Capítulo 9

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-O quê?- Guilherme perguntou a Gabriel quando percebeu que este o encarava. Ele percebia facilmente quando estava sendo observado e odiava a sensação.

-Nada...

Ele deu um soco de brincadeira no braço do amigo de olhos verdes.

-Fala logo!

Os dois estavam voltando da escola juntos e indo até a casa de Gabriel para fazer a sessão de filmes, mas por algum motivo desconhecido, Gabriel estava anormalmente calado até agora.

-Por que você não fez nenhum comentário do livro da aula de literatura de hoje?- Gabriel enfim perguntou.

-Porque toda vez que eu fico empolgado com um livro, você me manda parar- respondeu ele, um pouco ressentido.

-Não! É que eu não gosto muito de livros, mas é engraçado ver você falando deles. Eu meio que me acostumei- Gabriel comentou rapidamente.

Guilherme suspirou.

-Hoje não estou muito a fim...

-O que foi?- Gabriel lhe deu um fraco cutucão no ombro direito, na esperança que o amigo se abrisse.

Não funcionou.

-Não sei.

Gabriel parou de andar e colocou a mão direita no rosto de Guilherme, forçando-o a olhar para ele, apesar da diferença de altura significativa. Guilherme devia ter 1,88, mas não aparentava por conta da magreza de seus membros delgados. Já Gabriel era mais forte, treinava quase todos os dias, no entanto perto do amigo era baixo.

-Fale.

-Meu pai me mandou uma carta- Guilherme teve de admitir quando seus olhos encontraram com aquele par de olhos verdes profundos com manchas douradas salpicadas que contrastavam com a cor quase negra de seus cabelos e sardas.

-Seu pai?- Gabriel estava claramente confuso. Nunca tinha visto o pai dele. Nunca nem ouvira o amigo falar dele.

-É. Ele tinha ido embora. Agora voltou. Por isso você não sabia dele- respondeu às dúvidas do amigo.

Gabriel não sabia se era a coisa certa a perguntar porém se atreveu:

-Por que ele foi embora?

-É complicado. Acho.

-Se algum dia quiser conversar sobre isso, estou aqui.

-Eu sei- afastou a mão de Gabriel e voltou a caminhar.

Guilherme ainda não tinha aberto aquela carta mas ansiava para saber o conteúdo dela. Ainda não a tinha lido por medo. Medo do que ele deveria esperar de um pai ausente. Medo de se machucar.

Gabriel voltou a caminhar também, sem fazer mais perguntas. Sua mente egoísta estava pensando em outra coisa que não o pai de Guilherme. Por que ele sentiu vontade de tocá-lo naquela hora? Vontade de abraçá-lo e de acabar com suas frustrações?

O Garoto Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora