Capítulo 17

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Algumas semanas depois de visitar seu pai no meio da noite, Guilherme não foi mais atrás dele e nem o pai foi atrás do filho. Martin continua na cidade a trabalho, mas não quer forçar uma relação com o garoto.

Quanto ao beijo, Gabriel e Guilherme chegaram no desconfortável acordo de nunca mais falar do ocorrido.

"Guilherme é quem se afasta primeiro. Seu rosto molhado está quente e provavelmente corado também. Gabriel está nervoso e inquieto. Ambos estão extremamente desconfortáveis.

Depois daquele primeiro contato entre as bocas, eles se afastaram para recuperar o fôlego. E então, retomaram de onde pararam, dessa vez um pouco menos tímidos que antes. A chuva ao redor de seus corpos unidos continuava a pingar preguiçosamente.

-Por que você me beijou?- Guilherme perguntou.

-O quê? É... Não sei- De repente, o asfalto molhado se tornou um lugar muito agradável de observar.

-Por quê?- insistiu.

-O quê?- Gabriel repetiu.

-Pare de falar a mesma coisa!

As emoções e a cabeça de Guilherme se resumem a uma complicada e emaranhada bagunça de sensações estranhas e pensamentos confusos.

-Desculpa. Hã... Será que... a gente podia esquecer isso?- Gabriel disse.

-Então por que você fez isso, em primeiro lugar?

Nenhum dos dois conseguia olhar nos olhos do outro. Como se tivessem feito algo errado. Mas não foi errado, foi apenas inesperado. Guilherme pelo menos sabia disso.

Gabriel reagiu com agressividade, se afastando.

-Já disse que não sei! Não foi nada de mais, não é mesmo? Só fiz aquilo porque você parecia estar triste... Sei lá! Vamos esquecer isso, ok?"

Enquanto caminha em direção ao grupo de apoio daquele dia, Guilherme começa a notar um clima pesado pairando pelos corredores.

Quando entra na sala, 10 minutos atrasado, percebe que alguma coisa ruim aconteceu. Todos estão em silêncio total com expressões pesadas nos olhos. Ignorando o fato momentaneamente, Guilherme bate na porta para anunciar sua chegada.

-Professor, desculpe pelo atraso...- Marcelo o observa com olhos triste- O que aconteceu aqui?

Mais três pares de olhos tristes se voltam para ele.

-Noite passada, por causa daquela forte chuva, houve um acidente de carro e Rafael não... não sobreviveu.

Um flash do rosto de Rafael, meio ofendido, ao descobrir que Guilherme não sabia seu nome, vem à mente de Guilherme. Ele olha ao redor e percebe que quem mais está sofrendo ali é Vinicius.

Apesar de não ter sido amigo do falecido, a notícia o entristece. Pensar que aquele garoto que até ontem estava vivo, hoje é apenas um número, é arrasador. Agora, Rafael virou um número de uma estatística. Ou mais de uma.

Estatística de pessoas falecidas antes de completar 18 anos. Estatística do número de óbitos em acidentes de estrada. Uma vida que virou apenas um número. Um número entre milhares de outros. E apenas uma lembrança de quem um dia ele foi.

O Garoto Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora