[ESPECIAL] Borboletas

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Desvio o olhar para a paisagem borrada pela velocidade do lado de fora à procura da calmaria no meio da confusão que se instala dentro do carro assim que Madie gira a ignição.

Mentalmente, pondero os prós e contras de ter trocado o conforto das cobertas pela companhia de Madie e do trio furacão: Sally, Max e Jules, seus dois irmãos.

Acabo por entrelaçar minha atenção nas mechas amenas que insistem em cair sobre meus olhos junto ao tênue fio celeste que colore os céus de um azul brilhante marcado pelas nuvens brancas de formas, simultaneamente, semelhantes e desconhecidas, moldadas e levadas em ritmo preguiçoso pelos ventos.

Um suspiro escapa dos meus lábios, instantes antes de sentir uma pontada de dor por um golpe perdido de Max que atinge as minhas costelas, ao mesmo tempo em que Sally inicia mais uma de suas apresentações que havia cessado por alguns minutos devido aos anúncios narrados pelo locutor na rádio.

Max não parece perceber o olhar ácido que lanço em sua direção.

Reviro os olhos quando o garoto repete o golpe, acertando em cheio o ouvido de Jules com um dedo coberto de saliva. As feições dos irmãos estampam respectivamente triunfo e nojo.

Por mais que prós me parecessem convincentes, o dia está belo demais para me esconder na escuridão que permitia que minhas estrelas brilhassem.

Estico meu braço para fora da janela, tentando de alguma forma sentir o respirar do mundo entre os dedos.

Talvez isso me faça bem.

Talvez seja um bom dia para substituir o calor de uma xícara de chá no chalé pelo gosto natural do ar puro em Elter.

Talvez seja um bom dia para substituir o calor de uma xícara de chá no chalé pelo gosto natural do ar puro em Elter

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A cabeça de um urso flutua entre o azul do céu, destacando-se no meio da tela azulada que usou para pintar-se.

Olho para Jules quando o cookie estala ao leva-lo à boca, seus dentes minúsculos sendo pressionados no biscoito, fazendo o som alto de uma chuva forte se aproximando ecoar por entre as bochechas fofas e coradas.

- Não é um urso - discorda ele, ainda de boca cheia. Segundos depois de eu tê-lo dito que havia o encontrado no céu. - É um cachorro.

Olho para ele e depois para a nuvem, que se desmancha de forma graciosa e lenta.

Como uma bailarina no meio de uma apresentação.

Eu dou de ombros, puxando um biscoito para fora do pote de geleia que enfeita a toalha de mesa listrada em preto e branco - furtada da minha avó - que usamos para cobrir a grama e montar o piquenique.

- Podemos ir ao lago agora? - pergunta Max, sua voz envolta pela canção dos pássaros que descansam nos galhos das majestosas árvores em nossa volta. - Jules e eu queremos ver os peixes.

Sally olha para os dois por sobre o copo com suco de laranja que bebia e o abaixa.

- Não sozinhos - ela diz, plantando o copo vazio sobre o tecido preto e branco. - Vou com vocês.

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