apenas alguns familiares se levantam e dizem algumas palavras sobre aquela garoto.

Várias pessoas deixam algumas lágrimas escaparem, enquanto que outras apenas observam tudo em silêncio. Maria preparou um pequeno texto para dizer na ocasião. Na sua vez, ela se levanta e se dirige até o pequeno altar para dizer algumas palavras:

-Nós vemos nosso adolescentes do jeito que queremos ver. Do jeito que nós éramos. Mas na realidade, essa é a idade mais difícil da vida. Eles estão descobrindo como o mundo funciona. Eles vivem tudo de maneira mais intensa. Na realidade, a sensação de infinitude que eles sentem é uma mera ilusão. Eles são crianças embarcando na vida adulta monótona e chata. Eles são frágeis. Eles são sensíveis.

Ela faz uma pausa para respirar fundo e continuar. Maria optou por dizer coisas mais generalizadas, nada muito pessoal relacionado ao falecido. Ela não queria desperdiçar o tempo das pessoas ali mentindo e citando coisas boas sobre aquele garoto que ela nem sequer conhecia de verdade.

-Nossos jovens vivem sob uma constante pressão da sociedade. Pressão para seguir um futuro pré-determinado. Pressão para agirem de uma certa maneira. Pressão para se encaixarem em algum lugar. Em meio a tudo isso, eles ainda têm que descobrir a si mesmos. Não é uma fase fácil. Mas é apenas uma fase. É com pesar que um aluno nosso, um colega de classe, um filho, um amigo, uma doce e jovem alma, tenha sido eternizada nessa conturbada fase. Descanse em paz, Guilherme Fonseca.

O Garoto Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora