(apartment 37)

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Nas duas horas que se passaram desde que chegara ao apartamento, ele ficou abrindo caixas, retirando coisas e mais coisas de dentro delas e as colocando em qualquer espaço vazio que visse pela frente. No entanto, quanto mais arrumava, mais caixas surgiam.

Assim como todos os outros cômodos, a sala estava uma bagunça. As caixas de mudança estavam espalhadas por todo o lugar. Só havia um caminho entre elas, direto em frente, até a porta, pouco mais largo do que uma pessoa.

Daniel se endireitou ao ouvir a campainha do novo apartamento. O som era mais estridente do que o suave ding dong da casa dos pais, fazendo com que se levantasse de sobressalto e fizesse uma careta pelas pontadas de dor que o som causara em sua cabeça. Amaldiçoando-se mentalmente por ter bebido tanto na noite passada.

Ele soltou com breve suspiro ao ouvir a insistente campainha novamente, a pessoa que estava na porta na porta parecia não poder esperar, e fez seu caminho até a porta, desviando de alguns objetos e caixas abertas espalhados pelo chão.

A pele arrepiou-se ao tocar o metal frio da maçaneta e abriu-a com um suave click. Havia uma garota na porta dele, com uma das mãos apoiadas na cintura, enquanto a outra se mantinha levantada no ar a milímetros do botão da campainha.

Ela vestia uma blusa de moletom preta dois números maior, que iam até o meio das coxas e cobriam a ponta de seus dedos. Os olhos tão brilhantes que ele pensara que a garota havia capturado algumas estrelas e as tivesse guardado em suas íris. O cabelo – tão negro que sob a luz tênue que vinha do apartamento parecia roxo – estava amarrado em um rabo de cavalo e deixava algumas mechas lisas caírem pelo rosto.

Ao vê-lo, ela logo abaixou a mão, afundando-a no bolso da calça jeans velha e mordeu o lábio inferior de um modo adorável, enquanto as bochechas adquiram um leve tom de rosa.

Ele ergueu uma das sobrancelhas, esperando que falasse algo.

"Hum" disse ela, antes de clarear a garganta, quebrando o silêncio desconfortável que se instalara "Pode me emprestar dois cubos de açúcar?".

Daniel ficou surpreso e um tanto quanto intrigado pelo pedido peculiar da garota, e então encarrou nervosamente o bagunçado apartamento. Ele sequer sabia como arrumar as caixas, muito menos onde estava o açúcar.

"Não posso" declarou, por fim, coçando a nuca sem jeito. As bochechas da garota ficaram ainda mais coradas, e ela fez a menção de que iria embora. "Porque acabei de me mudar e eu não sei onde os cubos de açúcar estão." Acrescentou, fazendo-a parar a meio caminho do apartamento.

A garota permaneceu de costas para ele, contudo não moveu um músculo. Ficou assim por alguns instantes. Tempo suficiente para travar uma batalha consigo mesmo, mensurando os prós e os contras em ajudar o novo vizinho.

Por fim, suspirou pesadamente, virando-se novamente para o garoto.

"Eu te ajudo a arrumar seu apartamento" disse ela, fazendo com que ele franzisse o cenho "E em troca quero meus dois cubos de açúcar".

Daniel questionou-se como singelos cubos de açúcar valeriam por horas de arrumação, entretanto assentiu vagarosamente para ela, indicando que concordava. Um sorriso brincou nos lábios dela.

"Aliás" disse quando ele abriu a porta para que ela entrasse no apartamento "Sou Emma".

...

Nas horas de arrumação ao lado de Emma, os objetos espalhados foram para seus devidos cômodos e as caixas restantes abertas.

Emma soprou uma mecha de cabelo da frente dos olhos, enquanto colocava uma pilha de pratos no armário. Os braços e pernas doíam por toda aquela arrumação, suor escorria pelo o rosto e os fios estavam grudados no pescoço. Apesar do frio que fazia lá fora, o apartamento estava quente e aconchegante.

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